Histórias de vida e de morte nos santuários ameaçados dos manguezais de Curuçá

Chapéu de palha, peito nu, calção azul, meias marrons e uma surrada botina preta nos pés. Lá vai ele, inconfundível, um personagem meio Chaplin no andar e no sorrir, meio Guimarães Rosa no falar, plantado em plena selva amazônica desmatada. Da mesma forma como cheguei a ele, quando pedi para falar com alguém que me contasse a história dos lendários manguezais do Curuçá, se um correspondente estrangeiro me pedisse hoje para ser apresentado a um típico cidadão brasileiro, não teria dúvidas em levá-lo a Cristóvão Monteiro Cardoso, esse bravo sobrevivente das subidas e descidas das marés nacionais.

Nascido às nove horas da manhã ensolarada do dia 25 de julho do ano da Revolução de 1930, Mestre Cristóvão não só conhece as histórias de vida e morte do lugar, como é dono de uma memória fantástica. Encontrei-o numa nublada manhã do começo de junho, quase acabando o “inverno”, a estação das chuvas na região, que começa em janeiro. Com a pele torrada de sol e sal, pernas de jogador de futebol e braços de lutador de boxe, não aparenta ter a idade que tem, já chegando perto dos 80.
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Ao voltar de mais uma “virada”, como ele mesmo batizou seu ofício de ganhar a vida pescando, Mestre Cristóvão vai agora vender seu peixe, literalmente, de casa em casa, pelas acanhadas ruas de Curuçá, cidade de 28 mil habitantes, 134 quilômetros a nordeste de Belém, no Salgado Paraense – uma das regiões mais pobres do País (IDH de 0,53). É lá que encontramos um rico santuário de biodiversidade fluviomarinha, que abriga em suas águas doces e salgadas 85 espécies de peixe, além de mariscos, camarões, caranguejos e outros pitéus.

Como se verá nas páginas seguintes, o enredo não chega a ser muito original. É o drama secular das regiões remotas do Brasil, desde Pedro Álvares Cabral, invadidas de uma hora para outra por forasteiros em busca de suas riquezas naturais, colocando em risco a cultura de subsistência das populações nativas, que se organizam para resistir às mazelas do chamado progresso (o projeto de construção do Porto do Espadarte e o destino de outras regiões de manguezal estão nas páginas 59 e 66).

Nem bem terminei de lhe explicar os motivos de nossa visita e nosso narrador desandou a falar, dispensando o repórter de fazer perguntas. “Espera aí, deixa terminar de contar esta parte, depois eu chego lá…”, e assim se passaram horas e horas, com Mestre Cristóvão reconstruindo sua história e a do lugar, nos mínimos detalhes, desde a hora em que nasceu.

“Vou fazer 77 anos, o mesmo que o meu bisavô tem de morto”, principia a conversa. Foi na tapera de Pedro Cardoso que Cristóvão nasceu, no vilarejo de Iririteua, às margens do rio de mesmo nome, afluente do Furo Grande, na baía de Curuçá, bem na hora em que o corpo do bisavô estava saindo numa canoa, acompanhado de toda a família para ser enterrado na sede do município que dois anos depois seria extinto, passando seu território a integrar a jurisdição de Castanhal. Sua autonomia seria restabelecida apenas no ano seguinte.

Era a segunda vez que tentavam tirar Curuçá do mapa. A primeira foi em 1833, quando seu território foi anexado à área patrimonial do Município de Vigia. Segundo o historiador Palma Muniz, isso enfureceu os habitantes e ocasionou sérios distúrbios, gerados por questões políticas, até a chegada do tenente Boaventura Ferreira Bentes, que restaurou a ordem. Somente 20 anos depois Curuçá voltaria aos mapas do Pará com o predicamento de Vila e de Município.

