Claudio Edinger é um de nossos melhores fotógrafos documentais. Essa é a especialidade daqueles profissionais que escolhem um tema e passam um bom tempo nele mergulhados. Foi assim com os judeus ortodoxos em Nova York, com o Hospital Psiquiátrico do Juqueri, em São Paulo, com o hotel Chelsea, também em Nova York, com o carnaval, aqui no Brasil, com a cidade de Havana, em Cuba. Em seus 30 anos de carreira Claudio produziu mais de uma dezena de livros que lhe valeram prêmios pelo mundo todo.
Agora ele lança São Paulo: minha estranha cidade linda.
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O livro é editado pela DBA – Dorea Books and Art, tem 88 páginas, 2.000 exemplares de tiragem e as fotos estarão expostas na Arte 57, a galeria de Renato Magalhães Gouvêa Jr., em São Paulo. O trabalho de Claudio, patrocinado pelo Banco Itaú, foi feito entre 2006 e 2008 e já vem premiado: em 2007, recebeu o Prêmio Porto Seguro de Fotografia.
Focado na ambiguidade da cidade grande, a idéia apareceu a partir do teto da Igreja Nossa Senhora do Brasil, uma cópia do trabalho de Michelangelo Buonarroti, na Capela Sistina. Está tudo lá, a criação do homem, a criação de Eva, a expulsão do Paraíso. Tudo copiado. Claudio então se perguntou por que precisamos copiar o Vaticano?
“Por que não podemos ter um teto pintado só nosso, com idéias próprias? Talento não falta, a pintura está ótima. E por outro lado não é genial que qualquer paulistano, sem condições de ir ao Vaticano, possa ver esta pintura baseada na original? Tudo isso acontecendo na esquina da Avenida Brasil com Avenida Europa? Dá para perceber a loucura? A partir daí fiz uma foto do teto com o celular e o projeto sobre São Paulo nascia. Minha doce cidade ambígua.”
As fotos foram feitas com uma câmera 4×5, de grande formato, com negativos de 10 por 12,5 cm. Mais de 500 negativos foram usados. A câmera grande permite a técnica do desfoque seletivo usada no trabalho. Há, no livro, em forma de epígrafe, uma frase do genial fotógrafo Henri Cartier-Bresson: “Foco é um conceito burguês”.
A falta do foco produz um resultado magnífico e bastante original ainda mais quando é quase impossível hoje se fazer uma foto fora de foco com as modernas câmeras sem negativo, as câmeras digitais.
A beleza pictórica do desfoque, com toda a sua riqueza cromática aparece, por exemplo, na foto do Shopping Higienópolis.Também nas fotos da Praça Ramos de Azevedo, da Rua XV de Novembro o desfoque é interessante. O acima mencionado teto copiado de Michelangelo foi fotografado mantendo em foco a criação do homem e desfocando todo o resto.
O trabalho de Claudio Edinger é um trabalho sensível e inteligente sobre São Paulo, uma cidade que muitas vezes nos faz perder o foco seja pela beleza, seja pela dureza de suas paisagens.
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