Quando lhe perguntam sobre a importância da sua obra para a arquitetura brasileira, o grande Oscar Niemeyer, firme e forte às vésperas de completar 101 anos, costuma responder com uma grande lição para todos nós:
“Importante, meu filho, não é a arquitetura Importante é a vida”
Para ele, a arquitetura é apenas um instrumento, um meio de expressar seus conhecimentos e sentimentos, não é um fim em si mesmo, não é uma razão de viver. É justamente o contrário: suas razões de viver é que fazem da sua arquitetura uma arte única e admirada.
Para mim, o homem é sempre mais importante do que sua obra, qualquer que seja seu tamanho. Assim também encaro o jornalismo, que exerço com paixão desde a adolescência, a ponto de minha mulher às vezes reclamar dizendo que me dedico mais à profissão, sua grande rival, do que a ela.
Ao longo de mais de quatro décadas de carreira, já trabalhei em diferentes meios e plataformas, como se diz hoje em dia, e agora estou aqui na internet cuidando deste Balaio, ainda aprendendo a lidar com esta grande novidade nas comunicações humanas.
“Kotscho, logo se vê que você é novo nisso!”, escreveu-me com toda razão o “Leitor Atento”, um comentarista habitual deste espaço, ao me criticar pelo post de ontem sobre o anonimato na web que ainda me incomoda neste trabalho.
Para provar que é bobagem minha reivindicação pedindo que os leitores se identifiquem com nome e sobrenome, “Leitor Atento” usou um outro nick: “Carlos Alberto Barbosa Dantas”. De fato, este parecia ser verdadeiro
Foram cerca de 100 leitores até agora há pouco que se manifestaram sobre o texto “A lei e a covardia dos anônimos da web”, que escrevi em resposta a um estudante que me questionou sobre este tema durante um debate ontem de manhã na Semana de Jornalismo da Faculdade Cásper Líbero.
A maioria, como constatou a leitora Rita, defendeu os nicks, quer dizer, a necessidade de manter o anonimato na internet pelas mais variadas razões. O primeiro a se manifestar, o leitor José da Silva, me deu um motivo no qual nunca havia pensado: muitos comentaristas escrevem do seu local de trabalho e não querem deixar rastros que possam chamar a atenção de seus chefes.
O post acabou provocando uma boa discussão entre os próprios leitores, que é uma das razões de ser deste Balaio: estimular o debate sobre temas que são de interesse de todos nós.
Teve gente que entendeu o texto como uma intimidação aos leitores anônimos, a exemplo de J. Luis, que enviou comentário às 8h08 de hoje.
Nem sempre os leitores têm razão. Ele diz que um filho meu estuda com o dele no mesmo colégio, o que é meio impossível, porque só tenho filhas e as duas já se formaram na faculdade faz muito tempo.
Alguns explicaram que usam nicks e não se identificam por medo “dos petistas” em geral ou de sofrer represálias por parte de outros leitores. Não é fácil: enquanto uns me propõem que eu faça uma varredura no Balaio para deletar comentários xulos e ofensivos, contratando um moderador, outros temem que sejam censuradas opiniões contrárias às minhas _ o que é um absurdo, como podem comprovar os próprios leitores que frequentam este espaço.
“Num debate de idéias o que vale é a mensagem, não o emissor”, defende Dante Pessoa, nome que ele mesmo diz se tratar de pseudônimo. Victor Hugo de Oliveira justificou o anonimato pela mesma razão do voto ser secreto nas eleições: “Aqui na internet se ouve o que se quer e o que não se quer”. Até aí tudo bem.
Mas Tato de Macedo, que também tem um blog, exagerou: mandou até seu telefone e endereço junto com número de RG. Tem de tudo nos comentários, alguns muito bem escritos e fundamentados, como o de Bento Bravo, que faz boas análises todo dia de manhã aqui no Balaio, defendendo suas idéias sem ofender ninguém.
O leitor Mauro Chazanas resumiu o que eu gostaria de dizer ao encerrar esta nossa primeira conversa do dia: é importante todos preservarmos o bom humor. Porque, como diria o sábio Niemeyer, importante é a vida, a internet é só um meio.
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