Excomunhão é mesmo uma lei de Deus que ninguém pode contestar?
Uma informação perdida no meio de um despacho da agência espanhola EFE mostra como a internet pode fazer até o Papa Bento 16 admitir que errou por ter revertido a excomunhão de quatro bispos ultraconservadores ordenados pelo arcebispo Marcel Lefèbvre, fundador da Sociedade São Pio 10º.
Se até o Papa, diante da reação da opinião pública manifestada pela internet, reconheceu falhas no processo de reversão da excomunhão de bispos radicais, por que o mesmo não pode acontecer, em sentido inverso, com o arcebispo José Cardoso Sobrinho, da Arquidiocese de Olinda e Recife, aquele que excomungou os médicos e a mãe da menina de 9 anos estuprada pelo padastro, grávida de gêmeos?
O Papa Bento 16 enviou carta manuscrita a todos os bispos católicos na qual cita erros na condução do caso e admite que a Igreja “não se deu conta” da forte reação às declarações do bispo Richard Williamson feitas pela internet, ao negar o Holocausto, que “se sobrepuseram de modo imprevisível à reabilitação dos prelados, causando um curto-circuito midiático que alterou o caso”.
Fundamental na recente campanha que elegeu Barack Obama para presidente dos Estados Unidos, a democratização do debate público pela internet finalmente chega à Igreja Católica, levando o Papa a admitir que a gestão do processo que revogou as excomunhões não foi “suficientemente explicada”.
Ainda está em tempo de dom Sobrinho se informar melhor sobre o que circula na internet brasileira a respeito das suas declarações sobre excomunhão, estupro e aborto no caso da menina de Alagoinha e, quem sabe, também rever sua decisão.
A noite mágica do maestro pianista
O concerto da noite de quarta-feira na Sala São Paulo, marcando a abertura da temporada 2009 da Orquestra Bachiana Finarmônica, regida por João Carlos Martins, vai ficar registrado para sempre na minha memória e, certamente, na de quantos puderam estar lá naquela noite mágica.
O pungente esforço do pianista que se tornou maestro aos 64 anos, depois que perdeu os movimentos das mãos e dos braços, para voltar a fazer o que mais gosta na vida, foi recompensado pelos prolongados aplausos da platéia, de pé, ao final de cada uma das quatro peças executadas.
Na primeira parte do programa, Martins regeu a sinfonia Eroica, de Beethoven, por longos 48 minutos, sem partituras à sua frente, fazendo os gestos possíveis para se fazer entender pelos músicos na sua banqueta de maestro.
Mas as maiores emoções da noite ficaram para a segunda parte, quando ele foi para o piano executar clássicos de Mozart, Rachmaninoff, Paganini e Enio Morricone, o compositor da música tema de Cine Paradiso.
O filme é citado por João Carlos Martins na apresentação do programa em que fala do seu livro autobiográfico “A Saga das Maõs”:
“Ao reler este livro, antes de mandar a aprovação final para o editor, lembrei-me de uma cena de Cine Paradiso. Vi-me diante de uma tela, onde um velho projetor passava um filme desde a minha infância até hoje. Emocionei-me, ri, chorei Gostaria de ter mudado muitos fatos, mas esta foi a minha realidade”.
Martins ainda voltaria ao piano para executar o Hino Nacional nos diferentes ritmos que compõem o rico cardápio da nossa música popular. Quando os dedos já não ajudavam mais, tocava com os punhos fechados ou batendo os cotovelos no teclado.
Deve ter sido bem sofrido, mas ele deu, mais uma vez, a volta por cima, aos 68 anos, mais magro e com os cabelos grisalhos cada vez mais compridos. Foi um belo espetáculo de superação, uma noite para não se esquecer.
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