Foi com espanto e horror que li, outro dia, no New York Times: gatos caseiros americanos são serial killers. Pesquisas revelaram que os felinos supostamente domesticados são as criaturas que mais matam outros animais neste país. É só deixar o bicho sair para uma voltinha e ele se transforma em Jack, o Estripador. Vai abatendo mamíferos, aves, répteis, batráquios e peixes em quantidades capazes de abalar ecossistemas. A foto que ilustrava a reportagem tinha um bichano com um coelho morto na boca. O que comprova a frase: “Quem não tem cão, caça com gato”.
Ao que tudo indica, o melhor é largar o cão em casa e levar logo o gato num safári. Os números não mentem. Segundo o Instituto Smithsonian de Conservação Biológica, os bichanos abatem anualmente 12,3 bilhões de mamíferos e 2,4 bilhões de aves. Você leu corretamente, pasmo leitor: são BILHÕES! Estatísticas que colocam os felinos par a par com o aquecimento terrestre em termos de desastre ecológico.
Que ninguém me acuse de odiar gatos. Já tive dois: um vira-lata e um persa, e os amava. Embora a recíproca, desconfio, não fosse equivalente. No meu caso, porém, salvei a fauna da Vila Madalena em São Paulo, já que eu mantinha os bichanos trancados no apartamento. Mas me arrepia, agora, pensar que aquelas fofuras peludinhas dormindo no sofá, na verdade, sonhavam com carnificinas.
Era de se esperar que os felinos sem dono, deixados nas ruas para se virarem sozinhos, teriam mesmo de ganhar o almoço e o jantar na unha. Mas o que dizer daqueles animais que têm refeições garantidas – até com rações importadas? E olha que alguns desses produtos parecem apetitosos ao ponto de poderem ser servidos como canapés em festas. São, vê-se agora, como caviar esfregado em focinho de porco. Não de gato, porque esse devoraria ovas de esturjão com entusiasmo igual à degustação de um corpinho de esquilo.
Sim, porque o Smithsonian descobriu que esses estupendos caçadores preferem esquilos, coelhos e outros mamíferos de pequeno porte. Nada de confrontar ratazanas. Quem já viu um rato de metrô em Nova York entende essa estratégia: os roedores da urbe andam armados com fuzis automáticos e soco inglês. É aconselhável deixar essas criaturas de lado. Mas uma lebre gordinha é jogo para o matador implacável.
Os pesquisadores dizem que o gato doméstico já é a maior ameaça – introduzida pelo homem – à fauna nativa americana. Eles aconselham não deixar o bichano dar suas voltinhas, mas mantê-los trancafiados. No entanto, a solução dá o que pensar. E se o raio do bicho, sedento de sangue, resolve esfrangalhar o dono? Conheci um importante guerrilheiro da VPR que teve um olho aniquilado pelo seu gato. E olhe que o homem era o melhor atirador da organização. Dizem que superava o Lamarca.
Porém, imagino que no Brasil o genocídio silvestre não seja tão grande como nos States. Afinal, o controle da população felina é feita com gusto. Quem passa na frente de estádios de futebol antes do jogo testemunha a grande quantidade de gatetos fritando nas churrasqueiras. E os couros vão abastecer as gloriosas baterias das escolas de samba.
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