Esta parte da história Cristóvão nunca aprendeu na escola, até porque passou lá poucos dias, por razões que veremos mais adiante. “Cheguei a ir para a escola, mas não aprendi nada. Conheço o ‘o’ só porque é redondo… Eu me criei na Laje da Pedra Grande. Naquele tempo, não se vendia peixe: era dado para os vizinhos. Só tinha umas 15 casas no miolo da cidade. Cada dia saía um de uma família para pescar. Quando era de sete para oito da manhã, hora em que a maré enche, dava-se uma tarrafada. Nós éramos oito irmãos. No nosso dia, nossa mãe mandava a gente levar uma baciada de peixe para os vizinhos. No outro dia, eles traziam para nós.”

Maldita hora em que tive a idéia de convidar Cristóvão para continuarmos a conversa num passeio de barco pela baía do Curuçá. O tempo estava ameaçando fechar. Para fazer seu trabalho, o fotógrafo Carlos Silva, um catarinense que se apaixonou pela Amazônia, queria passar pelos lugares onde nosso personagem navegou para ganhar a vida. Saímos do Porto do Abade no velho Dádiva, um barco a motor providenciado pelo amigo João Meirelles, nosso cicerone em Curuçá. Pois já sou meio surdo e, com o barulho infernal do motor, ficava quase impossível entender o que os outros me falavam todos ao mesmo tempo (temo ter perdido a melhor parte das histórias…).

Paulistano quatrocentão, da décima geração de uma família de grandes pecuaristas, administrador de empresas formado pela Getúlio Vargas, há 20 anos Meirelles, hoje com 47, virou ongueiro, dedicando-se ao terceiro setor e ao movimento ambientalista. Em 2004, junto com sua mulher, Fernanda Martins, ele se mudou para Belém, onde coordena o Instituto Peabiru, que tem por objetivos pesquisas, capacitação de pessoas e ações para gerar renda e conservar a biodiversidade na Amazônia com o manejo sustentável dos recursos naturais. Um de seus principais projetos no momento está baseado em Curuçá, justamente para ajudar antigos pescadores como Cristóvão a enfrentar os novos tempos.

Mas vamos voltar aos tempos antigos para entender melhor o que está acontecendo agora. O dinheiro só foi aparecer na vida de Cristóvão quando a cidade começou a ganhar mais moradores, gente vinda do Maranhão, do Ceará e do Piauí, e o escambo cedeu lugar à cambada (uma corda em que enfiavam os peixes e saíam pela rua gritando “uma cambada por um tostão”). Em cada corda, levavam oito quilos de peixe.

Mais velho dos oito filhos de dona Aida e seu Antônio, certo dia, ainda menino, ele foi chamado pelo pai:

– Cristóvão, vem cá. A partir de hoje, não vou mais poder ajudar tua mãe. Você vai ser o pai da casa, vai cuidar dos teus irmãos.

– Pai, é o seguinte: se eles me respeitarem, eu me responsabilizo por eles.

A partir daí, ajudou a criar os sete irmãos, que o tratam como a um pai até hoje. Todos foram para a escola, menos ele. Ao se lembrar do diálogo que marcou sua vida, Cristóvão não fala em tom de lamento, apenas historia. “Meu pai prostrou-se com reumatismo. Ficou só minha mãe trabalhando, plantando roça, fazendo farinha e panela de barro, criando galinha, pato, peru. Eu sempre fui um caboclo bom de saúde, já saía para pescar desde pequeno, fui ajudar a mãe. Só adoeci umas duas vezes quando ainda era solteiro. Me deu fraqueza de tanto trabalhar, mas logo fiquei bom.”

Por volta de 1950, os peixes passaram a ser vendidos em sacas de sarrapilheira (nome de um tipo de fio) de 50 quilos. Pescada-amarela e curimã eram os preferidos da freguesia. “Dava uma rendazinha na rua, mas eu levava quase tudo para o falecido Rodrigo, que tinha um balcão de comércio. Trocava por café, arroz, feijão, farinha, sabão, charque, sal, bolacha, levava mercadoria para comer a semana toda. Naquele tempo, o charque era gostoso; hoje, não vale mais nada”, constata, acocorado na borda do barco, enquanto acende mais um Hollywood dos mais de 20 que fuma por dia, sem tossir.

