Fest Aruanda pede passagem

O cinema paraibano produziu não somente grandes intérpretes, como Marcélia Cartaxo, Elba Ramalho, Luiz Carlos Vasconcelos, Zé Dumont e Zezita Matos – esses dois últimos serão homenageados no 6º Fest Aruanda, que acontece de 10 a 15 de dezembro em João Pessoa -, como também grandes rea-lizadores, tanto no documentário quanto na ficção.

O Estado da Paraíba “exportou” cineastas do calibre de José Joffily (outra personalidade do cinema que será homenageada nesta edição), os irmãos Vladimir e Walter Carvalho e o emblemático Linduarte Noronha. A importância de Noronha para o cinema documental moderno brasileiro é seminal. O seu curta-metragem Aruanda, de 1960 – que, pelos seus 50 anos, receberá justa homenagem no Fest Aruanda – fez a cabeça e influenciou a escolha estética de grande parte dos cinemanovistas, inclusive de Glauber Rocha, o mais importante expoente do movimento. “Linduarte Noronha e Rucker Vieira entram na imagem viva, na montagem descontínua, no filme incompleto. Aruanda assim inaugura o documentário brasileiro nessa fase de renascimento que atravessamos… Sentimos o valor intelectual dos cineastas que são homens vindos da cultura cinematográfica para o cinema, e não vindos do rádio, do teatro, da literatura. Ou senão vindos do povo mesmo, com a visão de artistas primitivos, criadores anônimos longe da civilização metropolitana…”, escreveria Glauber em sua Revisão Crítica do Cinema Brasileiro.
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O Coordenador Geral do Fest Aruanda, que é doutorando em cinema pela USP e professor da Universidade Federal da Paraíba, Lúcio Vilar, diz que o evento surgiu de uma inquietação. “Uma inquietação que não era só minha, mas de várias gerações nunca contempladas com um evento que oferecesse visibilidade às produções locais, no trânsito com outras vertentes e cinematografias do País”, afirma.

O festival nasceu como mostra, em 2003, no curso de Radialismo da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Na época, era um evento restrito ao departamento de rádio e TV que contava com um público pequeno, de no máximo 70 pessoas. Dois anos depois, a mostra virou festival. Foi batizado Aruanda, tornando-se nacional em suas categorias competitivas, e não parou mais de crescer.

Muito do sucesso do Fest Aruanda é atribuído à sua curadora, a jornalista e pesquisadora Maria do Rosário Caetano. “Ela começou como uma espécie de ‘madrinha’ e foi ganhando importância a cada edição do festival. Hoje, discutimos tudo, desde a escolha da programação até os temas que serão debatidos nos seminários e quem serão os homenageados”, diz Vilar.

Maria do Rosário sabe da relevância do Fest Aruanda para os profissionais paraibanos envolvidos com cinema, mas reconhece que sua importância vai além do âmbito cultural. O evento contribui também para o desenvolvimento do turismo local – diferentemente de outras capitais do Nordeste, como Recife, Natal e Salvador, João Pessoa tem um turismo menos desenvolvido. “Acredito que João Pessoa, pela beleza de suas praias, pela riqueza cultural e pela hospitalidade de seu povo, só tem a ganhar com o crescimento do Fest Aruanda”, afirma ela.

Para Vilar, trata-se do maior evento genuinamente paraibano de cinema com impacto positivo, inclusive, sobre o fluxo turístico, pois é realizado na alta estação. “A Secretaria de Turismo do município precisa ‘acordar’ para essa realidade, assim como o setor privado de maneira geral que ainda não abraçou o festival”, diz.

Produção local em ascensão
Em 2009, o Fest Aruanda atingiu a trilha da profissionalização e da popularização, com a maioria das sessões lotadas e com a diversificação e ampliação do público, além do já cativo, composto por profissionais da área e estudantes universitários. “O público melhorou muito nos últimos anos, atingindo seu ápice no ano passado, quando tivemos muitas das sessões lotadas. Isso ajuda não só a consolidação do festival, mas, em especial, a melhora da produção de filmes locais”, afirma Maria do Rosário, fazendo uma correlação entre a consolidação do festival e o aumento da produção local, como ocorreu em Pernambuco e no Ceará, que contam com festivais reconhecidos nacionalmente e tiveram melhora na quantidade e, principalmente, na qualidade da produção cinematográfica.

Atrações deste ano
O filme de abertura do Fest Aruanda, em 10 de dezembro, no Hotel Tambaú (onde serão realizadas as sessões e toda a programação do festival), será Uma Noite em 67, de Ricardo Calil e Renato Terra, um dos documentários mais vistos nos cinemas brasileiros neste ano. Outra sessão, dessa vez internacional, que merece destaque é a do filme francês Godard, Truffaut e a Nouvelle Vague, do diretor Emmanuel Laurent, que conta a trajetória do mais importante movimento do cinema francês por meio dos seus dois maiores idealizadores e realizadores, os cineastas Jean-Luc Godard e François Truffaut. Além da exibição do filme 5X Favela, Agora por Nós Mesmos, realizado por moradores das favelas do Rio de Janeiro e produzido pelo cineasta Cacá Diegues, um dos convidados ilustres dessa sexta edição do festival. O mais recente longa de José Joffily, Olhos Azuis (2009), também está na programação.

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