Herói da resistência

O jornalista Rogério Pereira não tem nenhum livro publicado, mas já marcou a ferro quente seu nome na literatura brasileira. Mais que isso, em um tempo em que a pauta se debruça sobre o fim do jornalismo impresso e até dos livros como os conhecemos desde Gutenberg, Pereira se tornou uma espécie de herói literário ao comandar, nesses dez anos, um jornal que se dedica exclusivamente à literatura em um País de poucos leitores.Sem nenhum tipo de subsídio do Estado, o Rascunho nasceu de uma parceria com o Jornal do Estado, um pequeno periódico com sede em Curitiba, onde foi rodado e encartado durante quatro anos. A partir daí, com a parceria finalizada, Rogério Pereira tomou aquela que julga a decisão mais importante na história do Rascunho: continuar por conta e risco ou acabar com a aventura. No final de 2005, mesmo com as dificuldades financeiras para manter o jornal, Pereira deixou a Gazeta do Povo, onde era chefe de redação, para se dedicar de forma exclusiva ao Rascunho. Assim, começava a se transformar em uma espécie de “Policarpo Quaresma” das letras.”Minha vida é o Rascunho. Tudo gira em torno do jornal. Não tenho trabalho fixo (aquele com carteira assinada) desde 2005. Cuido da pauta, das assinaturas, das finanças do jornal, diagramo, distribuo, etc. É quase uma insanidade”, diz Pereira.Mesmo sem remunerar seus colaboradores e colunistas, o jornal tem hoje um time de peso, a maioria de escritores consagrados, como Affonso Romano de Sant’Anna, Luiz Ruffato, Raimundo Carrero e José Castello, que foi um dos primeiros a apostar no Rascunho. Além dos colunistas, outros 60 colaboradores se revezam para ocupar as 32 páginas atuais, divididas em quatro cadernos.”A generosidade e a coragem do Castello foram (e são) decisivas para a história do jornal. Quando ele atrelou seu nome ao Rascunho, o jornal ganhou força e credibilidade no meio literário nacional.”Com a adesão de jornalistas e escritores de renome, o Rascunho, pouco a pouco, foi se transformando em uma referência importante no ambiente literário brasileiro. Com tiragem de cinco mil exemplares (que a partir de novembro passa para 12 mil), o jornal tem leitores fiéis espalhados pelo Brasil.”Sinceramente, não me preocupo com essa discussão sobre o fim dos jornais, tiragens pequenas, etc. Faço o jornal que gostaria de ler. Gosto de ler textos de verdade, longos, de fôlego. Então, faço um jornal assim. Se há leitores? Acho que os dez anos do Rascunho provam que sim. A edição impressa se esgota rapidamente”, opina o editor.Seguindo o rastro de outras experiências ousadas que marcaram o ambiente cultural brasileiro, como o jornal Nicolau, editado nos anos 1990 em Curitiba, e a mítica revista Joaquim, criada por Dalton Trevisan nos anos 1940, o Rascunho segue a passos largos na sua já vencedora trajetória.”O Rascunho mostra que é possível fazer um jornal sobre literatura em um País muito pouco afeito à leitura. Basta querer e ter um pouco de sorte. Além disso, o Rascunho também provou que é possível editar um jornal literário com independência, sem ser refém do mercado, das grandes editoras, do compadrio que ronda a literatura.”

» O jornal mensal Rascunho é distribuído gratuitamente em Curitiba, recife, Porto Alegre, rio de Janeiro e São Paulo.

» Entrevista com Rogério Pereira

Jornal sustentável


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