Itaipu 2008: vida nova na esquina das Três Fronteiras

É o caso da região conhecida como Três Fronteiras, no oeste do Paraná, bem na esquina onde se encontram Brasil, Paraguai e Argentina.

Vim para cá na quinta-feira e levei um susto com o crescimento de Foz do Iguaçu – a quantidade de prédios, as avenidas largas e arborizadas, o movimento de carros e de gente circulando dia e noite.

No tempo em que os repórteres não dispunham de tantas facilidades tecnológicas nem se sonhava ainda com sites de busca, lá pelo final dos anos 1970, eu não parava de viajar. Era a época do chamado Milagre Brasileiro – e um dos seus símbolos chamava-se Itaipu.

Quando cheguei aqui pela primeira vez, Foz do Iguaçu parecia uma cidadezinha do velho oeste. As casas, os carros e as pessoas, tudo pintado de terra vermelha. Havia mais gente trabalhando na construção da maior usina hidrelétrica do mundo do que habitantes.

Eram mais de 40 mil peões de trecho, barrageiros e engenheiros no auge da construção da barragem principal. Entre eles, estava o ajudante de carpinteiro Wellington Santos da Silva.

“Dei o sangue aqui”, conta-me ele, agora ao volante da van que foi me buscar no aeroporto. O baiano Wellington trocou de função e já trabalha faz 22 anos no setor de relações públicas.

No caminho para Itaipu, as antigas vilas de operários viraram bairros, as casas dos engenheiros agora formam um sofisticado condomínio, só um detalhe não mudou na paisagem: o velho guapuruvu continua no mesmo lugar.

Árvore que dá boa sombra e fornece madeira para a construção de canoas, era ali, na entrada da vila dos barrageiros, em volta do guapuruvu, que a peãozada se reunia nos finais de tarde.

Foi onde eu recolhi naquela época boas histórias de brasileiros vindos de tudo quanto era canto para uma série de reportagens publicadas no “Estadão”.

Voltaria a Itaipu outras vezes em diferentes etapas da obra. Na medida em que elas eram concluídas, algumas áreas e construções foram abandonadas.

Por isso, assim que cheguei, foi uma agradável surpresa – a primeira de uma série – encontrar o Parque Tecnológico de Itaipu instalado nos antigos alojamentos dos trabalhadores solteiros, que agora abrigam cursos universitários, centros de pesquisa, laboratórios, oficinas de artesanato e outras atividades.

Desta vez, o que me trouxe aqui foram dois convites: para fazer uma palestra no projeto “Diálogos de Fronteira”, em Itaipu, daqui a pouco, e participar de um bate-papo com leitores na Feira Internacional do Livro de Foz do Iguaçu.

Feiras de livro e palestras têm me levado ultimamente a lugares por onde já andei como repórter e é inevitável aproveitar para fazer novas reportagens.

Aqui não seria diferente. Uma longa conversa com meu velho amigo Jorge Samek, diretor-geral brasileiro, e outros entusiasmados dirigentes de Itaipu, durante um jantar no “Tio Querido”, do outro lado da fronteira, em Puerto Iguazu, na Argentina, rendeu várias pautas que comecei a fazer hoje.

Passei o dia todo na hidrelétrica, plantei uma árvore no bosque dos visitantes, andei por dentro e por fora da usina, para cima e para baixo, conversei com meio mundo, sobrevoei de helicóptero a região por mais de uma hora, recolhi quilos de informações e daqui a pouco preciso voltar para fazer a palestra.

Do alto, deu para ver como a vida está mudando também nesta região de fronteira da qual geralmente só se ouve falar em assuntos como conflitos na Ponte da Amizade, que liga o Brasil ao Paraguai, contrabando de sacoleiros, ameaças terroristas, quer dizer, só coisa ruim.

Nunca tinha visto de cima as Cataratas do Iguaçu, um espetáculo que vale a pena ver pelo menos uma vez na vida. Paulo Martins, o comandante do helicóptero, que há 25 anos voa na região, vai apontando as novidades e as belezas de um lado e de outro, e comemora: “As águas do lago estão ficando mais limpas, não sujam nem quando chove”.

É o resultado mais visível de uma série de projetos e ações propostas no programa “Cultivando Água Boa” desenvolvido pela empresa em 29 municípios no entorno de Itaipu para proteger as nascentes, combater a erosão e a poluição, garantir o abastecimento humano e estimular a pesca profissional.

Fiquei impressionado também com as matas ciliares do reflorestamento às margens do Lago de Itaipu, com mais de 25 milhões de árvores plantadas, os novos hotéis de luxo que estão sendo erguidos do lado argentino, as curvas de nível dos tapetes verdes sem fim das plantações de trigo e milho no Brasil, os prédios se multiplicando em Ciudad Del Leste.

Só vim até o hotel para tomar banho e trocar de roupa, e aproveitei para escrever correndo esta coluna no meu notebook novo que está viajando comigo pela primeira vez.

Como amanhã a programação ainda prevê uma visita ao Parque Nacional do Iguaçu e tenho a feira do livro à tarde, vou ter que deixar para publicar minha reportagem na volta a São Paulo. Tenho muito material para ler, faltam algumas entrevistas, mas acho que vai dar uma boa história. Não percam, na próxima semana, aqui neste mesmo espaço.

Bom fim de semana a todos, e muito grato pelos comentários enviados à minha coluna, que estão cada vez mais interessantes, provocando boas discussões.


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