O dia 22 de novembro é o Dia do Músico. A verdade é que atualmente quase todo dia é dia de alguma coisa, de alguma profissão, e pouca gente parece se importar com isso. Mas, sendo eu jornalista e também músico, achei que a data não devia passar em branco. Pois bem, melhor do que prestar algum tipo de homenagem à profissão – o que me pareceu bastante forçado –, por que não perguntar aos próprios músicos o que acham da data, e se sentem-se homenageados com ela. Quer dizer, faz sentido existir um Dia do Músico?
Tatá Aeroplano, 38, que tem carreira solo e a banda Cérebro Eletrônico; Meno Del Picchia, 35, que acaba de lançar o segundo álbum; Kiko Dinucci, 36, do Passo Torto e Metá Metá; Tomaz Paoliello, 28, do grupo Garotas Suecas; Gabriel Sader Basile, 25, das bandas Memórias de Um Caramujo, Charlie e os Marretas e Grand Bazaar; e Caio Costa, 24, da banda Primos Distantes, que está prestes a lançar o primeiro disco… Todos eles, representantes de uma nova geração da música autoral brasileira, responderam as mesmas três perguntas, mostrando diferentes pontos de vista sobre algumas questões. Leia abaixo o que eles falaram:
1) Brasileiros – Dia 22 de novembro é o Dia do Músico. Você acha importante a existência desta data celebrativa? Você se sente, de algum modo, homenageado?
Tatá Aeroplano – Para ser sincero eu sou um pouco desapegado com as datas e comemorações em geral. Não comemoro nem meu aniversário, mas creio que a data comemorativa existe para ser celebrada pelos músicos em geral.
Meno Del Picchia – Confesso que se não fosse o Facebook não saberia que é Dia do Músico. Me sinto homenageado toda vez que subo num palco com gente que amo pra tocar música boa.
Kiko Dinucci – O ideal seria não existir dias comemorativos; dia de respeito e celebração de coisas boas é todo dia.
Tomaz Paoliello – Seria estranho, se temos os dias para todas as categorias, não termos também o Dia do Músico. Não vejo muito prestígio, parece mais uma formalidade. Nem saberia dizer qual é a data…
Gabriel Basile – Não acho importante existir o Dia do Músico, acho simpático. Digo isso porque não acredito que simplesmente pelo fato desse dia existir a profissão ou o dia a dia dos músicos seja mais valorizado. A data é mais uma curiosidade no meio do calendário que de alguma forma homenageia os músicos, por isso acho legal que ela exista, mas não é essencial.
Caio Costa – Olha, não ligo muito não. Se a gente não tivesse tanto dia meio sem sentido, talvez até fosse legal. Mas se você olhar nos calendários oficiais, encontra até o dia do “jornalista evangélico”. Então é tudo meio bagunça e no final é só um dia em que você lê algumas groselhas e várias piadas sobre a profissão. É meio tragicômico, acaba sendo divertido.
2) Brasileiros – A data foi escolhida por ser o Dia de Santa Cecília, padroeira dos músicos. Se você pudesse escolher um outro dia qualquer do ano para chamar de Dia do Músico, qual seria e por quê?
Tatá Aeroplano – Santa Cecília é a padroeira dos músicos… acho que sem problema o dia do músico ser no dia de Santa Cecília.
Meno Del Picchia – Quarta-feira de Cinzas, para lembrar que sem música não tem Carnaval.
Kiko Dinucci – Aniversário de São Pixinguinha. Santa Cecília não me representa como músico, nem sou cristão. E não tenho nenhum disco da Santa Cecília.
Tomaz Paoliello – Certamente não seria um dia de santo… Ao menos a nossa é uma santa mulher! Essa música pop que amamos, como se formou na América, é a sobreposição evidente da influência de diversas partes da Europa, Oriente Médio, África e da própria América. É um cruzamento de inúmeras vias. Preferiria uma escolha menos ‘eurocêntrica’ e um pouco mais pagã…
Gabriel Basile – Acho q escolheria dia 31 de dezembro às 23h59. É um momento em que a grande maioria das pessoas está de alguma forma celebrando a passagem do ano ouvindo algum tipo de música. A música faz parte dos rituais, cerimônias e festas das pessoas, acho que essa data deve ser a maior unanimidade dentre todas as culturas do planeta.
Caio Costa – Olha, tem momentos em que acho que deveria ser no dia de Santa Rita, das causas impossíveis. Hahaha.
3) Brasileiros – Resumidamente, quais as maiores “dores e delícias” de ser músico hoje em dia?
Tatá Aeroplano – Muita concentração, muito trabalho e dedicação … o lance é saber equilibrar os momentos de criação com todo o trampo que é cuidar de fazer música nos dias de hoje!
Meno Del Picchia – Uma das minhas dores é às vezes não ter fim de semana com a família. A delícia maior é trampar com um negócio que é espiritual e que a gente ama de paixão.
Kiko Dinucci – A delícia de ser músico inventor (só considero músico os que inventam algo) é inventar, criar. A parte ruim é sobreviver como uma profissão tratada como marginal. O lado lúdico da linguagem musical causa incômodo no trabalhador tradicional. É um pouco o causo da cigarra e da formiga.
Tomaz Paoliello – Acho que algumas são as mesmas de sempre. O prazer de conversar nessa linguagem com os amigos e colegas sempre existiu e segue sendo incrível. Os prazeres da descoberta e da realização artística também são o que nos move adiante. Por outro lado segue sendo uma vida de incertezas, com épocas boas e ruins. Altos e baixos existem em qualquer profissão, só que tenho impressão que na música podem ser bem mais altos e bem mais baixos…
Gabriel Basile – A maior dor é a instabilidade. Vivemos tendo que inventar maneiras de tornar nossa profissão viável. Como lotar os shows? Como conseguir dinheiro para se sustentar numa cidade cara como São Paulo dependendo dessas bilheterias? Como fazer da nossa música um produto que possa ser comercializado em um território um pouco mais amplo que os bairros onde moramos? Poderia colocar mais uma porção de perguntas desse tipo… São questões com as quais temos que lidar todos os dias. A delícia é o tesão de juntar os parceiros de profissão, que acabam se tornando cúmplices da vida, e fazer um som que mexa com as pessoas.
Caio Costa – Houve nos últimos anos uma grande democratização na maneira de se produzir e veicular música. Gravar um disco em casa virou algo muito possível, assim como atingir seu público sem depender da indústria fonográfica. Isso tem o lado bom, de ficar mais fácil para o artista viabilizar suas criações, mas também facilita o surgimento de picaretas. O que tem de gente que gasta uma grana pra gravar ou produzir um EP e sai decepcionado não é pouca coisa. Tem que ficar atento, hoje em dia todo mundo é produtor musical, técnico de som. No geral, acho que o saldo é positivo. Melhor ser músico agora do que 20, 30 anos atrás. Só não dá pra achar que hoje em dia tudo é livre e democrático, porque 99% das coisas ainda se resolvem na base da panelinha.
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