Ainda em casa, antes de sairmos de barco, Cristóvão arrancara boas risadas de Benedita, a mulher com quem está casado faz 53 anos, ao lembrar que seu apelido quando a conheceu era “Galo”. “O motivo? É que eu era muito garanhão… Não dava chance para mulher naquele tempo, não. Só ficava uma semana, enjoava, já arrumava logo outra. Depois que casei, parei mais um pouco. Eu tinha 25 anos, ela tinha 15. Isso aí era um peixão…”

Cristóvão só começou a ir a festas e pensar em casamento depois que seu pai morreu, já com 70 anos, e os irmãos estavam criados. “Eu não gostava de andar no meio do magote, esse negócio de sair num bolo de gente. Minha mãe até falava para eu ir nas festas, mas eu gostava de ficar sozinho. Meu amigo é meu umbigo. Quando morrer, eu levo comigo”, declama, e ri de si mesmo.

Tempos depois do casamento, Benedita e Cristóvão foram morar no Abade por causa da escola dos meninos que não paravam de nascer. Foram sete, que lhes deram 13 netos e três bisnetos. Nessa época, Cristóvão trabalhava num regatão chamado JK, canoa grande movida a uma vela com 60 metros de pano, em que carregavam até dez milheiros de caranguejo para a cidade de Abaetetuba, no Pará.

“Levava de três a quatro marés para chegar. A gente só sentava vela para tomar banho e comer. Medo? Nunca senti medo de nada. Quando formava um tempo assim, que aparecia uma listra escura no céu e vinha uma nuvem de temporal, era sentar o pano, baixar o ferro e ficar esperando. Às vezes, calhava de ficar assim de um dia para o outro. Acostumei com isso.”

Assim que o Dádiva deixa o Furo Maripanema e pega à esquerda para entrar no Furo Grande, Cristóvão começa a ficar indócil no barco para me mostrar os primeiros sinais do “inimigo” – os currais instalados no meio do rio pelos pescadores forasteiros vindos de vários estados nordestinos onde a pesca está ficando cada vez mais rarefeita.

São cercados de vários formatos que lembram currais de gado feitos com estacas de madeira e redes ou tarrafas esticadas à sua volta. No sobe-e-desce das marés, peixes e crustáceos ficam presos ali e os pescadores só têm o trabalho de recolhê-los da água e colocá-los nas canoas, a maioria delas movida a velas. Os currais de rio e de mar são emblemáticos da tecnologia de floresta tropical, explica-me João Meirelles – coisa de mais de 10 mil anos atrás.

O problema todo é que agora eles são armados no meio dos cursos d’água, atravancando seu caminho natural e provocando o assoreamento dos rios. Antes da chegada dos pescadores de fora, os currais eram espetados às margens das ilhas onde se formam os manguezais, grandes repositórios de alimentos para a fauna marinha, ali no encontro das águas dos rios com o mar aberto.

Mestre Cristóvão mesmo já teve seu curral na curva da ilha Jacitara, na beira do mangue onde passamos agora, em direção ao rio Iririteua. “Aqui eu comecei a pegar peixe com meu pai. Agora está dando muito camarão de tarrafa”, vai contando o velho pescador, quase gritando para se fazer entender.

Alguns desses currais ainda sobrevivem nas margens dos manguezais junto às palafitas cobertas de sapé, habitações provisórias utilizadas pelos pescadores na época da pesca do camarão. Fora isso, os únicos sinais de vida neste mundão de água e paus retorcidos na terra de argila preta são os pássaros que voam em bandos. São nativos guarás-vermelhos e aves migratórias como os maçaricos, vindos nesta época do ano do Canadá e dos Estados Unidos, uma viagem de 11 mil quilômetros.

