Família pede apoio para divulgar obra de Grassmann

Sempre achei que o jornalismo e, agora, mais particularmente, a internet, podem servir à sociedade não apenas com informações e entretenimento, mas ajudando as pessoas a colocar em prática seus projetos de vida.

Foi assim, por exemplo, que contei aqui no Balaio, no ano passado, o drama vivido por Tinoco, da antiga dupla sertaneja Tonico e Tinoco. Aos 88 anos, ele continuava procurando shows para trabalhar e poder sobreviver. Quase mil leitores enviaram comentários e várias pessoas se dispuseram a ajudá-lo. Pelo menos, ele deixou de se sentir tão sozinho nesta altura da sua longa carreira de mais de 70 anos.

Esta semana recebi, e reproduzo abaixo, um apelo enviado ao Balaio por Paulo Grassman, em nome desta família de artistas premiados que agora buscam apoio para divulgar a sua obra. Se alguém puder ajudá-los, a arte brasileira agradece.

Caro Ricardo,

escrevo em nome de 2 pessoas que muito admiro e em nome da Arte.

Sou filho de Roberto Grassmann, um mestre impressor da arte da gravura em metal. Pois é, raras são as pessoas que conhecem o que meu pai faz há mais de 50 anos. Sobre ele posso dizer o seguinte:

Vida ereta, labuta, dedicação que impressiona,
Tempo que passa, no monotom do motor da prensa,
Cheiro de gasolina, cor da tinga, espalmar da placa,
Cumpriu sua sina, criou a família.

No papel molhado, o vai e vem do feltro,
O amor no que faz fica impresso.

Vida, tempo, artistas, tudo passa,
Sua prensa desaparecerá,
Lembranças serão esquecidas,
Mas ele ficará com seu dom impresso
Nas gravuras que imprimiu.

A outra pessoa por quem escrevo é meu “super tio”, Marcello Grassmann. Quem?

Poucas pessoas sabem quem é, mas não há quem não tenha ficado pasmo, admirado, emocionado, quando teve a oportunidade de ver um obra feita por ele. Sobre ele eu digo:

O artista não é nada,
É um igual, nasce, vive, morre,
A arte é distração,
Pequeno prazer, diverte, esquece.

A genialidade é tudo,
Não nasce, existe, não morre, fica,
A genialidade não distrai, pasma,
Impacta, grava na alma,
Grassmann gênio que grava.

Eu tenho 43 anos, meu pai 77 e meu tio 84. Sempre vivemos dignamente, sem luxo, “só” o luxo da arte. Mas por que lhe escrevo? Para pedir sua ajuda na divulgação da edição especial “Gravuras da vida de Grassmann”.

Não tenho intenção de ser piegas. Apenas relato que meu pai vive da minguada aposentadoria do INSS, que vai encolhendo ano a ano, e ainda do trabalho como impressor (quando aparece), trabalho esse “bem pesado”.

Assim tembém vive meu tio Marcello Grassmann, que hoje troca suas obras pelo aluguel do apartamento onde mora, ainda produzindo “arte maior”. Faço esse breve relato para dizer que o Brasil, com sua riqueza e diversidade, tem muito a oferecer para a humanidade.

Para um país que busca cada vez mais um papel de liderança e respeito, o caminho da valorização de seus artistas, a preservação de sua arte, uma política de divulgação da nossa arte maior para o mundo, se faz urgente, necessária, e será mais eficaz na conquista desse respeito do que a compra de arsenais bélicos.

Sobre meu tio Geraldo Ferraz escreveu sobre ele em 1975: “Adstrito aos temas que se desdobraram na fidelidade de sua visão adstringentemente original, entre o visionário e o fantástico, Grassmann paira acima de qualquer discussão. Ele pertence à arte maior.” José Roberto Teixeira Leite, com muita propriedade, acentuou que “Grassmann é deliberadamente arcaico, seu mundo é o de um faizeur de diables, flor perdida no tempo e no espaço do gótico fantástico”.

Quem buscar por Marcello Grassmann na internet terá a oportunidade de conhecer um pouco sobre ele, artista internacionalmente renomado, ele mantém obras nos acervos dos principais museus do Brasil e do Exterior. A Pinacoteca do Estado de S.Paulo possui uma importante coleção de obras anteriores a 1971. Ele destaca-se por ser um dos mais premiados desenhistas brasileiros na história da Arte Moderna. Participou de mais de 300 exposições. Suas obras fazem parte do acervo do MoMA de Nova York, da Bibliothèque Nationale de Paris, do Museum of Fine Arts de Dallas. No Brasil, além da Pinacoteca do Estado, podem ser vistas na Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro, no Instituto Moreira Salles em Poços de Caldas, no MAM-Museu de Arte Moderna e no MAC-Museu de Arte Contemporânea de São Paulo, no Museu de Belas Artes no Rio de Janeiro, no Itamaraty e no Museu Oscar Niemayer de Curitiba.

Voltando da “GRAVURAS DA VIDA DE GRASSMANN”, o motivo desse contato, talvez Grassmann seja o primeiro Grande Mestre na historia da arte a conseguir fazer uma edição especial completa reunindo toda sua obra em gravura em metal, cerca de 200 obras reunidas (conheça detalhes também no blog, www.marcellograssmann.blogspot.com).

Uma edição histórica, de valor artístico inestimável, importante que seja preservada para as futuras gerações, obra de um brasileiro que reconhecidamente está entre os grandes mestres da arte em toda sua história.

E finalmente a família busca um mecenas, apoio de grandes empresários, do nosso governo, quem sabe até o itamaraty (não imagino melhor presente para um chefe de estado por exemplo) para adquirir as 6 edições que a família possui, tanto pelo amparo financeiro, mas também pela arte.

Grato caro Ricardo pela oportunidade de lhe escrever, forte abraço!

Paulo Roberto Grassmann


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