Filmes para os ouvidos

Entre os dias 28 de abril e 8 de maio, a 3ª edição do In-Edit Brasil exibiu mais de 70 filmes nacionais e estrangeiros de documentários musicais realizados pelo mundo. O festival iniciou a jornada musical no dia 28 com a exibição, para convidados, no MIS-SP do novo filme do cineasta espanhol Carlos Saura, Flamengo, Flamengo. O diretor, que viria para o Brasil, não pôde comparecer, mas mandou uma carta que foi lida pelo fundador e diretor do festival no Brasil, Marcelo Aliche, antes da exibição do filme. O outro homenageado estrangeiro dessa terceira edição do In-Edit foi Albert Maysles, que veio ao Brasil para apresentar a versão do diretor do filme What’s Happening! The Beatles in the USA, documentário que o diretor realizou em 1964, quando os quatro jovens de Liverpool foram descobertos em definitivo pelos Estados Unidos. Além do filme sobre os Beatles, foram exibidos mais quatro outros filmes do diretor americano Baroque Duet, Get Yer Ya-Ya´s Out!, Gimme Shelter e Vladimir Horowitz: The Last Romantic. O homenageado brasileiro foi o cineasta Andrucha Waddington que, apesar de ser conhecido pelos filmes ficcionais Eu Tu Eles, Casa de Areia e de Lope, este último produzido na Espanha, realizou documentários musicais, entre eles Viva São João e Pedrinha de Aruanda. O diretor Andrucha Waddington era também presença confirmada, mas não pôde comparecer.

Veio para ficar
O Festival Internacional do Documentário Musical foi idealizado na Espanha e realizado pela primeira vez em Barcelona, no ano de 2002. Hoje, ele está em nove países, entre eles Chile, Buenos Aires e México. No Brasil, chegou em 2009, trazido por Marcelo Aliche. Ele, que morava na Espanha nessa época, achou que aqui, um país com música muito forte, necessitava um festival como esse. “No primeiro ano, fizemos o festival na raça, sem patrocínio nenhum, apenas com algumas parceiras. E, mesmo assim, foi bem recebido. No segundo ano, tivemos o patrocínio da Petrobras e da Natura e ficou mais fácil realizá-lo”, disse Marcelo Aliche para o site da Brasileiros. Neste ano, o festival teve um orçamento de meio milhão de reais, além da exibição dos filmes trouxe workshops, encontros e performances musicais. Marcelo Aliche nos revelou que o festival, a cada ano, vem encontrando seu espaço e que já entrou na agenda dos principais festivais realizados no Brasil durante o ano. E olha que isso não é pouco, já que, no País, são feitos mais de 200 festivais e mostras de cinema. “Acho que encontramos nosso nicho, pois somos os únicos a ter um festival exclusivamente dedicado ao documentário musical”, revelou ele.

Destaque
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O In-Edit, dentro de sua programação, exibiu a mostra competitiva, a mostra Brasil, Curta um Som, Retrospectiva Brasil, Homenagem a Andrucha Waddington, In-Edit On-Line e Sessões Especiais. Cabe destacar, além dos filmes de Andrucha Waddington, o filme Filhos de João – O Admirável Mundo Novo Baiano, de Henrique Dantas, documentário sobre o grupo Novos Baianos que atropelou as convenções da ditadura militar nos anos 1970. Entre os documentários inéditos nacionais, Nas Paredes da Pedra Encantada, de Cristiano Bastos e Leonardo Bomfim, o documentário sobre as histórias que envolveram a idealização e realização do disco “Paêbirú“, era o mais esperado.

O documentário foi apresentado pela primeira vez em uma sessão na Galeria Olido. Os diretores estavam presentes e, depois da exibição, conversaram com o público. Para quem não sabe, o filme resgata as histórias, já lendárias, de como Lula Côrtes e Zé Ramalho idealizaram o álbum “Paêbirú“, de 1975. Eles, que eram amigos na época, começaram a visitar a Pedra do Ingá no interior da Paraíba, em 1974, e lá, entre chás de cogumelos e outros alucinógenos, compuseram as músicas de um álbum raríssimo (isso porque o disco foi prensado pela gravadora Rozenblit de Pernambuco e, devido a uma enchente em Recife, na época, mais de mil discos foram perdidos). Apesar das histórias fantásticas e saborosas de Lula Côrtes, que infelizmente morreu no início deste ano, o documentário é um amador. Há problemas de captação de som e de imagem. Os dois realizadores, que fizeram o filme com recursos próprios, são muitos inexperientes na condução das entrevistas, deixando o filme mais confuso do que deveria ser. Os diretores justificaram para o público presente na Galeria Olido que o filme tinha aquela “cara” por causa do seu personagem Lula Côrtes. Mas ficou evidente que faltou recursos e experiência aos realizadores.

A seleção dos filmes estrangeiros estava muito boa e diversificada. Entre os filmes que vimos, destacamos: Johnny Mercer: The Dream`s On Me, de Bruce Ricker e Anthony Wall, sobre o compositor que fez clássicos, como Moon River do filme Bonequinha de Luxo, o necessário Soul Train: The Hippest Trip in America, de J. Kevin Swain e Amy Goldberg, sobre o programa “Soul Train“, concebido por Don Cornelius e que ficou mais de duas décadas no ar. O programa era dedicado exclusivamente, no início, a música negra, sendo muito importante para a auto-estima dos negros e repercutindo em suas conquistadas na sociedade americana nos anos que se passaram. Um feito e tanto. A grande surpresa dos filmes estrangeiros foi Who is Harry Nilsson (And Why is Everybody Talkin`About Him?), que resgasta um dos cantores americanos mais subestimados da história. Nilsson, que era admirado pelos Beatles, emplacou clássicos com Without You e Everybody`s Talkin, música-tema do filme Perdidos na Noite, de John Schlesinger, de 1969. O documentário recupera a carreira e principalmente a vida desse cantor singular, dono de uma voz invejável. Ele, que nunca fez shows ao vivo, viveu a vida que quis, entre noitadas regadas a drogas e muita bebida. Que venham outras edições do In-Edit para embalar nossos olhos e ouvidos!


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