Queridos, hoje começo uma séria de 3 posts sobre Jean Genet, especificamente sobre a vinda dele a São Paulo há 40 anos. Essa é uma efeméride que não pode passar em branco, Genet é importante demais para todos nós homossexuais, e , por isso, de hoje até domingo, tentarei resumir o que na realidade caberia em um livro. Já falei de Genet aqui, expliquei que ele é, no meu conceito, o maior autor da literatura homossexual do século XX. Respeito profundamente Gide, adoro Mishima – que receberá as devidas homenagens pelos 40 anos de sua morte no segundo semestre, mas Genet será nosso personagem nos próximos dias.
Genet nasceu em Paris, em 1910. Era filho de uma prostituta, que cedo o abandonou, entregando-o para ser adotado por uma família pobre do norte da França. Recebeu boa educação da família e na escola da cidade, lia mais que seus colegas, e rapidamente demonstrou uma mente aguçada para a escrita – e para pequenos delitos. Como sempre adorou mentir ao recontar seu passado, exagerando nos fatos sobre si mesmo, existe sempre alguma controvérsia acerca de sua juventude, mas o que realmente foi registrado é que ele cometeu uma série de pequenos roubos, furtava bilhetes de trem e objetos de pequeno valor, o que o levou à prisão mais de uma vez. Na prisão teve contato com o universo dos excluídos, o submundo de homens confinados, em que o sexo homossexual era uma realidade, e daí saíram suas primeiras e mais marcantes obras. Nossa Senhora Das Flores, publicado em 1943, é quase autobiográfico, passa-se dentro de uma prisão, e seu conteúdo homoerótico levou Jean Paul Sartre a chamá-la de “Épico da masturbação”. No início do século passado, Proust já havia nos resgatado da total inexistência na literatura através do Barão Chalus, que surge no livro Sodoma e Gomorra, parte da série de sete livros chamada Em Busca do Tempo Perdido. Proust descreveu o personagem com uma linguagem floreada, o desejo e a manifestação sexual ficaram ao largo. André Gide foi mais fundo em Corydon, em que mostra como a homossexualidade sempre esteve (sabemos disso) presente em todas as sociedades, era tratada e chamada apenas como sodomia, mas praticada sempre nas sombras. Genet foi no nervo, no cerne da questão, passou ao largo das longas explicações de Gide sobre o sexo na Grécia antiga, e descreveu o desejo físico, a atração sexual de um homem por outro, e entra em detalhes em Querelle de Brest, escrito em 1947. Aí começa uma longa história a ser contada amanhã e depois…
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