Foto: Luiza Sigulem
Foto: Luiza Sigulem

O enorme estacionamento e, principalmente, a porta giratória – que gira sem parar – lembram de um cenário de musical de Hollywood. Ou de Bonequinha de Luxo. Não sei porque, sempre penso nisso quando entro em um hotel de muitas estrelas. Parece que o show vai começar. Turistas americanos, aeromoças rebocando a bagagem, grupinhos falando idiomas estranhos. Tudo pode acontecer em um lugar como esse.

Lázaro Ramos estava em São Paulo por dois motivos. Veio lançar seu primeiro livro, o infantil A Velha Sentada, em São José dos Campos, e apresentar o Prêmio Bravo!, na Sala São Paulo.

Ele desce de bermuda jeans e camiseta vermelha, queixando-se de ataque de sinusite.

Já havia encontrado com ele duas vezes antes. A primeira foi a mais incrível. Eu estava esperando a minha vez de ser atendido na recepção de um prédio da Avenida Angélica. Só conseguia ver os ombros do cara na minha frente. “Conjunto 61”, pediu ele. O mesmo que o meu. Ele estava indo para o mesmo lugar que eu. Subimos juntos no elevador. Sentamos na sala de espera.

Puxei assunto: “E o tempo no Rio?”. Quando finalmente ele soube em que revista eu trabalhava, falou: “Eu fui a capa do número 1. Está na hora de vocês me entrevistarem de novo”.

Pois é, estava. Exatamente para isso nos sentamos lado a lado em uma das mesas do saguão desse grande hotel.

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Garoto bom

Brasileiros – O designer André Gurgel é um personagem inusitado dentro do repertório normalmente destinado a atores negros em uma novela da Globo, não é?

Lázaro Ramos –
Eu estava muito confortável nos projetos especiais há dois anos. Ó Pai, Ó… Decamerão… Dó-Ré-Mi-Fábrica… Durante um tempo, fui noveleiro e na adolescência a minha novela favorita foi Vale Tudo. Quando Gilberto Braga me chamou, eu estava me preparando para voltar a fazer cinema. Mas era o Gilberto Braga. Eu fiz duas novelas apenas, fui chamado para fazer outras seis e não aceitei por não me identificar com os personagens e alguns deles por serem estereótipos.

Em Duas Caras você fez um favelado…
Mas dentro de um outro contexto, um contexto de protagonismo, um personagem de qualidade que estava lá contando a história detalhadamente, não apenas para fazer número.

E você teve cenas de amor, de cama, com a Débora Falabella, não foi? 
Mas essa é uma questão supercomplexa, não é uma situação pronta. Cada personagem que eu faço é um passo, cada novela, cada filme tem uma estratégia diferenciada. Nessa, por exemplo, quando Gilberto Braga me convidou, a gente conversou muito sobre isso. Eu falei: “Gilberto, eu acho importante fazer personagens que tenham temáticas voltadas para uma reflexão social, racial, mas eu acho importante também, e também tenho desejo como artista de poder versar sobre outros assuntos, outras coisas”. O Gilberto e o Ricardo Linhares são os autores da novela… Gilberto foi supercompreensivo e falou: “Vou junto com você, vou apostar em outra coisa”. Mas isso acho que é resultado de reflexões anteriores. Não sei se seria possível – para mim seria possível -, mas não sei se o autor ou produtor de elenco me escalaria para um personagem como esse alguns anos atrás. O mote dele é que o sexo é uma coisa tão sagrada que ele transa com cada mulher só uma vez. É um designer muito bem-sucedido, mas tem um lado dele que é esse: uma mulher por dia.

É um mau caráter?
Não, é um anti-herói. Ele não engana, diz claramente que vai ser uma vez só. Não promete mais nada além disso. Não fica apaixonado. É uma vez só e parabéns.

É um bon vivant? 
Ele trabalha em uma empresa, faz design para vários objetos, tem uma cadeira dele que foi exposta no MoMA.

Você já sabe direitinho quem ele é, já tem o texto?
Eu recebi os primeiros 24 capítulos.

