Atualizado às 11h40 de 22/9, quarta-feira
Caros leitores do Balaio,
escrevo hoje, com muita satisfação, apenas para informar aos amigos que ganhei na noite desta terça-feira o Premio Comunique-se 2010 (leia aqui), a principal premiação de comunicação e jornalismo do país – porque é feita em eleição direta -, na categoria de repórter de mídia impressa (na mídia eletrônica, ganhou meu velho e bom amigo Caco Barcellos, da TV Globo).
Este prêmio teve um gosto especial, por acontecer já na prorrogação da minha carreira (completo 46 anos de reportagem no próximo mês) e também por trabalhar numa pequena empresa, criada faz apenas três anos, que edita a revista Brasileiros, fora do esquemão da grande mídia.
Divido este prêmio com o Hélio Campos Mello e toda a brava equipe da Brasileiros que edita as minhas matérias e ainda me paga um salário no final do mês.
Apesar de tudo, a reportagem sobrevive, e eu também. Agradeço a todos os leitores aqui do blog e da revista, e aos colegas jornalistas, que votaram em mim no Comunique-se. Valeu.
Vida que segue.
Um forte abraço a todos,
Ricardo Kotscho
Sou de um tempo muito antigo, como vocês sabem, quando a imprensa ainda publicava notícias. No momento em que a própria imprensa vira notícia, como está acontecendo agora na campanha eleitoral, alguma coisa está errada.
“Em evento, Dilma acusa Folha de parcialidade”, destaca a Folha de S. Paulo, em sua primeira página desta terça-feira.
Manchete do site do jornal O Globo abrindo o dia: “Após ataques de Lula, MST e centrais sindicais se juntam contra a imprensa”. Várias entidades do movimento social, informa o jornal carioca, marcaram para quinta-feira, no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, um “Ato contra o golpismo midiático”.
Até os quartéis já entraram na roda. Na mesma quinta-feira, no Rio de Janeiro, foi marcado pelo Clube Militar, tradicional reduto das fardas mais reacionárias, um debate sobre “A democracia ameaçada: restrições à liberdade de expressão”. Jornalistas convidados: os democratas Reinaldo Azevedo, da Veja, e Merval Pereira, de O Globo.
O clima que se vive neste momento decisivo da campanha presidencial de 2010, a apenas 11 dias das eleições, pode ser resumido no convite para o ato de São Paulo:
“Conduzida pela velha mídia, que nos últimos anos se transformou em autêntico partido político conservador, essa ofensiva antidemocrática precisa ser barrada”.
A escalada da radicalização, que colocou a imprensa no centro do debate eleitoral como parte e não apenas testemunha do processo, começou há cerca de quatro semanas, quando as pesquisas mostraram um quadro estabilizado, indicando decisão no primeiro turno, com a trilogia de capas do polvo da revista Veja e a série de reportagens da Folha para desconstruir a imagem e a campanha da candidata Dilma Rousseff.
O auge se deu no último fim de semana, com o discurso do presidente Lula, num comício em Campinas, em que ele fez seu mais violento ataque à grande imprensa nesta campanha.
“Nós somos a opinião pública () Não vamos derrotar apenas nossos adversários tucanos. Vamos derrotar alguns jornais e revistas que se comportam como partido político e não têm coragem de dizer que são um partido político”.
Na segunda-feira, no Rio, a própria candidata Dilma, acusada pelo jornal de favorecer uma empresa em 1994, também perdeu a paciência com a Folha e partiu para o ataque :
“Eu queria fazer um protesto veemente contra a parcialidade do jornal Folha de S. Paulo. Eu fui julgada pelo Tribunal de Contas do Estado e todas as minhas contas foram aprovadas () A matéria é parcial e de má fé!”, acusou ela, de dedo em riste, em seu primeiro desabafo na campanha.
Curioso é que, enquanto subia a temperatura no confronto entre o PT e a imprensa, o candidato tucano José Serra se afastava do tiroteio, preferindo apresentar novas promessas ao eleitorado a cada dia. A mais recente foi oferecer o 13º aos beneficiários do Bolsa Família.
Serra já tinha prometido dobrar este benefício e elevar o salário mínimo para R$600, além de asfaltar a Transamazônica e construir 400 quilômetros de metrô. Como ninguém da imprensa lhe indagou de onde virão os recursos, caso seja eleito, o candidato parece ter gostado da nova estratégia.
Melhor assim. O clima de beligerância dos últimos dias não contribui para melhorar a nossa democracia nem as nossas vidas. Está na hora de todo mundo baixar a bola e deixar o eleitor decidir com tranquilidade o que ele quer para o futuro do país.
Em tempo: recebo do amigo Carlos Wagner, repórter gaúcho que é um dos melhores do Brasil, a notícia do lançamento de “Os infiltrados – Eles eram os olhos e os ouvidos da ditadura”, da editora AGE. Além de Wagner, os autores são Carlos Etchichury, Humberto Trezzi e Nilson Mariano.
Será no próximo dia 30, a partir das 19 horas, na Livraria Cultura, do Bourbon Country, em Porto Alegre. Escreve Wagner:
“Este livro desvenda a trajetória de uma personagem indispensável à sustentação da ditadura militar no Brasil (1964-1985): o agente infiltrado.
Vinte e cinco anos depois de cumprida a missão secreta, eles rompem o silêncio a que foram obrigados pela profissão para contar como se introduziram nos movimentos de resistência ao regime autoritário.
Pela primeira vez, os espiões revelam como se transformaram em clones daqueles a quem deviam vigiar e sabotar, como estudantes, guerrilheiros, colonos sem terra, políticos, religiosos e sindicalistas. São relatos exclusivos, que agora se incorporam à História do Brasil”.
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