Fotografia é arte

Retrospectiva 2009 – o lado B da notícia

A Brasileiros entrou de vez no circuito das artes em 2009. Lançamos dois especiais ARTE!Brasileiros e estendemos coberturas de eventos na área para o site. Um deles foi a SP-Arte/Foto. Relembre do evento, com belíssimas imagens.

“Não existe mercado de fotografia sem a cultura da fotografia”. Essa frase de efeito, colocada em uma das paredes da terceira edição da SP-Arte/Foto, que acontece no Shopping Iguatemi até próximo domingo (13), pode resumir tudo o que se possa escrever sobre o evento.

Na parede, Claudia Jaguaribe

O circuito brasileiro de arte finalmente acordou para a importância da fotografia como objeto artístico. As barreiras enfrentadas pelos profissionais perante o preconceito do colecionador e de alguns galeristas em relação à obra em papel parece, aos poucos, cair por terra.

Num momento em que a fotografia ganha novos colecionadores, a terceira edição da SP-Arte/Foto dá provas que a luta do passado valeu a pena. Dezessete galerias de São Paulo, Rio, Salvador expõem trabalhos de nomes emblemáticos da fotografia, como o francês Elliot Erwitt, que vive nos Estados Unidos e faz parte do elenco da Magnum Photos, uma das mais conceituadas agências do planeta. Entre os brasileiros, que são maioria, se destacam os retratos de Otto Stupakoff, as belas imagens de Mario Cravo Neto, as fotos-instalação de Claudia Jaguaribe, a simbiose da foto e grafismo do cubano Abelardo Morell. Vale a pena comparecer e descobrir alguns achados.

Os profissionais brasileiros do mercado tradicional de arte vislumbram novas possibilidades, com a ascensão da fotografia. Afinal, esse segmento da arte influencia o cinema, o teatro, a moda e, como não poderia deixar de ser, as artes plásticas.

SP-Arte/Foto, por Fernanda Feitosa

Fernanda Feitosa, a idealizadora da SP-Arte/Foto, confessa que tanto se entusiasma em fazer esse evento quanto a SP-Arte, dedicada a todas as mídias, e que ela também dirige. “Os dois eventos acabam se complementando. Estamos na terceira edição da SP-Arte/Foto e, a cada ano, as galerias mostram mais trabalhos inéditos.” Fernanda reconhece que há pouco tempo entre uma feira e outra para se conseguir novos trabalhos, mas este ano garante que foram vários. Além desse ponto positivo, o evento contou com maior numero de trabalhos internacionais. “Sei que encontros entre personalidades da área são muito comuns em eventos nos Estados Unidos, mas agora tivemos alguns por aqui. Neste ano, a SP-Arte/Foto reuniu, entre outras personalidades Mark Lubell diretor da Magnum, a galerista Bonni Benrubi, especializada em fotografias e uma das mais importantes dos Estados Unidos; Jean-Luc Monterosso, diretor da MEP – Maison Européenne de La Photographie de Paris.

De Nova York, Bonni Benrubi

Bonni Benrubi, da galeria de mesmo nome de Nova York, um dos destaques das palestras que acompanham a SP-Arte/Foto, disse à Brasileiros que está feliz em estar no evento e ressalta que: “Essas feiras podem ser uma excelente oportunidade para se encontrar boas fotos.” Apesar de, há décadas, a fotografia ter lugar de destaque no mercado americano, Bonni comenta que também lá a fotografia está fortalecida. “O mercado para fotos está se ampliando cada vez mais, com aumento de colecionadores e um público interessado. Minha galeria trabalha com um elenco, mas estou aqui representando Abelardo Morell, fotógrafo cubano que mora em Boston. A convite da galeria Arte 57, trouxe a série Câmera Obscura, uma das minhas preferidas em que ele utiliza uma técnica dos primeiros tempos da fotografia.” Na opinião de Bonni, ele é um dos nomes fundamentais da foto em branco e preto. “Morell é dos autores mais solicitados do momento. Agora mesmo está realizando uma grande mostra na China.”

Renato Magalhães Gouvêa diz que o fotógrafo pode entrar firme no mercado, assim como qualquer artista que trabalhe com outras mídias. Ele lembra uma simples equação: “Circula maior quantidade de fotos onde está situado o mercado de arte”.

Os artistas de Nara

Nara Roesler, dona da galeria de mesmo nome, olhando as fotos de seus artistas fotógrafos se mostra animada. “Hoje, os artistas trabalham com diversas mídias e a fotografia e o vídeo estão naturalmente incorporados. Ter um evento mais específico contribui para se oferecer um panorama mais amplo.”

Os pés de Lenora de Barros

André Millan, proprietário da galeria Millan, diz que a arte brasileira sempre esteve acompanhada pela boa fotografia desde o modernismo com Ismael Néri, ao contemporâneo Tunga. “Portanto, nenhuma novidade em relação a essa movimentação atual.” Um dos bons trabalhos expostos na feira está na Millan. Só Por Es – Tar, uma série de Lenora de Barros, que reúne algumas de suas obras mais recentes.

Ricardo Trevisan, dono da galeria Triângulo, lembra que a arte contemporânea tem ajudado o comprador na compreensão de que ele pode adquirir obras que não sejam peças únicas. “Hoje, o público está mais antenado e menos ávido em adquirir uma obra exclusiva. Nos últimos seis anos, a situação começou a mudar.” Trevisan trabalha com vários artistas que utilizam fotos em seus trabalhos, como Albano Afonso.

Jones Bergamin, proprietário da galeria Bergamin e da Bolsa de Arte do Rio, vê hoje um mercado mais maduro, com a fotografia se impondo como obra de arte. “Quase todo colecionador compra fotos, e isso aumenta uns 20% a cada ano. Os fotógrafos têm consumidores nos quatro cantos do mundo”, garante.

Sim, fotojornalismo tem estética

Simonetta Persichetti, jornalista e crítica de fotografia: “Nesta terceira edição da SP-Arte/Foto, a fotografia se firma como a grande protagonista da expressão da arte contemporânea no Brasil. Dezessete galerias apresentam, em 300 imagens, as mais variadas vertentes estéticas que a fotografia abrange. O interessante dessa mostra é, sem dúvida, a forte presença do fotojornalismo. Isso derruba de uma vez por todas a ideia, há muito ultrapassada, de que o fotojornalismo não tem estética. Pelo contrário, ele aparece com toda sua força em imagens como de Elliot Erwitt, integrante da legendária Magnum, na parede de retratos feitos pelos fotojornalistas do jornal O Estado de S. Paulo, assim como nas fotos de Jean Manzon e Hildegard Rosenthal. Um fotojornalismo que não pretende ser além do que informação e registro do nosso cotidiano. Isso, sem deixar de citar a belíssima homenagem feita pela galeria Paulo Darzé ao fotógrafo Mario Cravo Neto. Um evento que reflete e aprofunda a crescente presença da fotografia dentro de um mercado de arte no mundo todo e reafirma o papel referencial da fotografia para compreender a sociedade atual.”


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