Flores, seu primeiro livro recém-publicado no Brasil pela Cosac Naify, trata de uma série de histórias desconexas, textos escritos ao longo de dez anos, que, por acaso, aparentaram-se como pertencentes de um mesmo universo – unido pelo mexicano Mario Bellatin numa obra concisa, na qual cada texto recebe o nome de uma espécie diferente de flor. O que as une certamente traz consigo um caráter autobiográfico que, sem revelar, apresenta algumas das mediações de um cenário projetado por Bellatin. “Rosa” ou “Lírio”, pequenas histórias que compõem o livreto (no sentido de seu tamanho e não de sua força) abordam personagens que sofreram mutações, resvalando na própria biografia de Bellatin: no lugar do braço direito, uma prótese – transformada pelo artista plástico Aldo Chaparro em obra de arte exótica – em forma de gancho, qual pirata. [nggallery id=14628] Além de escritor, Mario fundou, no México, a Escola Dinâmica de Escritores, cuja premissa básica é “no se puede escribir dentro de la escuela”, conta Bellatin a respeito do estranho método. No entanto, ao longo de dois anos, os trinta alunos participantes – que em comum possuem apenas o interesse literário e a prerrogativa da escrita – reúnem-se, com 52 artistas da literatura ou de outras áreas, para a construção de projetos práticos. A idéia do projeto é que a literatura não seja estudada como nas escolas tradicionais, na leitura de clássicos e produção de novas obras; a disciplina de Bellatin, por sua vez, pretende que os alunos recorram a todas as artes a fim de retirar delas o que há de mais prolífico para a reprodução em sua própria escrita.LEIA TAMBÉM:
Era uma vez…
O amigo do rei
Manhã de Flip bem-humorada
Vida de escritor
Sermões de Richard Dawkins
O velho e a literatura
Um divã para a China
A comédia da vida privada
A voz e o dono da voz
Cinema comercial
Escutando Alex Ross
Dicotomias
Relatos ficcionais
Weekend à francesa
O (re)contador de histórias
Que homem é aquele que faz sombra no mar?
O último poemaSobre sua literatura, pouco revela. Assim como não revela muito de si mesmo, com tom enigmático. “Penso que estou escrevendo sempre o mesmo livro”, como se todas as histórias nas quais se debruçou tivessem entre si um laço que as interliga. Talvez seja a própria vida tal fio condutor.Suposição cabível, pelo fato do autor haver sido convidado para integrar a mesa O eu profundo e os outros eus, nesta sexta-feira (3), às 17h, com o brasileiro vencedor do Jabuti de 2008 na categoria Romance, Cristóvão Tezza, pelo livro O Filho Eterno. Os autores falarão a respeito dos processos biográficos e suas interferências nas narrativas ficcionais e de que modo um autor pode conciliar as intersecções entre vida e obra.De tom semelhante foi a coletiva com o francês Grégoire Buillier, 49, que se encontrará com a ex-companheira, Sophie Calle, 55, publicamente pela primeira vez depois de um rompimento conturbado, integrando a mesa Entre quatro paredes, no sábado (4), às 11h45. Grégoire terminou o relacionamento através de um e-mail encerrado com as palavras “Cuide de você”. A partir de sua própria reação com a atitude, Sophie acompanhou outras 107 mulheres de faixas etárias, estratos sociais e profissões distintas diante da frase, transformando o fato na instalação Prenes soin de vouz (cuide de você).Imediatamente questionado sobre o porquê de ter aceitado o convite da própria Sophie em participar da mesa, Grégoire disse que a única razão para recusar o convite seria o medo do que pudesse acontecer, dizendo que não sabe quais as conseqüências, mas que será divertido. “Há um confusão entre o homem da carta e o escritor”, diz sorrindo, apesar das investidas dos repórteres no tema.Tentando evitar a aparente confusão, Grégoire afirma que tem sido feita uma leitura equivocada de seu livro, ressaltando o possível tom narcísico da obra, que delata a experiência vivida pelo autor em seus relacionamentos íntimos e familiares. “Não se pode recriminar um escritor por inserir na obra coisas que dizem respeito à sua própria vida. A literatura tem sido avaliada sob o viés da cultura das celebridades, o que mistura interioridade com intimidade”, afirmando que seu livro fala de si, mas do que há internamente nesse eu. Intimidade ou interioridade, os ingressos esgotados comprovam que o encontro de Grégoire e Sophie promete.
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