Governo oficializa anistia de Marighella

O Ministério da Justiça publicou nesta sexta, dia 9, 34 sessões no Diário Oficial tratando de declarações de anistia post mortem e concessões de reparação indenizatória para as famílias de perseguidos políticos durante o período da ditadura militar (1964-1985). Entre os nomes anistiados está o do líder comunista Carlos Marighella, considerado “inimigo número 1” do regime no Brasil e assassinado por seus agentes em 1969.

“Isso resgata a verdadeira história do país. Depois de o Marighella ser caluniado por tanto tempo, conseguimos esse reconhecimento”, diz a militante Clara Charf, 87, companheira do líder desde o fim dos anos 1940 até o seu assassinato. A família de Marighella não solicitou reparação econômica.

Baiano, nascido em 1911 e militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB) desde jovem, Marighella foi deputado na Constituinte de 1946 e membro do comitê central do chamado “Partidão” até 1967. Rompeu com a sigla naquele ano por acreditar que o único caminho possível na luta contra a ditadura era o da resistência armada.

Fundou em seguida a Ação Libertadora Nacional (ALN), responsável por ações como a tomada da Rádio Nacional, o saque ao Trem Pagador, o justiçamento do empresário Henning Boilensen e o sequestro de embaixador americano, entre outras. Com a fechada do cerco aos guerrilheiros, foi assassinado em uma emboscada comandada pelo delegado Fleury, em São Paulo, em 1969.

Antes da anistia política, divulgada agora, o Estado já havia reconhecido, em 1996, que fora responsável pela morte de Marighella, numa conquista da família após anos de batalha. Mas, para Clara, a vitória não é apenas da família, mas de toda a nação. “A nação reconhece as barbaridades feitas durante o regime militar, e reconhece assim que aquela luta foi legítima, foi por liberdade”, diz ela.

Desde o ano passado, que marcou o centenário do nascimento de Marighella, a história do líder ganhou destaque inédito no país. Foi lançado o documentário “Marighella”, com música composta por Mano Brown; saiu o livro “Marighella: O Guerrilheiro que Incendiou o Mundo”, de Mário Magalhães, resultado de anos de pesquisa; e o novo CD de Caetano Veloso promete vir com faixa inspirada no comunista. Perguntada sobre tamanho destaque e sobre o reconhecimento da anistia, Clara Charf se emociona e diz apenas: “É resultado de muita luta”.


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