A abertura da Festa Literária Internacional de Pernambuco (FLIPORTO), em Olinda, começou ontem com atraso e vaias. A programação anunciava que o esperado recital de Maria Bethânia teria início às 19h, mas já eram quase 20h quando Antonio Campos, curador do evento, pediu desculpas à plateia, comunicando que a artista entraria em cena em minutos e a culpa pelo adiantado da hora era dele, só dele. Vestindo camisa branca e calça escura, com os cabelos soltos e um largo sorriso, Bethânia concordou com Campos. “Estou aqui desde as 16h. Estava louca para entrar no palco e sou careta, cumpro os horários.” Foi aplaudida de pé pela plateia, que passava a ficar menos impaciente.
A tenda estava lotada. Segundo a organização, foram vendidos mil ingressos. Alguns jornalistas (inclusive esta que escreve) foram obrigados a assistir ao espetáculo em um telão instalado em uma área perto da tenda onde Bethânia se apresentava. Não havia lugar para todos, foi o que afirmou a organização. O som estava péssimo. Foi ajustado, melhorou, mas não ficou excelente. Isso sem contar que houve falhas na transmissão, fazendo a cantora algumas vezes desaparecer do telão.
Bethânia declamou textos de autores de língua portuguesa — Guimarães Rosa, Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa, entre outros –, que falam do tempo, de poesia, do sertão brasileiro, de Portugal, do amor e de religião. Trechos de músicas como “Romaria” e “Último Pau de Arara” foram cantados também pela plateia e bastante aplaudidos.
Um dos pontos altos do show foi quando Bethania declamou o poema “Ciclos”, de Nestor de Oliveira, que foi professor dela e de Caetano Veloso durante o ginásio em que estudaram em uma escola pública do Recôncavo Baiano. Nesse momento, ela se emocionou. “Além da didática, ele nos ensinou a ler, ouvir e dizer poesia. Isso prova que é possível ter uma educação boa nas escolas públicas do Brasil.”
Bethânia foi acompanhada pelos músicos Carlos Cesar (percussão) e Jaime Alem (violão). Ela, que tem mais de 40 anos de carreira e 50 discos lançados, é uma das artistas brasileiras mais engajadas na literatura. Desde 2011, percorre o País com o show “Bethânia e as Palavras”, em que combina poesia com musica. Essas apresentações originaram o projeto do blog “O Mundo Precisa de Poesia”, que foi aprovado pelo Ministério da Cultura e obteve R$ 1,35 milhão da Lei Rouanet. Mas após críticas nas redes sociais, acabou sendo arquivado.
Hoje, sexta-feira, 16, acontecem as mesas literárias da FLIPORTO, que vai até domingo, dia 18.
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