É lindo de ver o contraste de cores, mas Cristóvão não vê beleza nenhuma nos currais que agora se multiplicam à nossa frente, uma verdadeira plantação de estacas ponteando na água que avança dos rios para o mar. De pé, equilibrando-se sobre a proa do barco, ele não se conforma: “Para pegar camarão, essas gentes de fora estão armando as redes com a trama toda vez mais estreita. Desse jeito – fica só vendo! -, acabam prendendo também os peixes pequenos, que não prestam para o comércio. Depois de separar o camarão e os peixes mais graúdos, eles enterram os peixinhos aí mesmo na lama do manguezal”.

Nem é preciso ser um gênio de Lógica Aplicada para acompanhar o raciocínio de Cristóvão. “Se matam os peixes pequenos, eles nunca vão ficar grandes, e daqui a pouco não vai mais sobrar peixe para ninguém…” A mortandade infantil dos peixes pode ser comprovada pelo sobrevôo de urubus gordos que depois pousam sobre os currais à espera da próxima refeição.

Pela ação deletéria das mãos do homem, neste pedaço do nosso litoral, entre Belém, no Pará, e São Luís, no Maranhão, onde se localizam os maiores manguezais do planeta (85% dos manguezais do País), o que foi desde sempre um santuário marinho está se transformando rapidamente num imenso cemitério de peixes recém-nascidos.

O Mestre agora fica em silêncio, pensativo. Mil e muitas vezes ele já passou por esse mesmo lugar, outras tantas contou a mesma história para seus filhos, à medida que eles iam crescendo e, um por um, eram convocados a acompanhá-lo na lida noturna da pescaria que até hoje garante seu sustento. Mas parece que é sempre a primeira vez que conta como foi que aconteceu.

“Aqui eu nasci, na cabeceira do Iririteua, na casa do meu bisavô, às nove horas da manhã. Bem na mesma hora em que a família estava saindo para fazer o enterro do bisavô em Curuçá, eu pulei fora da barriga da minha mãe. Está vendo ali onde ainda existe aquele toco? Ali era a barraca do pai do meu sogro que se chamava Maurício. Quantos anos não tem aquele toco?”

Com o barco parado e motor desligado, fica mais fácil ouvir seu desabafo – o grito de alguém que está vendo, impotente, o avanço do exército inimigo. “Este rio aqui tinha somente curral pequeno, que chamavam de coração – apenas entrava peixe grande. Hoje em dia, pegam muito peixe miúdo assim (mostra o dedo indicador). Tecem o puçá com pau de fósforo para ficar bem estreito e não escapar mais nada. Sou obrigado a levar peixe pequeno também, porque grande quase não tem mais… Se não tiver quem se interesse, vai acabar o peixe. Eles não pensam nos filhos e nos filhos dos filhos…”

Ninguém sabe o número ao certo, mas os pescadores já falam em mais de 3 mil currais espalhados a perder de vista só nesta região onde estamos. São três horas de viagem de barco vendo estacas por todo lado. Num dos currais, por volta do meio-dia, encontramos três jovens dormindo na canoa à espera da subida da maré para fazer a colheita de peixe e camarão. Levam um susto, pensam que somos do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), o órgão do governo encarregado de vigiar a atividade deles. Mas quando ficam sabendo que se trata de mera reportagem, logo voltam ao repouso, observados apenas pelos urubus.

“Está vendo agora?, pois não adianta só eu te falar… Isso é que é conhecer o problema, meu jovem, entendeu?…”, me diz Mestre Cristóvão, com ar de vitorioso, ao descermos do barco. Nas suas noites de “virada”, quer dizer, quando sai para pescar, ao retornar para casa começa imediatamente outra tarefa: limpar o peixe e sair pelas ruas em busca da freguesia. Só depois do almoço é que ele costuma dormir um pouco.

Foi o que ele fez no dia seguinte, feliz da vida, ao exibir para o fotógrafo Carlos Silva os 22 quilos de peixe que trouxe junto com o filho Júnior depois de mais uma jornada de 13 horas pelas águas da baía de Curuçá. Os intermediários, dependendo do dia, chegam a pagar apenas R$ 0,50 por um quilo do peixe que depois é revendido aos restaurantes por R$ 8. Por isso, prefere vender diretamente de casa em casa, o que, segundo ele, chega a lhe render até R$ 1 mil por mês. “Já tenho minha freguesia certa. Nunca sobra peixe, tem dia que até falta.”

