Gibis nas telas

Quem ainda aguenta filmes com heróis de histórias em quadrinhos? Quer me ver virar o Hulk é só falar de nova produção com criações da Marvel Comics. E os cinemas do mundo estão parecendo bancas de revistas: cheios de gibis. É Homem Aranha, Taturana, Percevejo, Super Metrossexual, Mulher Gato, Melancia, Piranha, Carter de Marte, Desembreio de Plutão, Camisa de Vênus. E dá-lhe gente esquisita. Todo mundo com poderes fantásticos, mas com a profundidade de um pires.

Minha mãe ainda guarda uma fabulosa coleção de gibis que amealhei durante a infância, adolescência e começo da vida adulta. Tenho certeza: naqueles três armários abarrotados de revistinhas, haverá algumas que valeriam fortunas em feiras de colecionadores. Fui um obcecado.

Tanto que partia de ônibus, desde o túnel da Avenida 9 de Julho, em São Paulo, até o aeroporto de Congonhas, numa época em que ainda não tinha sido aberta a Avenida 23 de Maio, só para roubar livros do TinTin, na Livraria La Selva. Meu amigo Wagner e eu fazíamos uma dupla de criminosos de sucesso. Em zelo de colecionadores larápios, furtamos até obras em francês. Traduzimos a historinha com a ajuda de um dicionário. Até hoje guardo o resultado do crime e da empreitada literária. E essa confissão me qualifica como crítico.

Aliás, virei repórter, em grande parte, graças ao TinTin. Claro que fui assistir à nova versão filmada, produzida por dois fãs – Steven Spielberg e Peter Jackson. Até gostei, mas achei que faltou a textura do papel, além de não gostar da cara muito arredondada que deram ao herói.

Lembro-me de ter feito uma entrevista com Jeffrey Katzenberg – produtor, um dos sócios dos estúdios DreamWorks – e sugeri, depois da conversa, que eles fizessem a história de Carter de Marte, um clássico do autor Edgar Rice Burroughs. Na época, Katzenberg alegou que os detentores dos direitos autorais eram ossos duros de roer e viviam roendo-se entre eles. Agora, parece que a Disney conseguiu papar o farelo de ossos. Para tremendo desagrado desse fã que há mais de uma década vinha pedindo o filme. E, ao final, ninguém gostou da fita.

Já anunciam uma Mulher Maravilha que, agora, é lésbica. Que me ne frego com a preferência sexual da mocinha. Não estou interessado nem se a Maravilha partir para um mano a mano com a Mulher Gato. Na internet, tem vale-tudo sexual envolvendo gente, animais de pequeno e médio portes, utensílios domésticos e veículos automotores. Vai ser difícil superar os filminhos amadores de sacanagem com uma dona de casa vestida de Tarzã e um auxiliar de contabilidade fazendo o papel da macaca Chita.

O pior é que agora, nas ruas, tem super-herói saindo pelo ladrão. Recebo notícias de que já existe um Batman em Taubaté. Enverga fantasia mais cara que um terno Armani: R$ 9 mil. E, em Nova York, estamos pelo pescoço com cretinos fantasiados, se metendo a combater o crime. Num embate que, confesso, torço pelos malfeitores. Que não me venham socorrer, pois juntarei forças com o ladrão. Vão salvar o quinto dos infernos.


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