PELO MUNDO Olavo e sua esposa Tide em Veneza, uma das muitas viagens que fizeram juntos |
Parte fundamental da história de um país pode ser compreendida por meio da reconstituição das histórias privadas. A experiência do Museu da Pessoa, por exemplo, nos mostra a enorme riqueza conquistada ao se compartilhar histórias de vida de pessoas comuns, construindo, assim, uma memória social, como elemento da construção de um destino comum. As memórias já fazem parte de outro tipo de relato e podem assumir diversas formas.
O fato é que algumas vidas despertam mais interesse do que outras, seja por terem sido parte de acontecimentos considerados grandes, seja pela criatividade e originalidade do sujeito em si. Embora todas as histórias mereçam ser contadas e guardadas pelas gerações, algumas são particularmente ricas.
Esse é o caso do livro Desvirando a página – A vida de Olavo Setubal (Global Editora), escrito por Ignácio de Loyola Brandão e Jorge Okubaro. A trajetória de vida do empresário Olavo Egydio Setubal confunde-se com a história recente do Brasil, em especial com os aspectos econômicos dela.
Nascido em 1923, Olavo Setubal viveu todo o processo de construção do Brasil moderno. Durante o Estado Novo (1937-1945) participava de um grupo de intelectuais paulistanos ‘granfinos’ – segundo eles próprios -, cujo jornalzinho América (em referência ao bairro Jardim América em São Paulo) foi alvo da censura getulista exercida pelo Departamento de Propaganda e Imprensa (DIP). Essa é apenas uma anedota no meio de uma enxurrada de informações sobre a sociedade e a São Paulo da época em que se ia ao cinema no centro e ao chá dançante no Mappin. O grupo de amigos manteve-se unido pela vida inteira.
O livro está organizado segundo grandes blocos de conteúdo assim definidos pelo próprio Setubal: infância e adolescência, vida acadêmica, vida empresarial, vida pública e seu afastamento das atividades executivas.
Sua vida empresarial teve início com a criação da Deca em 1947. Em 1959, governo Juscelino Kubitschek, Olavo Setubal começou a dirigir o Banco Federal de Crédito, criado por seu tio, em 1945. O conglomerado financeiro foi sendo formado ao longo dos anos. Deca, Duratex, Moinho São Paulo, Banco Itaú, Itautec são algumas partes do império construído pelo empresário.
Na vida pública, foi prefeito de São Paulo entre 1975 e 1979 indicado pelo governador Paulo Egydio Martins. Getúlio Vargas, Juscelino, governo militar, prefeitura de São Paulo, abertura da economia no governo Collor, reforma monetária consolidada com o Real e novos desafios para os bancos, de todos esses momentos Setubal fez parte.
Por isso, para além da narração linear da vida de um empresário, o livro traz muitas informações históricas. A leitura flui e o volume está muito bem documentado com fotos de todos os períodos, correspondência, relatos objetivos do próprio Setubal, depoimentos da família e momentos mais afetivos.
Sem dúvida, o documento de uma vida memorável do empresário desaparecido em 2008.
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