Com os filhos todos criados, e como seu único luxo é o cigarro, Cristóvão poderia viver só do salário mínimo que ganha de aposentadoria, possibilidade que desdenha. “Não poderia ficar aqui parado só vivendo disso…” Bolsa Família? Nem pensar. Seu orgulho não permitiria receber algo sem ser fruto de seu trabalho. A única ajuda que ele recebeu do governo na vida foi agora recentemente, quando se tornou um dos beneficiados de um programa do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) para os pescadores de Curuçá. Ganhou um motor, que custou R$ 2.600, a fundo perdido, para colocar em seu barco e, finalmente, poder aposentar os remos. Até hoje não o instalou porque o mecânico lhe pediu R$ 400 pelo serviço. “É muito dinheiro… Talvez coloque o motor já para o fim do ano. Estou só esperando o dinheiro amadurecer…”

Na casa de Cristóvão, “somente falamos de dinheiro quando entra em falta”. O filho Tobias a princípio não entendeu quando o pai, que estava costurando uma tarrafa, certa vez o chamou num fim de tarde, com o convite sem direito a recusa:

– Vamos embora fazer uma virada?

– Que é virada?

– É o que nós vamos fazer agora, meu filho. Vamos batalhar, se virar, dar uma virada, entendeu? Precisamos arrumar o dinheiro que é preciso para comprar o necessário.

“A história da virada fui eu que inventei – aí todo mundo começou a falar”, gaba-se Mestre Cristóvão. A expressão acabou batizando um dos projetos do Instituto Peabiru, o da Escola Casa da Virada, centro educacional e científico de difusão de tecnologias sociais e fortalecimento de organizações da sociedade civil.

Criado em 1998, o Peabiru trabalha em parceria com a Associação dos Usuários da Reserva Extrativista Mãe Grande de Curuçá (Auremag) em defesa dos manguezais da região, considerados pelo Ibama as áreas mais frágeis e ameaçadas por serem ambientes de menor capacidade de recuperação natural.

Com 37 mil hectares, a reserva extrativista foi criada no final de 2002. Seu principal objetivo é proteger os igarapés, restingas, baías e manguezais, de onde tiram seu sustento 6 mil famílias de pescadores e pequenos agricultores, envolvendo mais de 30 mil famílias distribuídas em 52 comunidades. “O que nos levou para Curuçá foi esta situação crítica dos recursos hídricos e o grau de relevância que os manguezais representam para o futuro da região, para o equilíbrio ambiental do planeta e para a própria sobrevivência das comunidades tradicionais”, me diz João Meirelles, enquanto Cristóvão repete pela segunda vez seu prato de arroz, feijão, farinha, salada e peixe frito.

Xavier, um dos filhos do velho pescador, é o principal colaborador de Meirelles em Curuçá. Outro filho, Charles, participa do curso de formação de monitores em ecoturismo que foi criado pelo Peabiru em Curuçá no final do ano passado. “Não conheço da leitura, mas meus filhos todos foram para a escola. A vinda dessas pessoas do instituto vai melhorar a situação do pessoal mais novo que não quer saber só de viver de pegar peixe que nem eu.”

Mestre Cristóvão sabe que os meninos só são pescadores ainda por respeito ao pai, revezando-se para fazer-lhe companhia na Moleca, a canoa pintada de vermelho e branco como todas as outras que já teve. Tanto que nenhum deles se inscreveu para ganhar uma das 300 canoas novas que o Incra está entregando aos pescadores de Curuçá. “Já deu de pescar só eu e o Mané Velho”, conforma-se Cristóvão, apontando para o céu quando lhe pergunto quem é esse Mané Velho. É só Deus e ele, um brasileiro que vale a pena conhecer, antes que chegue o porto novo, do qual Cristóvão nunca ouviu falar, e leve para bem longe o que restou de história dos manguezais do Curuçá.


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