Pé d’água em Riverdale. Está caindo o mundo. Parece que vi uma arca, cheia de bichos, navegando na enchente. As televisões pifaram, é claro. Estamos aqui como aqueles pobres-diabos que não têm receptores de transmissões digitais. Só vemos chuvisco na telinha e tempestade pela janela. A internet, porém, segue funcionando. É meu único contato com o mundo exterior. E foi por ela que recebi o alerta do Fernando, da revista Brasileiros. “E aí, Osmar? Zebra americana. Escreva algo sobre o jogo pra gente colocar no site.” Daqui, respondo exasperado: “Quanto está? Quanto está?”
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Jeeesus, our boys are winning? Over powerhouse Spain? Un-Fucking-believable!!! Acesso o site americano MSNBC, sports. Nada! Nem uma única palavrinha às 16 horas desta quarta-feira. Ontem já não haviam sequer mencionado o jogo nos noticiários de tevê. Era como se os Estados Unidos não estivessem na Copa das Confederações. Reclamei com aquela santa que mora aqui em casa. Sua resposta: “Este país não merece o time que tem. E é bom assim: imagine se os americanos começassem a jogar bem também o futebol. A seleção teria mais um competidor formidável”. A santinha é gringa, mas torce pelos Canarinhos. E tem razão no veredicto.

Fernando me avisa: “2 x 0 EUA! 38 minutos do segundo tempo!” Em desespero corro para o escritório do zelador do prédio. Ele é o romeno Harry. Não faz outra coisa a não ser acompanhar o futebol ao redor do planeta. Sabe recitar, por exemplo, o nome de todos os times, jogadores e resultados de campeonatos do Azerbaijão à Islândia, dando até relatos sobre as condições físicas de cada atleta. Nem uma fisgada na panturrilha de um zagueiro mongol lhe escapa.

Chego a seu covil. Estão lá: o usual acampamento de ciganos romenos, mais dez paquistaneses que reformam as escadarias, dois equatorianos que vieram tratar do jardim – agora submerso. Tem-se uma babel de torcedores. Ouvimos, infelizmente, um radinho de ondas curtas que transmite em romeno. Harry traduz o que pode. Volto à infância: Suécia, 1958. O rádio Spika narra a luta dos brasileiros contra o país sede.

Apita o árbitro! Fecham-se as cortinas do espetáculo! Cobre-se de luto a torcida espanhola. Vão para casa! Vão ser toureiros! O apelido de “Fúria”, para a esquadra de Espanha, explica apenas o sentimento de sua torcida.

No covil de Harry é festa. Nós, os verdadeiros americanos, vindos de cantões insuspeitados do planeta, somos o povo belo desta nação. Lá fora, só chuva e indiferença. Este país não merece o time que tem. Sorte dos Canarinhos. Go USA!


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