Até 1983, quando foi realizada a primeira edição do Festival Videobrasil, conseguir espaço para expor trabalhos experimentais de vídeo era uma tarefa árdua – ou quase impossível – para um grupo de jovens que começava a propor novas possibilidades de criação artística. “Você fazia o vídeo, guardava, e pronto. Não tinha o que fazer”, conta o diretor e roteirista Tadeu Jungle. Não havia internet, obviamente, e os poucos canais de televisão não davam espaço para linguagens alternativas. Foi nesse contexto que o surgimento do Videobrasil, na cidade de São Paulo, representou um marco para a videoarte no País, abrindo espaço para diálogos e trocas e se tornando um grande incentivador da criação na área.
Em um contexto completamente diferente, no qual a produção em vídeo já se consolidou no mundo das artes e segue expandindo horizontes nos diversos meios de comunicação, o Sesc reuniu nesta quarta-feira, dia 16, alguns dos pioneiros desta linguagem no Brasil para a abertura do 18º Festival de Arte Contemporânea Sesc Videobrasil – que acontece até o dia 2 de fevereiro de 2014. Após as falas de Danilo Santos de Miranda, diretor regional do Sesc, e de Solange Farkas, diretora da Associação Cultural Videobrasil, Tadeu Jungle, Walter Silveira, Pedro Vieira e José Celso Martinez relembraram os caminhos que percorreram para romper com a linguagem estética estabelecida pela televisão nos anos 1980. Jungle, Silveira e Vieira tinham pouco mais de 20 anos à época.
“Era um momento barra pesada, ainda fim de ditadura. A TV era para nós um negócio antigo, do establishment. Mas a gente gostava de TV, só que queria fazer uma coisa completamente diferente daquilo que se fazia”, disse Jungle. “A TV mascarava, botava véu, ia arrumando até ficar tudo embalado e edulcorado”. A ideia, portanto, era dinamitar aquela linguagem, como afirmou o mediador Gabriel Priolli, e construir outra, altamente transgressiva. “Tudo entrou em debate no País. Tudo entrou em crise. Tudo queria se renovar. E a linguagem audiovisual participou disso”, disse Priolli. E foi isso que aqueles jovens fizeram, com programas como o Fábrica do Som, com o TV Tudo, ou ainda filmando as peças de Zé Celso. Neste sentido, o dramaturgo afirmou que muito do que o Teatro Oficina é hoje se deve aos trabalhos com vídeo, que continuam sendo realizados pelo grupo.
A crítica à televisão não se ateve ao passado. Os debatedores concordaram que, apesar das brechas em diversos momentos, linguagens radicais e experimentais nunca conseguiram dominar as telas dos grandes canais. “A TV tem a infraestrutura, equipamentos maravilhosos, mas é tudo usado à toa”, ironizou Zé Celso. Sobre momentos ricos da linguagem televisiva, exceções nestes últimos 30 anos, Jungle citou programas como Armação Ilimitada, de Guel Arraes, e Brasil Legal, de Regina Casé. Citou também grandes nomes que abriram caminho para a inovação, desde o apresentador Chacrinha até Antonio Abujamra (que incentivava os alunos da ECA-USP a arriscar e sair do caminho convencional).
O Festival
O 18º Festival de Arte Contemporânea Sesc Videobrasil será realizado até fevereiro em quatro espaços principais: Sesc Pompeia, Cinesesc, Casa do Povo e Pivô. Segundo Solange Farkas, o evento tem “três pernas principais” nesta edição, sendo elas a mostra histórica sobre os 30 anos de festival, os Programas Públicos – com debates como o descrito acima e outras atividades – e a exposição Panoramas do Sul. Sobre esta última, que dá um panorama da produção contemporânea em países da África, Ásia, Oriente Médio e América Latina, Danilo Miranda defendeu a extrema importância de se tomar posição no mundo atual: “O pensamento do Sul é aquele que procura refletir sobre a satisfação do ser humano, sobre o prazer, a felicidade. Não é só o Sul geográfico, é metafórico, mais amplo. Enquanto que o Norte tende a discutir a eficácia, o resultado, o ganhar dinheiro e poder – o que tem sua importância, mas que é relativizada por qualquer pessoa que pensa de maneira mais ampla sobre o ser humano”.
Para ver a programação completa do festival, acesse o site oficial do evento.
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