Imprensa e igrejas, grandes derrotados

Caros leitores,

por motivos de força menor, hoje não estou disposto a atualizar o Balaio, mas queria falar apenas de dois fatos da quinta-feira que merecem registro:

* Confirmado: a terceira onda que favorecia Serra no começo do segundo turno virou marolinha.

O novo ibope divulgado pelo Jornal Nacional apenas confirma o que o Vox Populi já havia mostrado na véspera e que tanta indignação causou ao Sergio Guerra, o comandante da campanha tucana. Segundo os números apresentados por Fátima Bernardes, a vantagem de Dilma Rousseff sobre José Serra aumentou de 6 para 11 pontos (51 a 40, nos votos totais) e de 6 para 12 (56 a 44, nos votos válidos). Até o momento, Guerra ainda não se manifestou sobre o Ibope.

* A “agressão” a Serra foi uma farsa.

Imagens mostradas pelo SBT provam que a tal da “agressão de petistas ao candidato Serra”, que até o levou ao hospital, quarta-feira, no Rio, não passou de uma pantomina muito mal ensaiada. Parece que foi só uma bola de papel enrolada em fita durex. Teve colunista da velha mídia que viu até uma bandeirada de petistas na cabeça de Serra. Se fosse isso, convenhamos, sobraria certamente ao menos uma foto, com tantos jornalistas seguindo o candidato. Foi apenas mais um factóide que não vingou, mas certamente será utilizado no programa de TV. Vai ficar conhecido como o “novo caso Rojas” (lembram-se do goleiro chileno que se “feriu” no Maracanã?).

***

Ganhe quem ganhar a Presidência da República no próximo dia 31, já dá para saber quais foram os grandes derrotados desta inacreditável campanha eleitoral de 2010: a imprensa da velha mídia, mais engajada e sem pudor do que nunca, e as igrejas em geral, com amplos setores medievais de evangélicos e católicos transformando templos em palanques e colocando a religião a soldo da política.

Por acaso, são as mesmas instituições que se uniram em 1964 para derrubar o governo de João Goulart e jogar o Brasil nas profundezas da ditadura militar por mais de duas décadas. Como naquela época, os celerados e ensandecidos combatentes das redações e dos púlpitos acenam com novas ameaças às liberdades democráticas, outra vez o perigo vermelho, de novo a degradação dos costumes. Só falta uma nova “Marcha da Família, com Deus pela Liberdade”.

Nem parece que se passou quase meio século, que o Brasil lutou e reconquistou a democracia e vivemos em pleno Estado de Direito um dos mais longos períodos de amplas liberdades públicas de nossa história, com crescimento econômico, distribuição de renda e desenvolvimento social.

Faço esta constatação com muita tristeza, com dor na alma, pois a imprensa e a religião católica são importantes na minha vida desde menino, foram duas instituições fundamentais na minha formação. Sempre tive muito orgulho de ser jornalista e de professar a fé católica. Agora, confesso, que muitas vezes sinto vergonha. Explica-se: sou do tempo de Cláudio Abramo e D. Paulo Evaristo Arns.

Cursei o ginásio num colégio de padres e, no meu teste vocacional, fui informado de que deveria seguir o sacerdócio. Só não o fiz por causa desta bobagem de que padre não pode ter mulher, ou seja, tinha que ser celibatário. É que já na época gostava muito do chamado sexo oposto e detestava a hipocrisia.

Acabei optando muito cedo por outro tipo de sacerdócio, o jornalismo, profissão na qual comecei com 16 anos, trabalhando em jornais de bairro de São Paulo. Nunca me arrependi. Nestes 46 anos de ofício, passei pelas mais diferentes funções, de repórter a diretor, nas redações de praticamente todas as principais empresas de comunicação do país, com exceção da revista Veja e da TV Record.

Agora, ancorado aqui na internet com o meu Balaio e na Brasileiros, uma revista mensal de reportagens que ajudei a criar, acompanho de longe esta guerra santa em que se transformou a campanha presidencial, com igrejas, jornalistas, padres e pastores tomando partido fanaticamente a favor de uma candidatura e contra a outra.

Jamais tinha visto nada parecido na cobertura de uma eleição – tamanhas baixarias, tantos preconceitos, discursos tão vis e cínicos, textos inacreditavelmente sórdidos publicados em blogs e colunas – desde os tempos em que não podíamos votar para prefeito, governador nem presidente da República.

No melhor momento social e econômico da história recente do país, chegamos ao fundo do poço na política. O Brasil não merecia isso. O problema é que, qualquer que seja o resultado da eleição, no dia seguinte a vida continua, e um terá que olhar na cara do outro, seja de que partido ou igreja for, leitor, ouvinte ou telespectador. Como sobreviverão estas duas instituições? Com que cara?

Na véspera do golpe dentro do golpe que foi o Ato Institucional Nº 5 decretado pelos militares, em dezembro de 1968, o Estadão publicou o editorial “Instituições em Frangalhos”, e a edição foi apreendida. Agora, pode publicar o que quiser e apoiar o candidato que melhor lhe convier sem correr este risco.

Orgãos de imprensa e igrejas, jornalistas e religiosos, têm todo o direito de escolher seus candidatos, fazer campanhas por eles, detonar os adversários. Só não podem fingir que são santos e pensar que nós todos somos bobos.

Em tempo:

sempre achei que este espaço não deve ser utilizado para fazer campanha eleitoral, mas vou abrir uma exceção hoje para pedir aos meus caros leitores que votem no programa “Papo de Mãe”, na categoria Comunicação, do Premio Top Blog de 2010. Recebi e transcrevo abaixo a mensagem que recebi de Mariana Kotscho, a minha filha jornalista, que dirige e apresenta o programa junto com Roberta Manreza, no comando de uma equipe da melhor qualidade:

“Oi!!! Você já votou no Papo de Mãe para o prêmio Topblog??? Se não votou, ainda dá tempo!!! Já estamos entre os 30 mais votados na categoria Comunicação e as votações se encerram no dia 10/11/2010.

Para votar é só ir até o www.papodemae.com.br e clicar no selo do concurso. Ou, então, acessar direto pelo link: http://www.topblog.com.br/2010/index.php?pg=busca&c_b=2799553. Depois, você receberá uma mensagem em seu e-mail pedindo que confirme o voto. É fácil. Peça para seus amigos votarem também!

Esta é uma campanha absolutamente “ficha limpa” em que o que conta é o resultado do nosso trabalho. Em nosso site você confere informações, opiniões, participação de telespectadores e especialistas, dicas, entrevistas exclusivas e muito mais. Tudo isto com a credibilidade da Equipe Papo de Mãe – uma equipe de peso! Não é à toa que um de nossos repórteres chama-se Pedrinho Tonelada (rsrs).

Contamos com seu voto. Obrigada!Mariana Kotscho

Equipe Papo de Mãe”


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