E o Oscar foi para… a França. Em 84 anos de premiação, a maior do cinema, a estatueta mais cobiçada da noite não foi para os Estados Unidos, país que sedia a festa e produz o maior número de longas do mundo. E também foi a segunda vez que o prêmio de Melhor Filme foi para uma película muda e em preto-e-branco. O primeiro foi Asas, de 1927. O Artista, com suas cinco vitórias, já fez História.
Ao contrário do ano passado, em que Hollywood celebrou a anglofilia com a vitória de O Discurso do Rei, apontar o longa de Michel Hazavicious – que ganhou como Melhor Diretor, o primeiro francês, batendo as lendas Martin Scorsese e Woody Allen- e A Invenção de Hugo Cabret como os mais fortes na concorrência disse muito sobre o presente. Ambas as produções se passam entre os anos 20 e 30, quando o cinema ainda influenciava multidões e não tinha o apelo de novas mídias. Foi uma premiação de autocelebração e demarcação de território.
Curiosamente, um filme contemporâneo cercou-se de técnica do passado para se firmar entre os melhores (O Artista), enquanto o outro ambientou-se no passado e utilizou o que há de mais moderno hoje em termos técnicos, o 3D (Hugo).
Foi um recado para a audiência de mais 1 bilhão de pessoas: somos bons e ainda a melhor diversão, acredite você. Não por acaso, também, a ambientação retrô da festa, com moças servindo pipoca no intervalo, como nos cinemas do passado.
O Oscar 2012 também passou outras mensagens: Meryl Streep é a maior de todas e só estavam esperando uma atuação inquestionável para lhe entregar o terceiro prêmio, depois de 14 indicações em vão. A atriz de 62 anos, apesar de elogiada pela crítica e pelos colegas, não fazia discurso de agradecimento há 30 anos. Aliás, belo discurso, onde afirmou que o realmente importante na vida “é o amor e a amizade”.
Falou primeiro do marido – todos citam os parceiros no fim – e depois do cabeleireiro, que está com ela há 27 anos. Classe, humanidade, dignidade. Comoveu e bombou no Twitter. Pena que a sombra de Meryl ofuscou o brilhante trabalho de Glenn Close, seis vezes indicada e seis vezes derrotada.
Interessante também por mostrar que a Academia tenta não se prender a questões políticas, reforçando a trajetória vitoriosa do iraniano A Separação, Melhor Filme Estrangeiro e, para muitos, o melhor de todo o Oscar. O Irã, como se sabe, passa por uma grave tensão com Israel, este último país aliado aos EUA. Por falar em estrangeiros, Jean Dujardin, que tirou o prêmio das mãos de George Clooney e Brad Pitt, foi o primeiro francês a levar tamanha consagração. Maurice Chevalier, Charles Boyer e Gerard Depardieu tentaram, e não conseguiram.
Aliás, ele pouco entendia do que falavam, já que seu inglês é turístico. Quem traduzia tudo para ele? Bérénice Bejo, sua colega de elenco. Bravo também por premiar um ator idoso, Christopher Plummer, 82 anos, e a sétima negra a levar uma estatueta, Octavia Spencer, trêmula de tão emocionada. “Você só é mais velho que eu dois anos, Oscar. Por onde você andava?”, disse Plummer, que vive um gay em Toda Forma de Amor.
Billy Cristal, mestre de cerimônia, até foi feliz em algumas piadas. Já começou a noite comentando que estavam no “teatro da bancarrota”, referência à falência da Kodak. Em seguida, afirmou que assim que saiu de uma sessão de Histórias Cruzadas procurou abraçar uma mulher negra. “Mas é preciso dirigir 45 minutos para abraçar uma afroamericana em Beverly Hills”.
Assim que O Artista começou a faturar seus prêmios, fez questão de ironizar: “Devem estar loucos lá na França. Se é que eles sabem o que é felicidade!”. O Brasil perdeu de novo, Carlinhos Brown e Sergio Mendes saíram sem exibir o smoking no palco. E daí?
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