No último dia 15, o jornal Folha de S. Paulo publicou artigo do engenheiro químico Francisco de Assis Esmeraldo. Ele é presidente da Plastivida Instituto Socioambiental dos Plásticos, e membro de diversos conselhos de entidades ambientais. Seu texto defendia os sacos plásticos. Foi motivado pelo anúncio de um grande supermercado de que começava a eliminar o uso dessas embalagens em suas lojas. A medida levaria em consideração as agressões ao meio ambiente causadas pelo produto incorretamente descartado.
O engenheiro químico Esmeraldo é contra o banimento de saquinhos plásticos. Alega que são 100% recicláveis, no acomodamento de lixo e no empacotamento de novas compras. Notou ainda, que em vários países essas embalagens são reaproveitadas na fabricação de outros itens, ou convertidas em energia nas usinas especialmente equipadas. Também divulgou pesquisa de opinião atestando que 71% das donas de casa preferem os sacos para o transporte de compras. O autor do artigo recomenda campanhas de conscientização dos consumidores para os modos apropriados de descarte do material.
Nos Estados Unidos, desde os anos 1970, múltiplas campanhas semelhantes vêm tentado conscientizar o público. Mas aqui onde moro, os sacos plásticos são chamados “Frutas de Nova York”. Isso porque a população continua jogando nas ruas os sacos, que enchem de ar com o vento e saem voando, até que enroscam nos galhos de árvores. O arvoredo está carregado de “frutos” e não há esforços que deem conta da colheita. Pássaros, muitas vezes, comem parte da safra e morrem engasgados ou envenenados. Por enquanto, os apelos publicitários não estão dando os resultados desejados. O ambiente continua um lixo.
Mas o que me veio à mente ao ler a peça publicitária do engenheiro químico Esmeraldo, foi uma ilha no Oceano Pacífico. Ela fica na chamada “North Pacific Gyre”, uma zona marítima ao norte do Pacífico, entre a Califórnia e o Havaí, onde as águas circulam vagarosamente devido a poucos ventos e sistema de alta pressão na correnteza. A exótica formação sólida não está no mapa, nem foi obra do Divino. Trata-se de território reclamado ao mar, feito inteiramente, embora inadvertidamente, pelo Homem. É composto de plástico – desde brinquedos, pedaços de pranchas de surfe e garrafas, até fraldas, mas principalmente por sacos plásticos. Tem a dimensão do Estado americano do Texas. Vou repetir: É DO TAMANHO DO TEXAS. Haja saco!
A cada década, esse monstro da lagoa, dobra de extensão. E, embora não seja Terra-firme, em algumas partes tem volume suficientemente espesso para sustentar uma pessoa. Isso, mesmo considerando que o material, principalmente os sacos plásticos, acaba se desintegrando parcialmente, descendo ao fundo do mar, onde são absorvidos por plantas e pelos corais. Daí passa a fazer parte da dieta de peixes que assimilam toxinas, e depois vão parar em nossas mesas. É a vingança do mundo submarino.
Há também uma parcela da ilha que ainda não está devidamente acomodada, e tem a consistência de uma sopa avantajata. Esses nacos – com dimensões da Barra da Tijuca, no Rio – acabam dando nos costados do Havaí. Onde imediatamente plastificam as praias. Elimina-se, deste modo, a aporrinhação de areia nos calções.
No entanto, é mesmo a grande ilha que mais preocupa os cientistas. Estes dizem que os sacos vêm, principalmente, da América do Norte e da Ásia. Exatamente os locais que servem de exemplo, no texto do engenheiro químico Esmeraldo, de recicladores de sacos plásticos em usinas elétricas. Mas, ao que tudo indica, estão também reaproveitando o material para criar novos territórios no planeta. Estou esperando o dia em que o abominável Donald Trump vai construir ali um condomínio, com campo de golfe, marina e aeroporto, para vender a novos ricos. Será chamado “Trump Dump” (Lixão do Trump).
Mas quem sou eu para palpitar sobre as conveniências dos sacos plásticos? Estou velho e ultrapassado. Na minha época, as donas de casa (100% delas) usavam sacolas de lona ou palha para acomodar produtos embrulhados em papel. Minha avó tinha uma dessas enormes bolsas de tecido. Fora comprada antes do meu nascimento, teve longevidade maior do que a da proprietária, e ainda hoje é carregada da feira por minha mãe de 83 anos. Para mim, reaproveitamento é isso aí.
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