Em editorial publicado em sua edição de segunda-feira (18), o jornal britânico The Guardian não poupou a votação que aprovou a admissibilidade do impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff pela Câmara dos Deputados no último domingo (17). De acordo com o jornal, “a situação atingiu um ponto lamentável”, e o impeachment está “longe de ajudar a resolver a polarização social e política enfrentada pelo Brasil”.
De acordo com o jornal, “a presidenta não foi implicada no escândalo de Petrobras”. A acusação que justifica o impeachment nada mais seria do que “um delito feito por todos os políticos brasileiros”, escreve.
Ainda segundo a publicação, quase todos os envolvidos na aprovação do impeachment são suspeitos de corrupção, inclusive Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara dos Deputados.
O editorial prevê um fracasso do eventual governo do vice-presidente, Michel Temer. Ele enfrentaria os mesmos problemas que acabaram derrubando Dilma. The Guardian acredita que, no futuro, a oposição vai acabar chegando ao poder inevitavelmente.
O texto avalia que o Brasil tem falhado diante das expectativas que foram colocadas sobre ele nas últimas décadas. Promessas sobre as vantagens a respeito de “seu tamanho, seus recursos naturais e sua distância das guerras e dos distúrbios de outras partes do mundo” perderam o brilho.
Segundo o jornal britânico, “essas promessas estavam quase ao ponto de serem concretizadas”, citando 2003 e a eleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Ao citar Lula e o PT, o jornal escreveu que ambos surgiram no cenário com “novas ideais, nova energia e um novo estilo em meio a políticos desfigurados pela corrupção, clientelismo e persistente procrastinação frente às questões prementes da nação”. “Era um verdadeiro partido, com uma base forte no País, uma ideologia coerente e, nas aparências, com forte sentido moral”, características que faltavam aos outros.
The Guardian cita a derrocada da economia, “devido ao declino dos preços das commodities exportadoras”. Em seguida, “o aumento do desemprego, a subida dos preços e o então difícil financiamento dos programas sociais introduzidos por Lula”.
O jornal também critica “a personalidade da presidenta, o abraço dado pelo PT a um sistema de corrupção” que atingiu o financiamento do partido em um escândalo. Conclui dizendo que “é difícil imaginar um cenário mais sombrio para o Brasil.”
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