Imprensa: uma tarde na toca de mestre Dines

Cercado de milhares de livros distribuídos por mais de 30 estantes e um container no quintal, algumas raridades que avançam até pelo banheiro e cozinha da casa onde funciona seu escritório, na Vila Madalena, mestre Alberto Dines recebeu na tarde desta quarta-feira os colegas do Jornalistas & e Cia., de Eduardo Ribeiro, para prestar seu depoimento para a série “Protagonistas da Imprensa”.

Como repórter convidado, participei das três agradáveis e gratificantes horas que passamos na toca do Dines, numa bucólica rua sem saída apropriadamente chamada de Laboriosa, onde ele e a mulher, a também jornalista Norma Couri, trabalham desde que voltaram de uma longa temporada em Portugal, em 1996.

Azulejos coloniais informam na entrada da casa que ali funciona a empresa “Jornalistas Associados”, formada na verdade só pelo casal, quando Dines resolveu trabalhar como profissional autônomo, sem carteira assinada, depois de ter ocupado postos de comando no Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo, Editora Bloch e Editora Abril, entre outras publicações.

Aos 77 anos, ele mantém um ritmo de trabalho de deixar qualquer jovem com inveja. Criador, mentor e articulista do site Observatório da Imprensa, há 18 anos, responsável também por um programa semanal na TV Brasil e outro diário no rádio, Dines ainda escreve uma coluna distribuída para o iG e jornais regionais, faz palestras e dedica as horas vagas à literatura.

Quando não está escrevendo ou reescrevendo algum livro, Dines pode ser visto lendo qualquer obra da sua vastíssima biblioteca, em seu apertado escritório instalado num dos cômodos do bangalô, que é alugado _ uma ilha de paz em meio ao agito do mais boêmio bairro paulistano, onde também mora, num apartamento a poucas quadras da toca em que passa os dias, e muitas noites, enfurnado.

A visão crítica que tem sobre a profissão, a imprensa brasileira e o país, não lhe tiraram o entusiasmo de quando começou na carreira, faz 56 anos, no Rio de Janeiro, onde nasceu.

Logo na primeira pergunta do longo roteiro levado por Eduardo Ribeiro e Wilson Baroncelli, editor executivo do Jornalistas e Cia., Dines disse que poderia falar sobre o assunto durante várias horas ou dias. Edu queria simplesmente saber como o consagrado jornalista vê a imprensa brasileira hoje.

Em sua longa resposta, Dines constatou que a principal característica é a falta de diferenciação entre os três grandes jornais do país (Folha, O Globo e Estadão). “Eles não competem mais. Estão todos nivelados por baixo, não têm mais pluralidade.”

Para ele, a internet é apenas um pretexto, uma desculpa para o declínio do jornalismo impresso, que começou bem antes da febre de portais, sites e blogs, já que o eletrônico não lhe oferece ainda informação atualizada de qualidade.

Concordo com ele, mas vou parando por aqui porque não ficaria bem furar a entrevista dos meus amigos.

Quem quiser saber tudo o que mestre Dines pensa sobre a história da imprensa brasileira, jornalistas de redação e assessorias de imprensa, ética profissional, indústria editorial, poder econômico, governo Lula e os momentos mais importantes da sua vida e obra, deve esperar o começo de fevereiro, quando será publicada a nova edição especial do Jornalistas & Cia. com este que é um maiores protagonistas do nosso ofício.

Prometo avisar vocês quando a entrevista sair.


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