A Mostra Internacional de Cinema de São Paulo deste ano, em sua 38a edição, celebra o diretor espanhol Pedro Almodóvar pelo cartaz, de sua autoria, e pela retrospectiva de oito dos seus mais importantes filmes: Maus Hábitos (1983), Que Fiz Eu para Merecer Isto? (1984), A Lei do Desejo (1987), Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos (1988), Kika (1993), Carne Trêmula (1997), A Flor do Meu Segredo (1995) e Fale com Ela (2002).
Até o fechamento desta edição, a presença do diretor ainda não tinha sido confirmada, mas seu irmão Agustín Almodóvar, produtor da maioria de seus filmes, estará no evento, o mais importante do País. “Pedro pode ser uma surpresa, só mais perto teremos uma posição definitiva”, diz Renata Almeida que, pelo quarto ano consecutivo, preside sozinha o festival, após a morte, em 2011, do marido, Leon Cakoff, fundador da mostra.
Na programação está a exibição de Relatos Selvagens, de Damián Szifrón, produzido por Pedro e Agustín Almodóvar, que concorreu à Palma de Ouro no Festival de Cannes deste ano. Agustín também participa do encontro de profissionais de cinema, que reúne representantes espanhóis e brasileiros, dentro da seção Foco Espanha. Outra convidada renomada é a atriz argentina Cecilia Roth, que deslanchou sua carreira dentro do cinema espanhol e ganhou dois prêmios Goya de Melhor Atriz. Um deles, pela marcante atuação em Tudo Sobre Minha Mãe, um dos sete longas do cineasta.
Entre os mais de 300 filmes selecionados de todo o mundo, alguns destaques são premiados: Winter Sleep (de Nuri Bilge Ceylan), Foxcatcher (Bennett Miller), The Tribe (Myroslav Slaboshpytskiy) e From Whatis Before (Lav Diaz). Walter Salles faz estreia mundial do seu documentário sobre o diretor chinês Jia Zhang Ke.
Renata Almeida comanda sozinha um batalhão de 500 pessoas, entre equipes de produção e divulgação, tradutores, legendadores e projetores. “Trabalhamos todos os meses do ano”, diz, entusiasmada. Ela explica que a mostra anual só termina, de fato, em janeiro do ano seguinte, pois preparar os relatórios, prestar contas, devolver os filmes são tarefas trabalhosas. “O ano começa e já ficamos de olho nos grandes festivais, como parte da seleção do que queremos como destaques.”
O gigantismo do festival, que atrai cinéfilos de todo País, não assusta uma confiante Renata. Ela conta que o êxito de todos os anos está em manter, em parte, o modelo de escolha que se consagrou em quase 40 anos: fazer um apanhado do que o cinema contemporâneo mundial está produzindo, além das tendências, temáticas, narrativas e estéticas em todos os continentes. A mostra acontece de 16 a 29 de outubro e a programação completa está em mostra.org.
O DONO DA FESTA
Nem só do vozeirão e discos impecáveis para a música brasileira vive o mito Tim Maia, morto em 1998. Ele próprio se tornou um dos tipos mais curiosos, irreverentes e adorados do meio musical. Suas ausências em shows e o desdém por convenções sociais alimentaram histórias que viraram lendas. O risco de transpor um personagem como ele para o cinema, sem dúvida, é grande. Mas deu certo no longa Tim Maia, do diretor Mauro Lima, adaptado do livro Vale Tudo, de Nelson Motta, que promete arrastar multidões aos cinemas.
O filme foca principalmente a adolescência e a juventude de Tim Maia, até ele conseguir gravar o primeiro disco. Depois, retrata o mergulho do artista no mundo das drogas e dá um salto de 20 anos, até sua morte. Funciona. Há três aspectos relevantes nesse sentido. Primeiro, o roteiro bem pensado. Depois, a cuidadosa reconstituição de época e, por fim, a feliz escolha de Robson Nunes e Babu Santana, que interpretam Tim Maia em diferentes épocas. O filme é contagiante e tem grandes momentos, principalmente os anos ao lado dos amigos da adolescência Roberto e Erasmo Carlos, o conjunto que formaram, as primeiras apresentações na TV no programa de Carlos Imperial, que seria fundamental para o futuro de Roberto, a viagem para os Estados Unidos e a prisão por roubar um carro.
Há um esforço constante para não vilanizar Roberto Carlos, o que se torna inevitável quando ele “trai” o conjunto para fazer carreira solo e na longa penitência de Tim para que o amigo gravasse uma música sua. O elenco inclui dois nomes bem conhecidos da televisão: Cauã Reymond, que faz o fictício Fábio, síntese dos amigos do cantor; e Alinne Moraes, a briguenta namorada de Tim. Os fãs vão adorar.
ARTE CONTRA O CRIME
Uma das boas surpresas do ano, Na Quebrada costura várias histórias de jovens que cresceram em áreas de risco na capital paulista e tiveram suas vidas transformadas ao se inscreverem em uma escola para formação de profissionais de TV e cinema. Algumas delas foram modificadas para preservar a identidade dos personagens reais e nem todas têm final feliz. No elenco, destaque para Gero Camilo, que rouba a cena com um personagem cativante e marcado pelo humor. Um bônus na trama, dirigida por Fernando Grostein Andrade, é aparição da musa internacional Monica Bellucci, como uma italiana que quer adotar uma criança brasileira.
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