Você vai contracenar com a Camila Pitanga, com a Deborah Secco?
A Camila é a mulher com a qual ele fica mais tempo, com a Deborah a relação é de gato e rato…

Mulheres bonitas não vão faltar na sua cama, então?
Provavelmente… para nossa alegria… Se bem que cenas de cama agora estão mais restritas nas novelas…

Negócio de proibir cena de sexo em novela é bobagem, primeiro a criança nem se interessa, então não assiste. Isso deforma a percepção da criança sobre sexo. Se é escondido, deve ser uma coisa feia. Quando eu era criança, achava que filho nascia de beijo…
Eu nunca achei isso. Eu tinha dois primos para me ensinar. Meu primo André me ensinou direitinho como é que é a coisa. Eu fiz muitas cenas de sexo em filme, em televisão fiz muito poucas. Só em Duas Caras. A minha preocupação sempre é: se a cena de sexo está contando a história ou é só com intuito voyeurístico. É muito engraçado o que eu vou te dizer. No filme Cidade Baixa, tem quatro cenas de sexo. E pode parecer loucura e subjetivo isso, mas a gente conversava o que cada cena queria dizer, qual parte da história cada cena iria contar. Cada cena tinha uma textura diferente. É um pouco como as músicas do Brecht: que não são músicas apenas para acompanhar, elas contam a história. Quando a cena de sexo é só para satisfazer o desejo de quem está visualizando, eu questiono. Sexo é uma coisa muito diferente para cada um. Eu fui fazer um filme em Portugal, chamado Grande Quilate e tinha uma maquiadora que falava muito sobre sexo. E eu comecei a filmá-la com minha camerazinha, ela me maquiando e eu filmando. E ela falou frases incríveis. Ela disse que teve uma vida sexual muito intensa, mas depois, quando chegou na menopausa, ela viu que o sexo é uma coisa tão desnecessária… Inclusive não entendia como é que a gente entrava em um buraco tão nojento! E que agora ela estava vivendo uma vida tranquila, porque ela não tinha mais necessidade de sexo, ela achava que sexo era manipulação. E mais ainda – é como eu estou batizando esse curtinha metragem. Ela falou uma frase sensacional que é assim: “Eu queria ter nascido com menopausa, assim eu teria sido menos puta. Eu achei sensacional. E ela estava muito feliz desse jeito.

A VELHA SENTADA
Certo dia, Dona Dulce, uma vizinha fofoqueira, daquelas que se metem na vida de todo mundo, disse à dona Elenita: “Não é que eu queira me intrometer no jeito que você cria sua filha, Elê. Mas essa menina é muito apagada. Parece uma velha. Será que essa menina tem uma velha sentada dentro da cabeça?”. (…) E assim, Edith resolveu sair em busca da velha. (…) E essa decisão foi tomada depois que ela me chamou. Sim… depois que ela chamou esta criatura maravilhosa que está contando esta história. Esta personalidade fantástica, sensacional, incrível e modesta. (Trecho de A Velha Sentada, de Lázaro Ramos, Ed. Uirapuru, 2010)


Pode ser propaganda enganosa. Ela estava bancando a difícil para você, vai saber. Porque com menopausa a mulher não engravida, é uma libertação sexual…
O problema do sexo é que todo mundo quer mandar na genitália alheia! A genitália é de cada um e cada um faz o que quer da sua genitália.

Esse deveria ser o primeiro mandamento…
Tem um monte de fiscal de genitália por aí.

É uma coisa incrível. É o tipo da coisa…
O que se faz entre quatro paredes, se não for ilegal, se não for um crime, o que é que tem de se meter na vida dos outros?!

Essa maquiadora… Como ela se chama?
Sano. Olha que nome maravilhoso…

Sano? Isso é nome de homem.
Ela é misturada… Portuguesa com outra nacionalidade.

E como é que ela era ou é? Bonitinha?
É uma senhora bonita… Chegando nos 60, uma senhora bonita. Então, olhe, de um lado tem essa maquiadora que acha essas coisas de sexo e outro dia eu ouvi a história do músico nigeriano Fela Kuti, que casou com 27 mulheres!

Tem de ter muita bala, e uma mansão para hospedar todas, como a mansão da Playboy.
Dá muito trabalho, eu não teria habilidade, disponibilidade nem resistência física para tanto.

Nem o rapper tem. É que ele deve ter muitos amigos para dividir. O máximo que eu tive foram duas namoradas de uma vez. Isso nos anos 1980, final dos tempos de amor livre. As duas tinham o mesmo nome. Eram outros tempos. Nos anos 1960, 70, era normal transar no meio de uma festa. Você encontrava a garota, se cobria com um lençol e transava na sala mesmo.
 
