Fundamentalismos

Obra de fundamentalistas
Obra de fundamentalistas

Queridos, uma notícia chamou-me a atenção ontem. Um grupo composto por cinco  membros da Igreja Adventista do Sétimo Dia, fundamentalistas cristãos,  entrou com um mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal, pedindo para fazerem as provas do concurso público para o Ministério Público da União não no dia marcado,  sábado, dia 11 de setembro, mas no domingo, dia 12, pois, segundo as convicções religiosas deles, sábado é o dia consagrado à adoração do senhor. Segundo eles, a data oficial da prova os “está impedindo que tenham acesso a cargos públicos pela via democrática do concurso sem que firam suas consciências”. Como pedido alternativo, se negado o primeiro, pedem que a prova seja aplicada no sábado, mas depois do pôr do sol, e eles aguardariam o final da prova dos demais em sala separada e incomunicável, mas com direito a lerem a Bíblia nesse período. Os adventistas alegam, ainda, que “a questão da tolerância fará grande diferença à efetivação do direito fundamental à liberdade religiosa em uma sociedade pluralista e democrática, sem que se restrinjam os direitos daqueles que desejarem seguir suas convicções”.

Uma coisa me confunde: para mim, dia sagrado é exatamente o domingo, dia de ir à igreja, etc., mas os adventistas consideram sagrado o sábado, tal como os muçulmanos e os judeus. Mas a contagem não importa. O que preocupa é que, em um País laico, como o Brasil se declara em sua Constituição Federal, os princípios religiosos de alguns os diferenciem dos demais a esse ponto. Esse é o mesmo Estado em que vivem os homossexuais, que lutam para que direitos muito mais fundamentais sejam respeitados, e nem sempre tenham o mesmo sucesso. E o pluralismo democrático a que eles se referem não valeria para nós? Pois são eles, os conservadores religiosos, os primeiros a nos combater no Congresso Nacional. Ao menos os Tribunais Superiores de Brasília já começam a nos reconhecer direitos, já falei muito disso aqui. Repararam na curiosidade das datas? O exame será exatamente dia 11 de setembro, dia em que os fundamentalistas muçulmanos atacaram as torres gêmeas do World Trade Center e o Pentágono, nos Estados Unidos.

E a Inglaterra perdeu
E a Inglaterra perdeu

Lembram-se do maravilhoso filme Carruagens de Fogo, em que um corredor inglês se recusa a correr uma prova que certamente ganharia, nas Olimpíadas de 1924, por esta cair em um domingo, e a Inglaterra perde a medalha? Na minha modesta visão, os fundamentalismos se tornam perigosos, quando se permite que eles firam a igualdade constitucionalmente assegurada entre os seres humanos, e nunca deveriam ser admitidos. Abraços do Cavalcanti


Comentários

3 respostas para “Fundamentalismos”

  1. Olá, você diz ficar confuso pelo fato de os adventistas considerarem o sábado como sagrado. Eles acreditam estar seguindo o velho testamento, que diz que Deus criou o mundo em seis dias e descansou no sétimo, que é justamente o shabat dos judeus. Posteriormente, os cristãos romanos resolveram criar o dominis dies (domingo), dia do senhor, que substituiu o dia do sol (que permanece em inglês e alemão – Sunday, Sontag, respectivamente). Há quem diga que essa mudança do sétimo dia se deu por conta do sincretismo religioso; os romanos misturaram o dia do sol com o dia sagrado dos judeus. Eu, pessoalmente, acho que eles inventaram uma artimanha para celebrar o dia sagrado, dia do descanso de Deus, mas não no “mesmo” sétimo dia dos judeus, diferenciando-se desses últimos, portanto. Assim, o primeiro dia da semana passou a ser segunda-feira (que em outras línguas mantém o nome pagão (lunes/espanhol, lundi/francês, lunedì/italiano, Monday/inglês – em todos: dia da lua. Posteriormente, os adventistas resolveram retomar o sábado como dia do descanso de Deus e guardam esse dia como sagrado; para eles, então, o primeiro dia da semana é o domingo. Parecem esquecer de uma passagem bíblica na qual Jesus, questionado por um fariseu por orientar a alguém a fazer algo no sábado, respondeu mais ou menos assim: “o sábado é o Senhor do Homem, ou o Homem é o Senhor do sábado”? …
    Não tenho grandes informações sobre os muçulmanos, mas creio que o dia sagrado deles é a sexta-feira, sabe-se lá por que razão. Essa história toda me parece ter a seguinte moral: os cristãos quiseram ser diferentes dos judeus e dos pagãos; os muçulmanos quiseram se diferenciar dos judeus, dos pagãos e dos cristãos; as novas “leituras do cristianismo – adventistas incluídos – querem ser diferentes de outros cristãos. E, claro, cada grupo se considera mais certo e crê que seu próprio sétimo dia é mais sétimo do que o dos outros. Algo me diz que, na verdade, esse povo adora ser diferente dos outros. Ousaria dizer que eles gostam da diversidade, ou pelo menos de algumas diversidades, sobretudo aquelas irrelevantes, se não não gastariam tanto tempo e energia brigando na justiça por dias sagrados. Fico me perguntando quem precisa de Deus com tantos advogados que ele tem no mundo e, para finalizar, incluo aqui um comentário que ouvi outro dia num programa de TV, “é o homem que tem criado Deus a sua imagem e semelhança”. Achei ótima essa ideia! Abraço e desculpe se te aluguei demais.
    Ed.

    1. Eduardo, não me alugastes demais não – adorei a explicação sobre os nomes dos dias. Quanto à razão pela qual o sagrado recai sobre a sexta, sábado ou domingo, me parece desimportante.
      Uma coisa te digo: acho que nunca precisamos tanto de Deus, não importa como você o entenda, como você o veja. Não precisas crer ou seguir religiões, o que dizem os “advogados” de Deus. Somos todos, igualmente, filhos dele, portanto somos não precisamos de outros. Siga o preceito do amar ao próximo como a si mesmo (parece fácil, mas é dificílimo, pense em amar teu inimigo), e estás no caminho certo do fonômeno sagrado. Essa é minha visão.
      Obrigado pelo teu comentário, venha sempre aqui!
      Abração dp Lourenço

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