Dois amigos presos por garimpeiros ilegais no meio da Floresta Amazônica tentam uma fuga impossível. O que poderia ser um roteiro perfeitamente brasileiro é a trama de Garimpeiro, primeiro longa-metragem de Marc Barrat, nascido e criado na Guiana Francesa, local onde o filme foi rodado. De ilustre desconhecido, Garimpeiro, que estreou quarta-feira (11) na mostra competitiva de filmes de ficção do 6º Amazonas Film Festival, passou à condição de grata surpresa.
[nggallery id=14495]
O filme mostra a viagem de Rodrigue (Tony Mpoudja) e seu amigo, Gonz (Julien Courbey), dois amigos recém-chegados à Guiana Francesa vindos de Paris. Rodrigue nasceu na Guiana, mas aos sete anos foi levado pela mãe para a França, onde cresceu. Ao receber a notícia da morte de seu irmão Myrtho (Jimmy Jean Louis), decide voltar para se reencontrar com o passado. Durante a viagem rumo a Regina, no coração da floresta guianense, ele busca respostas sobre seu passado.
Apesar de a trama girar em torno de Rodrigue, o grande mérito da película é mostrar um drama pouco conhecido do público nacional: o dos brasileiros que arriscam suas vidas em garimpos ilegais no país vizinho. Todos os anos, milhares de pessoas migram do Amapá, Pará e Maranhão em direção à Guiana Francesa para trabalharem nessas áreas. Quem não é preso, acaba sendo tratado como escravo em um sistema em que tudo tem um preço, inclusive a liberdade.
Barrat explica que a opção por filmar Garimpeiro, do qual ele também é o roteirista, nasceu da necessidade de mostrar esse drama ao mundo. “No meu país, isso é conhecido. Todo mundo sabe dos garimpos ilegais, mas na Europa, por exemplo, pouca gente discute isso”, afirma.
Garimpeiro conta com atores e figurantes brasileiros arregimentados no Amapá, Estado que faz fronteira com a Guiana Francesa, e em Cayena. Barrat diz que seria impossível fazer o filme sem contar um pouco da história dos brasileiros, principal mão de obra dos garimpos ilegais de seu país. “No filme, o chefe do garimpo é francês, mas, na realidade, os chefões dos garimpos são brasileiros. Eles ocupam todos os tipos de postos de trabalho dos garimpos”, conta.
A presença brasileira na película de Barrat não se atém apenas aos atores. Parte da trilha sonora incidental é composta por artistas do chamado “tecno-brega”, ritmo criado no Pará e que anima as festas regadas a prostitutas dos garimpos guianenses.
– Afinal, seu filme é guianense ou pan-amazônico? – pergunto.
– O que você acha? – retruca, Barrat. – Eu acho que meu filme é universal porque ele conta uma história que envolve várias nações e etnias (há menções às populações indígenas no filme). Acho que o recado é entendido em qualquer lugar onde ele possa ser exibido.
|
Deixe um comentário