Eu sou de outro tempo, o tempo do medo de pegar AIDS. Minha primeira transa foi com camisinha.

É péssimo, às vezes, até você colocar, vai tudo por água abaixo!
É verdade. Mas o que eu curto são casamentos longos. Agora estou há cinco anos com a Taís. Antes dela, tive outros dois casos longos, de mais de quatro anos. Eu gosto de casamento.

Casamento, tudo bem, mas de que forma: camas separadas, quartos separados? 
Eu sou a favor de dois banheiros.

Mas não existe quarto com dois banheiros.
Um fica com o banheiro do quarto, outro com o do corredor.

Já sei com quem fica o do quarto. Mas, enfim, o fato é que, embora haja controvérsias, é possível viver sem sexo. Impossível é viver sem comer. Embora tenha gente que diga que está comendo luz hoje em dia, você já ouviu essa história? Gente que come luz?
Ah, aquela moça lá…

Brasileiros – Você acredita?
Não! Deve fazer um lanchinho escondido.

Brasileiros – Não acredito em jurada do Silvio Santos… foi a Flor que disse isso, não foi?Ah, é? Eu já vi foi outra. Aliás, eu vi um outro. Ele foi filmado durante 14 dias sem comer. Depois, fizeram exames de sangue no cara e tudo estava normal. Na hora que trocaram a bateria da câmera, ele comeu uma bolachinha, deve ser isso… Se eu me alimentar só de sol, eu vou morrer! Vou desmaiar. Eu como pra caralho!

Você falou “comer”. Gozado, só em português se diz “comer uma mulher”. Em inglês não existe “to eat a woman”, nem qualquer outro idioma.
Não. E, na realidade, é o contrário: quem come é a mulher! Porque quem tem a boca é ela!

Eu penso a mesma coisa. Não entendo certas expressões. Quando eu cheguei ao Brasil, criança, eu ouvia alguém dizer “pois não” e isso queria dizer sim. Enquanto “pois sim!” queria dizer não! O homem diz que come a mulher e não é nada disso…
Quem tem a boca é ela!

É ela que está comendo você. Mas imagina você dizer, no Brasil “a mulher me comeu”! O que vão falar de você?
Vão dizer que saiu com travesti.

Exatamente. E a outra contradição é a seguinte…
Mas eu acho uma frase absolutamente erótica, absolutamente sensual.

Qual?
Eu vou te comer.

Ah, é.
Não no sentido físico, mas no sentido de colocar para dentro, de possuir, ter lá dentro. Eu acho antropofágico.

A contradição é essa. Sabe a frase do Jack Nicholson? “Eu não pago mulher para ela vir, eu pago para ela ir embora!” É mais ou menos como diria o seu novo personagem…
Eu tô ansioso para começar a fazer esse personagem, porque não é um lugar que eu visite muito, já deu para notar, né?

O quê?
O lugar em que esse personagem vive, né?

Que lugar é esse?
Eu gosto de ser bom garoto… E esse personagem é um garoto mau. E eu não frequento muito esse lugar.

Qual, por exemplo? O Bahamas? Conheceu o Bahamas?
Não. Por que você diz isso?

Porque deve ser um dos lugares que supostamente teu personagem poderia frequentar…
Ah… Eu quis dizer lugar na vida.

Mas o Bahamas você conhece, aquele que foi fechado…
Ah, é daquele careca, eu vi reportagem. 

Começou vendendo hot dog na porta do Objetivo… Eu também não gosto desses lugares, conheci profissionalmente, mas não gosto, acho um horror… Paga-se para entrar. Eu não vejo graça naquelas mulheres. Mas tem homem que só transa com puta. E homem fino, gente que sai em coluna social…
Ainda hoje?

Sim, ainda hoje. É universal. Como tem também pessoas acima de qualquer suspeita que escolhem mulheres por capa de revista. Não capa de Playboy, capa de revistas de família.
E consegue?

Brasileiros – Sim. 
Eu estou dizendo para você que sou muito ingênuo!

Conheço a história de um cara muito rico, culto, legal, só que, até por viver muito protegido, prefere conhecer mulheres por capa de revista do que em lugares públicos. E tem as pessoas que prestam esse serviço, fazem a ponte entre o cara e a moça da capa. Você tem de fazer uma matéria sobre isso. Já fez uma matéria?

