Consolidado no início da década de 1980, o rap – sigla para Rhythm and Poetry, ritmo e poesia – surgiu como um dos quatro elementos do hip-hop, também composto por MC’s, cantores e mestres de cerimônia; DJs, que provêm as bases para as rimas; grafiteiros; e B-boys, como são chamados os dançarinos. Desde os primórdios, quando foi “sintetizado” pelo DJ Kool Herc, em 1973, e ganhou projeção com o sucesso Planet Rock, de Afrika Bambaataa, no fim da década, o rap tornou-se uma das mais democráticas expressões culturais dos jovens negros americanos. E foi justamente essa vocação de ser porta-voz das mazelas sociais e do cotidiano sofrido de jovens que vivem à margem das grandes cidades que fez do rap linguagem universal.
Simultaneamente, nos idos de 1982, o gênero começou a ser difundido pelo Brasil, partindo de São Paulo. Em 1988, a coletânea Hip-Hop, Cultura de Rua abriu caminho para uma produção genuinamente brasileira. Mesmo valendo-se de colagens de bases musicais americanas (sobretudo de soul e de funk), os artistas reunidos no disco lançado pelo selo Eldorado, entre eles Thaide e DJ Hum, Código 13 e Mc Jack, versavam sobre a difícil realidade nas periferias paulistanas. Mas foi com o encontro de quatro rapazes vindos dos extremos sul e norte da capital que o Brasil viu surgir, em 1990 com o álbum de estreia Holocausto Urbano, o maior expoente do gênero no País, os Racionais MC’s.
Formado pelos MC’s Mano Brown, Edi Rock, Ice Blue e o DJ Kl Jay, os Racionais ganharam projeção nacional, no verão de 1993, com o segundo álbum Raio-X Brasil, o estrondoso sucesso de Domingo no Parque, e a epopeia trágica de O Homem na Estrada. Quatro anos mais tarde, o grupo emplacou façanha sem precedentes. Em tempos de mercado fonográfico em queda livre de vendas, com o álbum Sobrevivendo no Inferno, o grupo lançou seu próprio selo independente, Cosa Nostra, e atingiu a impressionante marca de 1,5 milhão de cópias vendidas. Não bastasse, Sobrevivendo no Inferno foi considerado um dos mais importantes títulos brasileiros da década.
O mais recente álbum dos Racionais MC’s, o duplo Nada Como um Dia após o Outro Dia, foi lançado em 2002. O longo hiato de mais de dez anos, lógico, tem deixado os fãs do grupo atônitos. Mas um ótimo atenuante chegou às lojas. Respeitado na mesma proporção que o carismático, e também sisudo, Mano Brown, Edi Rock acaba de lançar seu segundo álbum solo e ameniza a ansiedade dos fãs. Autor de clássicos dos Racionais, como Beco sem Saída, Juri Racional e Mágico de Oz, Edi estreou solo, em 1999, com o álbum Rapaz Comum II. Depois de seis anos de produção, necessários para negociar direitos autorais dos samples utilizados nas bases, ele acaba de lançar, aos 42 anos, o consistente Contra Nós Ninguém Será.
Repleto de convidados e parcerias musicais – Emicida, Dexter, Marina de La Riva, Flora Matos, Rael da Rima e o veterano Ndee Naldinho entre eles –, o novo álbum, até mesmo por sua extensão, exige audição minuciosa e gradativa, para desfrutar das nuances musicais e temáticas presentes nele. MC imponente, de voz personalíssima e rima precisa, Edi Rock mostra que continua em grande forma. Os Racionais prometem novo álbum para 2014. Até lá, os fãs podem se fartar com o ritmo e a poesia desse grande sujeito.
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