Humor contra a catástrofe

Juan Villoro
O escritor mexicano Juan Villoro/ Foto: Divulgação Flip

Foi um dia de emoções fortes na Flip. Na mesa Tristes Trópicos, o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro disse estar envergonhado de ser brasileiro por conta da devastação do território guarani no Mato Grosso do Sul, o qual comparou à Faixa de Gaza. Antes, na mesa Memórias do Cárcere, Marcelo Rubens Paiva se emocionou ao falar do pai, o deputado Rubens Paiva, torturado e morto pela ditadura em 1971.

Nesse sentido, a conversa entre o israelense Etgar Keret e o mexicano Juan Villoro foi, talvez, a mais representativa de uma Flip que buscou, com sucesso, tratar de grandes questões, como a indígena e a herança dos anos de chumbo, ao mesmo tempo em que abordava o humor crítico, na figura do homenageado Millôr Fernandes. Autor mais importante do México no momento, que teve seu livro Arrecife (Companhia das Letras) recém-lançado no Brasil, Villoro declarou, por exemplo, que “uma das coisas mais importantes da literatura é manter o senso de humor e a esperança mesmo em meio á catástrofe.”

Keret, por sua vez o escritor mais popular de Israel, autor de De Repente, uma Batida na Porta (Rocco), disse: “O humor é a toalha quente com que pegamos a panela de pressão.” Sobre o conflito israelense, disse: “Podemos fazer muita coisa a respeito do conflito. É só um pedaço de terra que pode ser dividido em dois lados.” E ao final, declarou, para espanto do mediador Ángel Gurria-Quintana, que ia “ser expulso do céu dos escritores. Para mim é muito fácil escrever. Viver que é difícil.”

Musa
De uma beleza incomum e uma certa timidez, demonstrada pela forma de falar com a cabeça baixa, num tom também baixo, Jhumpa Lahiri esteve um pouco aquém das expectativas. Inglesa, filha de indianos, que viveu nos Estados Unidos e hoje mora em Roma, ela falou bastante sobre os conflitos de identidade e a gênese de seu livro mais recente, Aguapés (Globo), finalista do Man Booker Prize.

Entre outras coisas, contou que o livro partiu de uma lembrança real de dois adolescentes que foram mortos pelos paramilitares na frente de suas famílias. Eles faziam parte do movimento naxalista, de orientação maoísta, como um de seus personagens centrais. Declarou que nunca tinha “ousado imaginar que viveria dos meus escritos. Escrever é algo muito arriscado.” Mas que já escrevia desde os sete anos de idade, quando roubou um caderno na escola. Contou também de seu novo livro, escrito em italiano, sobre o aprendizado da língua. E disse que para o próximo quer se “sentir livre para escrever algo num lugar não identificado, de uma forma mais abstrata, como Pirandello.”


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