Homenagem em grande estilo

Na noite de segunda-feira, 26 de outubro, o auditório do tradicional palco de celebrações e lutas do Teatro da Universidade Católica (Tuca), em São Paulo, estava repleto de figuras importantes do jornalismo e militantes dos direitos humanos, que celebravam a entrega do 30º Prêmio Vladimir Herzog de Jornalismo e do 4º Prêmio Vladimir Herzog de Novos Talentos do Jornalismo. Em seguida, ainda houve a entrega do Troféu Especial Imprensa ONU, em comemoração dos 60 anos da Declaração dos Direitos Humanos. O prêmio, que surgiu exatamente três anos após a morte do importante jornalista e teatrólogo brasileiro Vladimir Herzog, assassinado nos porões da ditadura e tido hoje como símbolo da luta dos direitos humanos e do estabelecimento da democracia no Brasil, comemorou aniversário em grande estilo.
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Vlado, como era chamado pelos amigos, nasceu na Iugoslávia, de origem judaica, veio com os pais ainda pequeno para o Brasil. Fugiam do nazismo. Foi casado com Clarice Herzog, era professor da USP e um importante nome da esquerda brasileira. Sua morte o transformou num mártir da luta antiditatorial. Herzog foi assassinado no dia 25 de outubro de 1975, aos 38 de idade. Era ligado ao Partido Comunista do Brasil (PCB) trabalhava como diretor do telejornal A Hora da Notícia da TV Cultura quando foi morto de forma polêmica. Na época, a polícia tentou forjar um suicídio nos aposentos do DOI-CODI, alegando que após Herzog ter assumido que era integrante do PCB, suicidou-se. No entanto, em 1978, a justiça admitiu que a União foi a culpada pela morte de Vladimir Herzog. O governo resolveu em 1987, nove anos mais tarde, que seria paga uma indenização à sua família, no entanto, esta só foi recebida mais de oito anos depois, durante o governo FHC.

Ao longo dos 29 anos de existência, 553 jornalistas já ganharam o Prêmio Vladimir Herzog, idealizado pelo sindicato dos jornalistas. Desses, 326 votaram em até cinco jornalistas de sua livre escolha para o Troféu Imprensa da ONU. No resultado da votação, 365 comunicadores receberam pelo menos um voto. Os mais votados foram: Caco Barcellos, Henfil, José Hamilton Ribeiro, Zuenir Ventura e Ricardo Kotscho. Clarice Herzog foi quem entregou o prêmio especial aos quatro grandes jornalistas e a Ivan de Souza, filho do cartunista Henfil, morto em 1988.

Ricardo Kotscho, editor-adjunto da Brasileiros, subiu ao palco com sua neta, Laura, de cinco anos, para receber o troféu de Vlado Vitorioso, criado pelo artista plástico Elifas Andreato. Em seu discurso, Kotscho relembrou os amigos mortos na ditadura e os momentos difíceis, brincou que não era como o seu amigo Lula que sabia fazer longos discursos de improviso, mas arriscou: “É importante também que se conte as coisas boas que acontecem no Brasil, e não apenas as tragédias.” Se referindo as boas histórias, gostosas de serem lidas e as pessoas com boas iniciativas e histórias de vida interessantes. Ele dedicou o seu troféu a Vlado e Clarisse e às centenas de anônimos que já fizeram parte de suas reportagens.

Já Caco Barcellos, repórter e apresentador do programa Profissão Repórter, da TV Globo, disse essa ser uma vitória parcial dos direitos humanos. Sempre com dados estrondosos em mãos, relembrou que só nas mãos da polícia do Rio de Janeiro morre mais gente, todos habitantes das favelas cariocas, do que as vítimas da guerra do Iraque. “Nossas reportagens farão parte da história da luta pelos direitos humanos, pela via do jornalismo no Brasil, nos últimos 30 anos. Mas essa é uma vitória parcial, pois as temáticas de todos os prêmios Vladimir Herzog ainda são muito atuais. Portanto, ainda precisamos trabalhar muito para virar essa página da nossa história.”

Durante a noite de 26 de outubro de 2008, exatos 33 anos após a morte de Vlado, mais de 300 pessoas acompanharam as três horas e meia de cerimônia, que além de ter sido mediada pelo jornalista Heródoto Barbeiro e Rose Nogueira, teve a participação do coral Luther King, e da atriz Ester Goes. A entrega terminou com uma festa de celebração aos Direitos Humanos, repleta de militantes, jornalistas, estudantes, familiares de ex-presos políticos e atuais nomes do governo brasileiro. Deixando claro que a Declaração dos Direitos Humanos, feita em 1948, é ainda sentida e relembrada pelos sobreviventes de períodos piores, e que a nova geração de alguma forma, permanece lutando pelos ideais contidos nela. Jornalismo e luta mostraram-se bem próximos nesta calorosa noite paulistana.


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