Cheguei agora há pouco do interior, lá pelas cinco da tarde, um calor danado em São Paulo, e fui direto tomar um sorvete que só tem por aqui.
Ao contrário do que acontece em outros blogs, onde os leitores comentam o que o autor escreve, fiquei tentado a comentar o comentário que o Bento Bravo mandou de manhã para o Balaio, contando que, depois de andar a pé por uma hora e meia, e atravessar a avenida Paulista de ponta a ponta, não viu nenhum sinal de carnaval na cidade.
O sexagenário calouro da USP (tema de matéria que publiquei aqui no começo do mês) pensou até que era feriado de Semana Santa. Pois foi a mesma coisa que notei ao andar pelas ruas desertas e sem trânsito, cruzando vários bairros, até chegar em casa. Ao colocar o pé na rua, dei de cara com o próprio Bento Bravo – ele, a caminho do supermercado (parece até coisa de cidade do interior), e eu da sorveteria.
“Tá vendo? Não falei? Não se vê um confete no chão, nenhum pedaço de serpentina”, foi logo dizendo, para confirmar o que tinha escrito.
Mas, logo adiante, vi coisa muito melhor – um belo retrato do Carnaval paulistano fora do confinamento do Sambódromo e dos clubes.
Vocês podem não acreditar, mas vi e ouvi na rua dois jovens tocando “Garota de Ipanema” no violoncelo, tirando um som da maior qualidade, como se tocassem numa orquestra. Em seguida, começaram a executar músicas clássicas a pedido de um raro transeunte. Bonito demais. Me senti até nas ruas de Paris.
Começou a chover e quase não havia movimento algum na rua. Não era uma rua qualquer: Boaz de Oliveira Silva (à esquerda na foto), de 23 anos, e Felipe de Luna, de 18, moradores de Perus e Francisco Morato, respectivamente, estavam tocando na Oscar Freire, duas vezes eleita a oitava mais bonita rua comercial do mundo, quase na esquina com a rua Augusta.
O palco deles era uma mureta da joalheria H.Stern, fechada por causa do Carnaval. E os dois tocam mesmo numa orquestra, a Orquestra Jovem do Pão de Açucar (rede de supermercados), além de darem aulas, participarem de gravações e se apresentarem em festas de casamento.
Pela segunda vez, eles arriscaram tocar na rua para defender mais algum, parcas contribuições espontâneas colocadas numa caixa de sapatos, mais moedas do que cédulas.
Era tão insólito aquele flagrante da folia paulistana em plena segunda-feira de Carnaval, que comentei com minha mulher: “Precisamos fazer uma foto para provar que é verdade”.
Por coincidência, dias atrás tive de trocar o meu celular que não funcionava mais e me deram um novo que tira até fotografias, mas não me explicaram como faz, nem eu tive tempo de ler o manual de instruções.
Minha mulher, sempre mais expedita e ousada, resolveu arriscar, e deu certo. Olhei no visor, lá estava a foto dos dois. Beleza. Mas como é que eu iria tirar a fotografia do celular e publicá-la no Blog? Não tinha a menor idéia do longo caminho a percorrer.
Mara, a minha mulher e fotógrafa predileta, arriscou de novo, sugerindo que a gente comprasse um cabo para conectar o celular no computador. Ao sair da sorveteria, deparei com uma loja da Nokia, exatamente a marca do meu celular.
Expliquei meu problema ao atendente André, que me deu uma paciente aula sobre como proceder nestes casos, e mais do que isso: já aproveitou para enviar a foto direto do celular, sem cabo nem nada, para o iG.
Para quem entende do assunto, tudo isso que estou contando pode parecer imensa bobagem, coisa de analfabeto tecnológico, o que, de fato, sou, mas vocês não podem imaginar minha alegria ao ser informado pelo editor Vinicius, ao entrar em casa, que a foto tinha chegado aos computadores do portal.
Isto é o que se pode chamar de um verdadeiro trabalho de equipe. Minha primeira fotografia própria publicada no Balaio só foi possível com a participação da Mara, do André e do Vinicius, que fez o favor de colocá-la no blog, outra coisa que ainda não aprendi.
Com a foto de Boaz e Felipe aí em cima, ninguém mais vai poder duvidar desta história que parece mesmo inverossímel, mostrando ao vivo e a cores um dos momentos mais bonitos e emocionantes do Carnaval paulistano. Só ficou faltando o áudio, mas também não dá para aprender tudo de uma vez.
Se alguém estiver interessado em contratar a dupla de violoncelistas, o e-mail deles é:
Feliz final de Carnaval a todos. Eu já ganhei o dia.
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