As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) libertaram esta tarde o jornalista francês Roméo Langlois. Correspondente de veículos internacionais como o canal France 24 e do jornal Le Figaro, Langlois estava em poder do grupo guerrilheiro desde o último dia 28 de abril.
Rodeado por soldados das Farc, Langlois foi entregue aos integrantes da missão humanitária coordenada pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha próximo a uma aldeia de La Montañita, no estado de Caquetá, a cerca de 400 quilômetros da capital colombiana, Bogotá.
Ao ser libertado, Langlois afirmou à emissora multiestatal de televisão Telesur, único órgão de imprensa autorizado a acompanhar o resgate, que é necessário que os jornalistas continuem cobrindo o conflito entre as forças do governo colombiano e as Farc.
A Telesur ainda não divulgou o vídeo com as declarações de Langlois, mas adiantou, em seu site, que o jornalista declarou ter sido tratado com muito respeito, sem ter sido amordaçado ou amarrado, e que estava “um pouco cansado”. Ainda segundo a emissora, Langlois lamentou que governo e guerrilheiros tenham explorado politicamente seu sequestro.
Faziam parte da missão humanitária, a senadora colombiana Piedad Córdoba, o emissário do governo francês Jean-Baptiste Chauvin (indicado pelo próprio presidente, François Hollande), e funcionários da Cruz Vermelha, entre eles Jordi Raich, chefe da delegação da entidade humanitária na Colômbia.
Desde terça-feira, dia 29, a imprensa colombiana atribui à senadora Piedad Córdoba a informação de que, embora Langlois more há dez anos na Colômbia, deverá viajar para a França tão logo chegue a Bogotá. Segundo a Telesur, no entanto, o jornalista deve conceder uma entrevista coletiva amanhã (31), na sede da embaixada francesa na capital colombiana.
Langlois foi capturado pela guerrilha quando acompanhava uma operação realizada pelo Exército colombiano contra o tráfico de drogas no sul do país. O sequestro do jornalista foi reivindicado pela Frente 15 das Farc, uma das alas da guerrilha. Sua captura renovou a desconfiança de setores colombianos quanto à promessa da guerrilha de abandonar o sequestro de civis.
O episódio também gerou questionamentos ao trabalho dos jornalistas. Em um vídeo gravado pelas Farc e divulgado pela Telesur na segunda-feira (28), um guerrilheiro identificado como Colacho Mendonza afirma que Langlois usava um jaleco e um capacete do Exército no momento em que militares e guerrilheiros se enfrentavam. Ferido com um tiro no braço esquerdo, o jornalista teria, segundo Mendonza, se entregado para salvar sua vida.
À BBC Brasil, especialistas disseram considerar que as Farc não haviam premeditado o sequestro do jornalista. “Houve certa confusão pelo fato de Langlois estar com alguns trajes do Exército. Pelo Direito Internacional Humanitário, o uso de uniformes é restrito aos atores do conflito. Se um civil usa um uniforme, ele perde o status da proteção civil”, avaliou jornalista Maria Victoria Duque, diretora do Instituto de Análise Razão Pública.
Já o cientista político Victor de Currea-Lugo, da Pontifícia Universidade Javeriana, destacou que Langlois foi capturado em meio a um conflito em que, segundo fontes oficiais, quatro militares morreram e oito ficaram feridos. “As Farc não foram atrás do jornalista, mas se a guerrilha tivesse demorado mais tempo para liberá-lo, aí sim, poderíamos tratar a captura como sequestro e colocar em dúvida a decisão do grupo”, afirmou Currea-Lugo.
Agência Brasil
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