Na edição de maio da Brasileiros, número 46, o repórter Marcelo Pinheiro fez uma longa entrevista com Denise Fraga, que, como você deve se lembrar, virou capa da revista. Parte das perguntas referia-se à atuação da atriz no filme Hoje, dirigido por Tata Amaral, também entrevistada da matéria. Ontem, 3 de outubro, o longa-metragem foi o grande vencedor do 44ª Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, tendo faturado seis prêmios, com destaque para os de Melhor Filme e Melhor Atriz, para Denise Fraga. Hoje ainda ganhou mais quatro Candangos (estatueta do festival): roteiro, fotografia, direção de arte e o prêmio da crítica.
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Leia abaixo a entrevista, publicada em maio, com a cineasta Tata Amaral, ou clique aqui para ler, na íntegra, a conversa com Denise Fraga
RECONSTRUIR O PASSADO
Protagonizado por Denise, Hoje, o novo longa de Tata Amaral toca em feridas abertas pela ditadura
por Marcelo Pinheiro
A paulistana Tata Amaral foi uma resistente em um dos períodos mais nebulosos para o cinema brasileiro: a transição dos anos 1980 para os 90. Ignorando inviabilidades, produziu, entre 1986 e 1992, sete curtas-metragens, três deles dirigidos com o ex-companheiro Francisco César Filho. O sonho do primeiro longa foi realizado em 1997. Adaptação do romance de Fernando Bonassi, Um Céu de Estrelas estabeleceu uma fecunda parceria com seu ex-professor Jean-Claude Bernardet, e fez ascender o nome da cineasta ao posto de um dos mais importantes de sua geração. Em 2000, Bonassi escreveu o roteiro de seu segundo longa Através da Janela, especialmente para a atriz Laura Cardoso. Na sequência, um êxito comercial que rendeu série para a TV Globo, o filme Antônia. No final de março, Tata concluiu as filmagens de Hoje, adaptação de Prova Contrária– outro romance de Bonassi. Conversamos com a cineasta sobre suas impressões do filme e a importância de resgatar nosso obscuro passado recente.
Brasileiros – Depois de Um Céu de Estrelas e Através da Janela, você volta a trabalhar com o Bonassi. Como se deu a escolha?
Tata Amaral – Esta é minha segunda obra baseada em romance do Fernando. Ele é um autor contemporâneo que, em seus livros, trabalha com o que Jean-Claude Bernardet chama “dramaturgia concentrada”. Uma situação dramática explorada até seus limites, algo que me interessa muito.
Brasileiros – Como foi dirigir a Denise?
T.A. – A Denise é uma atriz de imensos recursos dramáticos. Tem uma experiência e um talento incríveis. Uma parceira fora de série e uma pessoa deliciosa de se conviver. Foi um prazer muito grande construir a Vera com a Denise. A veia dramática dela está sempre pronta para agir.
Brasileiros – Denise fez grandes elogios ao ator uruguaio César Troncoso. Como foi trabalhar com ele?
T.A. – César é também um ator de muitos recursos e grande intensidade dramática. Tem larga experiência no teatro uruguaio e se destacou no cinema em filmes como O Banheiro do Papa, de César Charlone. No set, brincávamos que Troncoso era o Al Pacino sul-americano. Ele constrói atuações intensas, profundas, com um gesto mínimo ou uma simples expressão facial.
Brasileiros – Muitos filmes da retomada do cinema brasileiro tratam desse período sombrio do País. Que diferenciais temáticos pode apontar em Hoje?
T.A. – Com esse novo filme, pretendo falar do direito à justiça e à memória. Os brasileiros tendem a se esquecer do passado, tratá-lo com indiferença e colocar os problemas debaixo do tapete. Foi exatamente isso que fizemos com relação à tortura: ao contrário dos demais países da América do Sul, não identificamos nem punimos os torturadores. Não por acaso, existe tortura até hoje em nossas prisões. Para nos consolidarmos no caminho da democracia e da justiça social, precisamos tratar da questão da tortura no Brasil, inclusive e, principalmente, essa tortura praticada no passado.
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