Feijoada da Brasileiros anima até nosso Waack

Foto: Helio Campos Mello
Guido Mantega, Ricardo Kotscho, Benjamim Steinbruch e William Waack

Com suas olheiras fundas, cabelos cada vez mais grisalhos e um ar permanentemente grave, o arauto das desgraças que já aconteceram e as que ainda estão por acontecer nos finais de noite na Globo, até ele se animou com o alto astral à sua volta.

A crise ficou fora da pauta na feijoada de fim de ano da Brasileiros, nesta tarde de sábado, na casa do fotógrafo Hélio Campos Mello, o dono da publicação, no Alto de Pinheiros.

Sim, estou falando na abertura deste texto do meu velho e bom amigo William Waack, o âncora do Jornal da Globo, um dos mais sérios, cultos e bem informados jornalistas da imprensa brasileira.

Estava tão boa a festa que não dava nem para circular entre a mesa dos comes e o lugar dos bebes. Tinha de tudo um muito lá entre os mais de 100 convidados. Além de jornalistas e publicitários, que não costumam perder uma boca livre, encontrei ministros, empresários, artistas, donos de restaurante, psicólogos e outros ólogos.

Com a mulher, que minhas filhas chamavam de tia Íris quando eram pequenas na Alemanha, onde trabalhei como correspondente na mesma época do William, e seus dois filhos, Leonardo e Carlos, o Waack da Globo deixou por um tempo de lado a pessoa jurídica e se animou com as conversas como pessoa física.

Ao contrário do que se lê e ouve nos noticiários, nada lembrava o clima de fim de mundo anunciado para 2009: as pessoas falavam de planos, projetos, investimentos. Arrumei um papel e uma caneta e aproveitei para ouvir as previsões de alguns deles (blogueiro trabalha até em festa de amigos).

Vamos começar pelo nosso William Waack:

“Não importa a severidade da crise, é uma grande oportunidade para o Brasil abrir os olhos e, com a maior urgência, promover reformas importantes no país. Como estava indo tudo bem, fomos empurrando com a barriga, mas agora espero que elas aconteçam. É uma grande oportunidade que esta crise nos oferece para dar uma freada de arrumação”.

Entre seus projetos pessoais, William pretende aprender a pilotar “um avião que voe mais alto e mais longe” do que o seu monomotor Cessna 172 de asa alta, com o qual começou a voar, faz dois anos.

A seu lado, na mesma roda, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que foi meu colega na assessoria do hoje presidente Lula, quando ainda trabalhávamos no Instituto Cidadania, preparando projetos de governo durante as campanhas, diz para William:

“Você tem muita responsabilidade no que fala na televisão porque a tua palavra influi mais nos mercados do que a minha”. Guido não consegue se livrar da pessoa jurídica e repete o que tem falando nos últimos dias:

“Vamos trabalhar para garantir a manutenção das conquistas que tivemos em 2008. E espero que, em 2009, possamos fazer no G-20, finalmente, a renegociação do sistema financeiro internacional”. Não conseguiu lembrar de nenhum projeto pessoal.

Um dos maiores empresários nacionais, Benjamim Steinbruch, da CSN, presta atenção na conversa e responde na lata quando o ministro Mantega o desafia a anunciar novos investimentos:

“Se o governo desonerar a produção Pretendemos retomar nosso programa de investimentos no próximo ano e espero continuar vendo o povão consumindo, ver a população brasileira feliz”.

Eles continuaram um tempão na roda conversando. Antes que os deixasse em paz, ainda ouvi de Steinbruch um projeto de pessoa física que ele tem para 2009: comprar um veleiro. William, que durante muito tempo foi velejador de fim de semana, dá-lhe umas dicas.

Do magro Nizan Guanaes, ao cada vez mais robusto fotógrafo Pedro Martinelli, capa do número 17 da Brasileiros, a nova edição que saiu ontem da gráfica, levei da casa do Hélio e da Patrícia, meus chefes na revista, pequeno retrato em preto e branco de um Brasil que continua confiando no seu taco, apesar de tudo.


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