Essa pessoa, essa mulher, começa a cercar a moça da capa. Começa levando presentes para ela, dizendo: “Olha, fulano te mandou isso”. Alguma coisa de que ela goste muito e te convida para jantar. É um cara maravilhoso e tal… E ele deixa claro que não é por uma noite, é para casar, tanto que casou… Uma dessas moças da capa deu o nome do filho em homenagem àquele cara…
Nenhuma mulher nunca quis fazer isso comigo… Olha como eu estou mal… Eu vou sair na capa da Brasileiros?

Não sei (risos).
Você podia me dar uma ajudazinha. De repente, liga uma milionária aí… (risos, é claro)

E não é impossível. As mulheres estão mais atrevidas hoje, ao menos certas mulheres, elas é que levam os homens pra cama…
Eu nunca tive essa oportunidade. Não estou provocando desejo em ninguém.

O personagem da Maitê Proença em uma novela atual não é assim?
 E eu lá quero saber de personagem! (risos) Uma ricaça dessas me liga: “Lázaro, tudo bom?”… Nunca uma mulher me ligou para dizer: “Lázaro, eu quero te comer”.

Elas não falam assim diretamente, como os homens. Antes, provavelmente, convidam pra jantar. Mas quando estão entre elas, elas falam essas coisas e mais ainda…
Falam mesmo…

Por mais bem comportadas que sejam na frente dos homens, em um ambiente só de mulheres, elas falam coisas cabeludas…
Mas o que a gente ia achar se a mulher falasse assim com a gente? Será que ia dar um tesão ou a gente iria reprimir…?

Comigo não teria nenhum problema. Nunca teve. O que acaba com o tesão é a burrice. O que broxa é burrice.
É verdade.

Pode ser muito gostosa, mas se for burra, broxa. E tem o oposto: pode ser inteligente e transar bem ao mesmo tempo. Uma das frases mais cretinas que eu já ouvi é: “A mulher ideal tem de ser uma lady na mesa e uma puta na cama”. Parece que a puta tem o monopólio do prazer! A mulher para fazer sexo bem tem de ser puta.

 Provavelmente, quando essa frase nasceu não foi com esse propósito.

Será que foi em uma novela do Gilberto Braga?
Não, puta não pode dizer na TV.

O sexo é como uma planta. Mas foi criminalizado pela sociedade, assim como a maconha…
Quando você fala de maconha e de tráfico, eu não tenho opinião. Vou te surpreender, todo mundo acha que eu fumo, mas eu sou careta. Quando me perguntam a respeito da descriminalização, eu não tenho resposta.

Mas a respeito de mulher você tem: eu prefiro mulher pequena. Mulher grande é… muito grande.
Você prefere mulher pequena?

Sim, é menor, ela cabe em um abraço. Não sei o que fazer com uma mulher grande.
Mulher grande tem lugar para pegar, Alex.

Eu disse mulher pequena, não mulher magra. 
Um amigo meu tem uma frase que é sensacional: ele gosta de mulher grande, que é pra ter o que escalar!

UM ANO, CINCO FILMES
Lázaro Ramos assistiu à primeira peça de teatro aos 14 anos. Aos 15, entrou na Banda do Olodum. “Foi um soco na cara quando eu vi o grupo.” Aos 21, seu amigo Wagner Moura o chamou a Recife para uma peça chamada A Máquina. “Não temos dinheiro para a passagem, paga a tua e vem pra cá.” Ele não foi. Uma semana depois, novo telefonema. E nova recusa. Só quando Wagner o convidou pessoalmente – “Já chega de ficar em casa, Lazinho, vamos para o mundo” -, Lázaro topou. “A Máquinafoi a grande transformação nas nossas vidas”, diz Lázaro. Na dele, na de Wagner e na de Vladimir Brichta. Todos foram contratados pela Rede Globo. E chamados para filmes. “Durante o espetáculo, fiz teste para cinco filmes e passei nos cinco. E então, em um ano, em 2002, eu fiz cinco filmes: As Três Marias, O Homem do Ano, Madame Satã, O Homem que Copiavae Carandiru. Eu ainda ia fazer Cidade de Deuse Uma Onda no Ar. Até hoje fico impressionado.”


Esse é o alpinista sexual. Para mim, o ideal sempre foi mulher pequena. Bonita, é claro. E que tenha…
Alex, está me parecendo que você é um homem com muitas regras! Você tem muitos conceitos e muitas regras.

