Meus caros, não fui a Paraty, mas procurei alguma menção à homossexualidade nos relatos de quem esteve na FLIP, e não soube de nada relevante. Não vi nenhum grande nome gay nas listas de palestrantes, e, a bem da verdade, eu mesmo não saberia sugerir alguém. Edmund White talvez? Gay Talese, post de alguns dias atrás, já veio, não é gay, mas é até mais high profile que White. Se quisessem mirar mais no público gay, certamente haveria quem botar na mesa. Estar na mídia (definitivamente estamos) não é garantia nenhuma de estar na literatura contemporânea.
Mídia por mídia, mais um post sobre cinema. Esbarrei na declaração do ator norte-americano Harry Hamlin, de que ter feito o papel de um homossexual no filme Making Love, em 1981, realmente não ajudou sua carreira, mas que ele o faria novamente. Foi um Brokeback Mountain, 25 anos adiante de seu tempo, ainda na era pré Aids. O filme conta o romance entre um médico casado e saindo do armário, vivido pelo fofo Michael Ontkean, e Hamlin, gatíssimo na época, cujo personagem era um gay de vida sexual ativíssima. Foi um dos primeiros beijos gays de que me lembro no cinema, as cenas de sexo eram quase angelicais para padrões de hoje, mas é bem feito, e atual, em termos de comportamento gay. “O filme estava 10 ou 15 anos à frente de seu tempo”, diz Hamlin. Talvez mais do que isso. O resultado foi uma bilheteria pífia, o que o matou nos cinemas em pouco tempo. Falo de Hollywood, óbvio, não de cinema europeu. No ano seguinte Fasbinder lançaria Querelle, infinitamente melhor, esse sim um clássico!
A questão é que, em 1981, os atores, os dois heterossexuais, tiveram a coragem de fazer o filme, o que não foi pouca coisa. “70% das pessoas me disseram para não fazer”, lembra ele, e, de fato, ajudar a carreira dos dois o filme não ajudou em nada, mas também não destruiu. Logo em seguida, Hamlin viveu o Perseu da primeira filmagem de Fúria de Titãs, infinitamente melhor que o videogame em 3D que estreou há pouco, estava bárbaro no papel. A partir daí sua carreira no cinema esfriou, mas ele voltou ao sucesso na televisão, com L.A.Law. Ele é mais uma prova que, para um ator, viver um gay, com direito a beijos e tudo, não prejudica a carreira, vejam Jake Gyllenhaal e Ewan McGregor, cinema não é novela de televisão. Quanto à questão dos atores gays poderem sair do armário, ser reconhecidamente gays, e viver papéis masculinos no cinema, aí é outra história, Ian MaKellen que me perdoe. Abraços do Cavalcanti.
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