Gripen, tecnologia do futuro

 

Foto: SAAB / AB
Foto: SAAB / AB


A escolha do caça sueco Gripen NG
como a nova aeronave de combate da Força Aérea Brasileira, além de dotar o País de um avião supersônico de projeto moderno e capaz de fazer a defesa do espaço aéreo com eficiência, vai representar um salto tecnológico para o País, a Embraer e toda a indústria aeronáutica sediada aqui, nacional ou estrangeira. A explicação é simples e tem um precedente histórico bem-sucedido, ocorrido no final dos anos 1980: transferência total de tecnologia.

Isso aconteceu quando a FAB comprou o jato AMX, bombardeiro de ataque ao solo, que era fabricado pela empresa italiana Aermacchi. O contrato determinava que a Embraer passaria a atuar em conjunto com os italianos, recebendo e absorvendo a tecnologia dos jatos de combate, que, progressivamente, passaram a ser fabricados no Brasil já modernizados. O “efeito colateral” desse acordo foi capacitar a Embraer a construir aviões a jato de uso civil e militar, e se transformar no terceiro maior fabricante de aviões do mundo.

Para o ministro da Defesa, embaixador Celso Amorim, o acordo com os suecos vai ter efeitos e avanços tecnológicos e científicos ainda mais importantes para a indústria aeronáutica. “A transferência de tecnologia da SAAB para a Embraer e outras empresas que se integrarão ao projeto será total”, afirmou. O que o governo espera é que a Embraer, junto com a área tecnológica da FAB, absorva a tecnologia dos aviões supersônicos e, no futuro, possa desenvolver no País um jato de combate de 5a geração.

Ainda de acordo com o ministro, essa etapa do desenvolvimento tecnológico poderá ser conduzida com os suecos, mas as possibilidades de outros acordos seguem abertas. “Evidentemente que estaremos abertos a outras parcerias, buscando o maior avanço para o Brasil.”

Para o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, o novo acordo representa um final feliz de longos anos de marchas e contramarchas na luta da FAB em conseguir se reaparelhar. “Eu era brigadeiro novo, recém-promovido, em 1995, quando participei dos primeiros estudos do que se tornaria primeiro o Projeto F-X. Claro que agora tive a felicidade de, como comandante da FAB, ser um dos responsáveis pela conclusão do processo.”

Piloto de caça, Saito considera as diretrizes do projeto F-X2 – que no governo Lula substituiu a licitação anterior, lançada pelo governo Fernando Henrique – tornaram a escolha mais abrangente. Na verdade, o Ministério da Defesa e a FAB decidiram que o Brasil partiria para a escolha de um jato de emprego múltiplo: fazer a defesa clássica do espaço aéreo, com a interceptação de aeronaves invasoras e garantir a supremacia no ar; fazer o combate ar-ar, ar-mar e missões de ataque ao solo. Ou seja, um avião capaz de fazer o mesmo que os Mirage 2000 (que estão sendo aposentados), os F-5 (seguem na ativa modernizados) e os AMX. Além de, em versão naval que já está sendo projetada pela SAAB, poder operar de porta-aviões.

Os três finalistas – o vencedor, Gripen NG; o americano F-18 Super Hornet, da Boeing; e o Rafale, francês da Dassault – são aeronaves com características semelhantes (com multimissão). O Rafale, mesmo com a pecha de “avião invendável”, dada pelo jornal francês Le Monde, chegou a ser considerado favorito, em 2009. Mas um relatório técnico da FAB, no ano seguinte, colocava o Gripen em vantagem, em termos gerais. No vai e vem dos estudos e negociações, o F-18, um modelo que fez seu primeiro voo em 1995 e é uma modernização do antigo F-18 dos anos 1980, chegou a ser citado como provável ganhador depois que a Boeing anunciou que o pacote completo custaria US$ 7,5 bilhões.

Mas as tradicionais restrições que os americanos costumam fazer à transferência de tecnologia de seus equipamentos militares deixaram as autoridades brasileiras precavidas. Para piorar as coisas, as denúncias de Edward Snowden, ex-agente da CIA e ex-técnico da NSA, mostrando que os americanos espionaram telefonemas e e-mails do governo brasileiro – incluindo dados inclusive da presidenta Dilma Rousseff e da Petrobras – deixaram os americanos definitivamente no desvio.

Finalmente, no final do ano passado, o governo anunciou que a escolha tinha sido pelo pequeno, mas moderno e eficiente jato sueco. A vitória do Gripen NG – modelo derivado do Gripen J-39, maior, com mais capacidade de carga e raio de alcance ampliado para cerca de 1.350 km – foi explicada por Celso Amorim e Juniti Saito como uma conjugação de três fatores: capacidade operacional, transferência de tecnologia e preço do pacote completo inicial de 36 aviões e todo o tipo de equipamentos e acessórios fechado em US$ 4,5 bilhões.

Outra motivação foram os custos de operação e manutenção, um terço dos gerados pelo Rafaele e a metade dos do F-18. Mas a transferência total de tecnologia, com a Embraer sendo a empresa centralizadora e responsável pela montagem dos jatos no Brasil, terminou sendo o divisor de águas. Na verdade, a SAAB já leva do Brasil as asas e perfis supersônicos dos Gripen feitos na Suécia, pois são fabricados pela empresa AKaer, de São Jose dos Campos, interior de São Paulo, onde os suecos têm participação acionária.

Enfim, a disputa pelos novos centros e fábricas de alta tecnologia aeronáutica já começou. O prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho (PT), é um dos que comemora. A SAAB já teria um acordo com a Prefeitura para instalar na cidade uma das unidades envolvidas na montagem do Gripen. Ao que tudo indica, Celso Amorim tem razão. O Gripen NG vai marcar uma nova era na indústria do Brasil.  


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