“Glauber Rocha não está morto, ele representa o Brasil e só um homem tem a alma mais brasileira que a dele: Garrincha”, as palavras são do cineasta Werner Herzog, diretor dos clássicos Fitzcarraldo e Aguirre, a Cólera dos Deuses. “Eu sou fascinado por Garrincha, sua alegria, resume a figura do brasileiro”, disse em palestra de abertura do 3º Congresso de Jornalismo Cultural, que aconteceu ontem, dia 17.
Convidado especial para a abertura do congresso, organizado pelo SESC Vila Mariana e Revista Cult, Herzog falou sobre seus projetos atuais e se lembrou do contato que teve com Glauber, homenageado do congresso. O brasileiro e o alemão moraram juntos, durante um mês, na Universidade de Berkeley, tempo suficiente para Herzog se fascinar pelo cineasta e seu estado de origem, a Bahia, que inclusive é o lugar em que se passa um dos filmes do alemão, Cobra Verde, filmado na década de 1980.
Perguntado sobre a produção cinematográfica brasileira atual, Herzog admitiu, meio debochado, que não é muito antenado em cinema. “Eu assisto, no máximo, dois ou três filmes por ano, mas eu vi os trabalhos recentes do Walter Salles e posso dizer que existe vida no Brasil.”
Se Herzog não é muito fã de assistir a filmes, sua produção, por outro lado, é extensa. Há 60 dias, seu filme Cave of Forgotten Dreams, um documentário em 3D sobre as pinturas rupestres de uma caverna de acesso restrito no sul da França, estreou nos Estados Unidos. Apesar da recente estreia, Herzog começou sua palestra se desculpando pelo fato de ir embora do Brasil ontem mesmo, pois tinha de prosseguir com as filmagens de outro documentário, o Death Row. “Estamos filmando o corredor da morte de uma penitenciária no Texas, não é um filme a favor ou contra a pena de morte, mas a narração da história dessas pessoas que sabem quando e como irão morrer”, explicou Herzog.
Consagrado no cinema, o alemão disse, no entanto, preferir o trabalho de escritor. Seu livro “Caminhando no Gelo”, trata de uma viagem de mil quilômetros, de Munique a Paris, que o diretor fez andando. “Viajar a pé, vivenciar o mundo e ter experiências reais é o único modo de se manter criativo”, disse Herzog. O diretor, aliás, acredita que a tecnologia, em especial as redes sociais, tem sido responsáveis por limitar a vivência cultural das novas gerações. No entanto, ele não demoniza os avanços tecnológicos. “Ela facilitou a vida dos cineastas, hoje em dia não existe desculpa para não se fazer um filme.”
Herzog ainda comentou o fato de nem todos os seus filmes chegarem ao Brasil. “Eu abri mão de fazer a produção de meus filmes e eles pararam de ser distribuídos em determinados lugares. Agora, eu vou assumir isso de novo e meus trabalhos chegarão ao Brasil”, prometeu.
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