Com o passar dos anos, você vai adquirindo esses penduricalhos…Vai se afirmando em alguns valores, é?

São valores que a gente só passa a confessar a partir de certa idade…
Ah, é?

É, quando a gente não tem mais vergonha de confessar certas fraquezas… 
Será que vai ser assim comigo também?

Ah, vai. Depois de velho, você vai poder falar qualquer bobagem porque tá liberado.
Você sabia que outro dia eu estava… Eu sempre fui uma pessoa que nunca precisou fazer atividade física, até dois, três anos atrás, sempre tive fôlego para tudo, nunca precisei controlar o que comia, sempre comi coisa gordurosa, bebia a quantidade que eu queria, e eu com 32 anos, agora, três, quatro meses atrás me senti envelhecendo. Por incrível que pareça. Pela primeira vez na minha vida, engordei. Não estava conseguindo correr. Olha isso. Estou falando de alguém com 32 anos de idade. Comecei a ficar gripado constantemente. Está vendo que estou com sinusite? É muito cedo isso, eu nunca pensei no envelhecer e eu com 32 anos pensando em envelhecer, é uma loucura, né! Eu comecei a pensar nisso. Fui a um médico – olha que maluquice – fiz um monte de exames… Agora tô meio fazendo regime… Tô fazendo atividade física para conseguir diminuir a barriga, não estou conseguindo. Eu achei que tudo isso ia chegar mais tarde.

Eu também.
Eu ainda acho que sou garotinho.

Como o tempo não existe, a não ser no calendário…
Eu achei muito cedo. Eu não me cuido. Nunca me cuidei. A minha alimentação é a pior possível… Não tenho horário para comer. O que dizem que é ruim é aquilo que eu como… Minha tia está mais firme do que eu.

Mas ela não vive no mundo estressado em que você vive. 
E é muito engraçado, ela sempre fala: “Minha perna está horrorosa, não consigo fazer nada…”. E faz tudo! É uma safadinha.

Ela está lá na casa dela, passa o dia sentada, tranquila, não se preocupa com nada. Você, não: você fica dez horas dentro de um estúdio gravando…
Comendo mal… meus horários de alimentação estão todos errados… Não tenho tempo para atividade física, a verdade é essa. Mentalmente há algum estresse, porque todo dia você recebe o texto e tem de decorar para o dia seguinte…

Você não pode falhar! Você pode falhar?
Não tem espaço para ficar doente!

O Pereio é que faltava com estilo. Um dia, ele foi acordado por um telefonema: “Pereio, aqui é do Projac. Você grava hoje. Venha logo”. E o Pereio, bocejando: “O iluminador já chegou? Chegou. O maquiador já chegou? Chegou. O diretor já chegou? Chegou. Então cancela a gravação porque o ator não vai chegar!”.
O Pereio é um cara maravilhoso. Eu já trabalhei com ele duas vezes, a segunda vez foi uma participação em uma novela. Ele era um traficante – traficante de 60 e poucos anos já era uma loucura -, mas no meio da gravação o Pereio sumiu. Ninguém sabia onde estava. “Vamos gravar. Cadê o Pereio?” Todo mundo procurando o Pereio. Daqui a pouco, vem o segurança: “Olha, o Pereio aqui”. Ele encontrou o Pereio deitado em umas britas da cidade cenográfica, ele deitado nas britas, dormindo. “Pereio, vamos gravar!” Ele levantou e falou a seguinte frase: “Eu adoro brita…”

O Pereio é o rebelde contra a ditadura, um rebelde com causa, talvez com menos causa hoje, mas ainda com causa… Mas eu acho que você, o Wagner Moura, o Matheus Nachtergaele são como… como Chico Buarque, Caetano e Gil!
Nossa, que comparação!

Mas é! Vocês são como os três grandes – Paulo Autran, Raul Cortez e Walmor Chagas. Vocês são a elite, vocês são os melhores.
É mesmo? Você acha isso?

Você acha que não tem isso?
Eu acho que o Madame Satã foi um pouco assim.

OS 3 MAIS
Considerando atuações em cinema, teatro e TV, Lázaro Ramos, Matheus Nachtergaele e Wagner Moura são os três principais atores brasileiros da atualidade, tão grandes quanto Paulo Autran, Raul Cortez e Walmor Chagas
Raul Cortez
Paulo Autran
Walmor Chagas
Matheus Nachtergaele
Wagner Moura


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