Fernanda Torres rouba a cena na Flip

Fernanda Montenegro e
Fernanda Torrez e Daniel Alarcón/ Divulgação

Foi a mesa perfeita para desopilar o fígado. A literatura teve seu papel, mas quem roubou a cena foi Fernanda Torres, atriz, cronista e autora de Fim, romance lançado pela Companhia das Letras. Mesmo admitindo pânico diante da plateia, que pouco antes havia aplaudido de pé sua mãe, Fernanda Montenegro, ela deitou e rolou, contando casos, fazendo piadas de improviso e perguntas para o colega de debate, o peruano Daniel Alarcón, que acaba de lançar por aqui seu segundo e elogiado romance, À Noite Andamos em Círculos (Objetiva).

O público dava gargalhadas e Alarcón saiu-se bem como coadjuvante de luxo, aceitando o espírito sério/cômico da conversa, que escapou totalmente do controle de Ángel Gurria-Quintana, que não pareceu se importar, levando na esportiva e até incentivando a saudável anarquia.

Fernandinha começou contando que seu livro surgiu da encomenda de um conto. Ela havia escrito sobre um velho que morria atropelado e tinha quatro amigos. “Daí fiquei com vontade de matar os outros quatro também.” Disse que frequentemente se sentiu dirigida pelos personagens e perguntou a Alarcón se isso acontecia também com ele. Divertido, o peruano radicado nos EUA disse: “É parte da beleza de escrever não saber o que vai acontecer em seguida. Às vezes eu acordava às três da manhã e dizia pra minha mulher ‘Carolina, o que acontece com o Nelson[protagonista do livro]?’ E ela respondia ‘tá tudo bem com ele, dorme e não ronca.’”

Então foi a vez de Alarcón perguntar a Fernanda como ela achava tempo para escrever. “Gravo o dia inteiro, chego em casa, ponho as crianças para dormir e só então escrevo, das dez à meia-noite. Quando eu durmo, os personagens começam a fazer coisas.” E disse ter ficado surpresa que o livro de seu colega de mesa tratasse de atores e teatro: “são assuntos tão démodé!”. Continuou brincando, com sua voz alta, gestos largos, domínio total do palco: “Meu livro foi criticado por não ter redenção, por mostrar as coisas cada vez piores, mas o livro dele é apavorante! É muito pior!”

Strip-tease
Ambos admitiram as vantagens de se escrever de um ponto distante. Alarcón, eleito um dos 20 melhores escritores norte-americanos abaixo de 40 pela New Yorker, e também presente na seleção de melhores escritores jovens norte-americanos da revista Granta, disse que o país descrito em seu livro “é minha versão imaginária do Peru, é o Peru que me persegue e que eu amo. É bom escrever sobre meu país em inglês, com distanciamento.” O mesmo disse Fernanda sobre narrar do ponto de vista de homens velhos, hedonistas da Ipanema dos anos 50 e 60. Ao que, ela emendou, ironicamente: “Desde que virei escritora, eu entrei para um lugar mais nobre. Há três semanas eu estava fazendo strip-tease. Um ator não vale nada. E um escritor vale muito.” Para em seguida, num momento-pimenta, convidar Alarcón a fazer o seu strip-tease: “El já viene com el perú!”

Declarando-se em crise com a profissão de atriz, ela afirma que “hoje em dia não consigo viver sem escrever. É uma doença, uma forma de expressão da qual não consigo me livrar.” Por sua vez, Alarcón falou que, para escrever esse livro novo, “foram sete anos de tortura. Terminei uma primeira versão no final de 2010. Parei por seis meses para montar um programa de rádio com minha mulher, A Rádio Ambulante, e aí passei quase duas semanas no presídio descrito no livro. Reescrevi tudo em ano a partir dessa experiência.”

Ao final, Fernanda Torres fez uma homenagem a Millôr Fernandes e a João Ubaldo Ribeiro.

 

 


Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.