Horror midiático

No dia 18 de setembro de 2006, participei do programa Roda Viva com o ator Lima Duarte. Ele é o único homem vivo presente nos estúdios da TV Tupi, quando o lendário Assis Chateaubriand inaugurou a televisão no Brasil, exatamente no dia 18 de setembro de 1950. A data é oficialmente a primeira transmissão da televisão brasileira. No programa de 2006, Lima Duarte disse que, no início da televisão, um dos programas de sua grade era O Céu é o Limite, um quiz show de perguntas e respostas. Uma das primeiras participantes do programa respondia questões sobre o escritor Marcel Proust e seu monumental livro Em Busca do Tempo Perdido. O ator revelou que O Céu é o Limite fazia muito sucesso e era discutido nas ruas por todo o mundo, dos mais abastados aos mais simples. Lima se lembrou de que a mulher das questões sobre Marcel Proust era apontada nas ruas pelas pessoas simples. Porteiros de prédios, taxistas, empregadas domésticas, ambulantes falavam: “Essa aí sabe tudo sobre Proust”. [nggallery id=14148] Essa era a televisão que se fazia no Brasil naquele tempo. A TV aberta de hoje todos nós sabemos como é feita. A mediocridade do conteúdo da programação, com raríssimas exceções, ficou mais que evidenciada no novo filme-projeto do documentarista Eduardo Coutinho, Um Dia na Vida, exibido para uma sala lotada de profissionais do cinema e o público da Mostra de Cinema de São Paulo, na noite de quinta-feira (28), no Cine Livraria Cultura (sala 1). Após a sessão, houve um debate com o próprio Eduardo Coutinho e os cineastas Eduardo Escorel e Jorge Furtado, renomados diretores do cinema nacional.O circo de horrores do mundo contemporâneo Afinal de contas o que é esse novo filme-projeto de Eduardo Coutinho? Explicamos: o diretor de Cabra Marcado Para Morrer, considerado o maior documentário brasileiro de todos os tempos, reuniu uma equipe para acompanhar um dia inteiro de programação da TV aberta. Coutinho pediu para que a equipe zapeasse e gravasse trechos dos programas, desde a manhã até a madrugada.O filme é, na realidade, uma compilação dos trechos desses programas, de vários canais da TV aberta. E o que vemos é “o horror, o horror”, como diria o coronel Kurtz, vivido pelo ator Marlon Brando no filme Apocalypse Now, de Francis Ford Coppola. Os programas, com raras exceções, são aberrações, como falou o cineasta Jorge Furtado, logo após a exibição do filme-projeto.Há pessoas exploradas e humilhadas, a maior parte mulheres, expostas de forma aviltante. Há o culto ao corpo perfeito e mulheres fora do padrão que se sujeitam a serem cobaias de dietas feitas para elas, na tentativa de conseguirem o corpo perfeito. Elas se submetem a pequenas cirurgias, mudança de vestuário e toda espécie de desrespeito. E não para por aí; a programação é recheada de outras aberrações, como a exploração da violência e das necessidades das pessoas humildes.Na madrugada, a exploração das pessoas atinge seu auge com os programas religiosos que ludibriam a fé das pessoas em troca de dinheiro. Segundo o cineasta Jorge Furtado, essa exploração deveria ser caso de polícia. Assistir a trechos dessa programação no cinema, com seu silêncio e o escurinho da sala, diferente das casas e dos apartamentos, é como ir ao Inferno de Dante e presenciar o nosso lado escuro. Infelizmente, o filme-projeto não vai mais ser exibido, até porque ainda é um projeto de um documentário que Eduardo Coutinho fará em cima do tema. Além disso, não teria como o documentarista pagar os direitos do uso dessas imagens (uma discussão importante para quem faz documentário no Brasil). Fica o alerta e a necessidade de discutir o conteúdo da programação da TV aberta no País.Um artista de verdadeUm das coisas que o filme-projeto de Eduardo Coutinho revela é que a TV hoje está tomada por pseudoartistas (mulheres frutas, participantes de reality shows, cantores e atores de ocasião), mas sempre houve e haverá artistas de verdade, como o ator Ítalo Rossi, por exemplo. Dentro da programação da Mostra deste ano, como vem acontecendo nos últimos anos, foram lançados mais 42 títulos da Coleção Aplauso, publicada pela Imprensa Oficial. O evento aconteceu na noite de quinta, no 4º andar do Shopping Frei Caneca. Estavam presentes artistas biografados, autores dos livros e colegas de profissão. Entre os livros lançados na Coleção Aplauso, está a fotobiografia Ítalo Rossi – Isto é tudo, dos jornalistas Antonio Gilberto e Ester Jablonski. O site da Brasileiros fez uma entrevista rápida com o ator, enquanto ele autografava seu livro no local do lançamento. Veja os principais trechos.Brasileiros – Próximo de completar 80 anos de vida (Ítalo Rossi nasceu em 19 de janeiro de 1931) e 60 anos de carreira, como você poderia resumi-las?Ítalo Rossi – Quando descobri que era ator, sem querer ser pretensioso, fui procurar o teatro e nele não somente encontrei o lugar para desenvolver meu ofício. No teatro, encontrei a minha moradia, meu sentido de viver, a busca de mim mesmo.Brasileiros – Você acha que o palco do ator é o teatro?Í.R. – Claro que é. Quem faz o ator é o teatro.Brasileiros – E o cinema e a televisão?Í.R. – Televisão e cinema foram feitos nos momentos de intervalos do teatro. Algumas vezes, emendava as duas coisas. O que eu nunca deixei de fazer em todos esses anos foi o teatro, a minha moradia, meu encontro comigo mesmo.Brasileiros – Qual foi a maior alegria que você teve em toda sua carreira?Í.R. – Foi fazê-la (risos).Brasileiros – Algum trabalho em especial?Í.R. – Meu trabalho especial foi nunca deixar de fazer teatro. Ele é especial. Tudo que fiz no teatro foi especial para mim, porque foi uma tentativa de buscar a mim mesmo. Cada peça foi essa procura de mim mesmo.Brasileiros – Houve alguma frustração na sua carreira?Í.R. – Não. Tudo foi gratificante.Brasileiros – Você acha que o reconhecimento do público e da crítica foi devido?Í. R. – Isso você não ficará sabendo (risos).Brasileiros – Qual o segredo da longevidade da sua carreira?Í.R. – É sempre estar disponível para o trabalho, com fortes doses de disciplina, bons diretores e aí ela acontece.Brasileiros – Você foi um homem que amou muito. Foi mais amado do que amou ou vice-versa?Í.R. – Foi igual. Amei intensamente e fui amado intensamente.Brasileiros – Se houvesse uma palavra que resumisse sua carreira, que palavra seria essa?Í.R. – PAZ.Brasileiros – Desde 2007, você não faz nada no teatro, seja como diretor ou como ator. Tem algum projeto para comemorar os 80 anos de vida e os 60 anos de carreira?Í.R. – Estou com um projeto de dirigir duas peças, que ainda estou estudando, mas não tem nada fechado.

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