Os interessados em discutir a fundo as grandes questões brasileiras têm mais um motivo para comemorar: foi lançado o primeiro número da revista Interesse Nacional, trimestral, editada pelo embaixador Rubens Barbosa e por Sergio Fausto, coordenador de Estudos e Debates do Instituto Fernando Henrique Cardoso, e com um conselho editorial de peso.
O primeiro número propõe um panorama de grandes temas nacionais. Começa pela política externa nacional, onde Rubens Barbosa vê uma ideologização e uma politização da atuação diplomática do Brasil frente aos vizinhos sul-americanos. Diz o embaixador: “Lula demonstrou que a esquerda por ele representada, eleita democraticamente, pode ser uma alternativa ao populismo de esquerda para os países da América do Sul”. Em qual (ou quais) vizinho(s) estaria pensando?
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A priorização das relações estratégicas e direcionadas por afinidades políticas explicaria os recentes passos do governo brasileiro junto a Argentina, Bolívia, Equador e Venezuela. Quanto a esta última, as perspectivas de seu ingresso oficial como membro pleno no Mercosul são vistas com reserva, particularmente no que tange ao cumprimento das cláusulas democráticas dos acordos do bloco. O artigo seguinte, de Marco Aurélio Garcia, assessor especial da Presidência da República, defende a opção sul-americana do governo brasileiro como um meio de ampliar a interconexão entre os países do subcontinente e o crescimento econômico como um dos caminhos para a superação das desigualdades na região.
Gustavo Franco, professor de economia da PUC/RJ e ex-presidente do Banco Central, discute o espaço que ocupamos na economia mundial, faz o balanço das transformações desde 1994 e critica as ações, segundo ele anacrônicas, de desenvolvimentismo do governo atual. Em contraponto, Luiz Gonzaga Belluzzo, professor da Unicamp e diretor da Facamp, faz uma profunda crítica ao modelo liberalizante que tomou conta da economia mundial nas últimas décadas. A adoção de políticas conservadoras pelo Brasil não teria sido capaz de resolver os impasses estruturais de nossa economia e tampouco deu espaço para a abertura de novos caminhos em direção ao desenvolvimento.
As mudanças climáticas no mundo são o tema de Everton V. Vargas, diplomata e subsecretário do Ministério das Relações Exteriores que propõe uma mudança de conceitos e valores para o avanço das negociações sobre o clima. A reforma do Judiciário é abordada por Joaquim Falcão, diretor da escola de Direito da Fundação Getulio Vargas/RJ e membro do Conselho Nacional de Justiça. A defesa da existência de uma TV pública, pelo jornalista e professor do Instituto de Estudos Avançados da USP Eugênio Bucci, está fundamentada em sua potencial contribuição para a democracia, a ampliação da cultura, a diversidade e a inclusão social.
Cláudio de Moura e Castro, presidente do Conselho Consultivo da Faculdade Pitágoras, fecha o primeiro número discutindo a internacionalização das instituições de ensino superior no mundo e no Brasil. O ingresso de recursos estrangeiros e o financiamento das universidades por instituições ou operações financeiras mais próprias a outras atividades capitalistas são fato em todo o mundo e ganham importância por aqui. Contrariamente a posições mais puristas, o autor vê algo de positivo nesse processo de internacionalização.
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