No dia em que as tropas nazistas entraram em Paris, Jean Manzon encontrava-se na Inglaterra como repórter da revista Match, que logo foi fechada. Em pouco tempo sua permanência em Londres tornou-se precária, insustentável. Vivia desempregado e sem poder regressar a seu país. Aconselhado pelo cineasta Alberto Cavalcanti, viajou ao Brasil à procura de trabalho e à espera de tempos melhores.
Em agosto de 1940, desembarcou no Rio de Janeiro com sua câmera Rolleiflex. Vinha acompanhado de seu colega, o jornalista e escritor Pierre Daninos. Recém-chegado, estabeleceu contato com Adalgisa Nery, então casada com Lourival Fontes, o poderoso diretor do DIP – Departamento de Imprensa e Propaganda do Estado Novo. Naquele momento a ditadura Vargas ainda flertava com a Alemanha e com os demais países do eixo, mas o Brasil era um país distante das agruras da guerra e no Rio de Janeiro a elite vivia um de seus momentos de maior esplendor.
A princípio, o Brasil era apenas uma aventura, um lugar para sobreviver em tempos difíceis. Era jovem, tinha 25 anos e possuía boa experiência jornalística voltada à fotorreportagem, isso num tempo em que o fotojornalismo ganhava prestígio nas revistas norte-americanas e na Europa, mas foi graças à carta de recomendação de Alberto Cavalcanti que Jean Manzon conseguiu emprego no DIP.
Jovem, elegante e sedutor, em pouco tempo conquistou a alta sociedade carioca e estabeleceu vínculos com o poder. Chegou, inclusive, a gozar da intimidade de Getúlio Vargas e de sua família.
Em 1943, convidado por Fred Chateaubriand para trabalhar na revista O Cruzeiro, teve a oportunidade de pôr em prática suas experiências europeias de fotojornalismo. Suas ideias logo ganharam prestígio na redação e, desse modo, ele alterou o conceito gráfico e jornalístico da revista e ajudou a transformá-la num grande sucesso de vendas, com milhares de leitores e assinantes em todo o País. As reportagens de Jean Manzon, sempre em parceria com David Nasser, revolucionaram o conceito de fotojornalismo no Brasil.
Jean Manzon introduziu nas suas reportagens a narrativa de imagens e as suas sequências de fotos eram, muitas vezes, mais eloquentes e informativas que o texto assinado por David Nasser. Desse modo, Manzon confirmava o dito popular “uma imagem vale mais que mil palavras”. Entretanto, Millôr Fernandes, seu colega na revista O Cruzeiro, acrescentava humor a esse dito, propondo o desafio – “Vai dizer isto com uma imagem.” Para Millôr, quem fez a revista foram “seis garotos”: o Fred, a dupla Nasser/Manzon, Péricles Maranhão (autor d’O Amigo da Onça), Millôr e Franklin de Oliveira.
Nos quase dez anos em que trabalhou para O Cruzeiro, de 1943 a 1951, Jean Manzon dedicou-se inteiramente à fotografia. Famoso em todo o Brasil por seu trabalho de fotorreportagem, resolveu transformar-se em empresário e alçar voo próprio, dedicando-se ao cinema. Aliás, José Medeiros e Luiz Carlos Barreto, seus companheiros de fotografia na O Cruzeiro, também, adotaram o mesmo rumo, mas abraçaram o emergente Cinema Novo.
Luiz Carlos Barreto dizia que “Jean Manzon era um grande sedutor. Andava de Cadillac conversível, morava no Parque Guinle, ganhava um ótimo salário e tinha entrada nas altas rodas”.
Ao criar sua produtora cinematográfica, Manzon usou toda a sua energia para o cinema, tendo realizado a inacreditável cifra de mais de 800 documentários. Em verdade, foi beneficiado pela exibição obrigatória por lei de documentários nacionais antes de toda sessão cinematográfica. Apesar do êxito de seus filmes, não abandonou a fotografia e produziu no final dos anos 1950 o extraordinário conjunto de fotos sobre a construção de Brasília, a pedido de Juscelino Kubitschek, de quem se tornara amigo.
Já estabelecido como empresário, dirigiu a revista Paris-Match (1968-1972) e foi colaborador da agência Magnum, em Paris. Homem charmoso, amante da boemia, viveu sempre cercado de muitos amigos, sem jamais se distanciar do poder.
Jean Manzon nasceu em Paris, no dia 2 de fevereiro de 1915, há exatos 100 anos. Faleceu em Portugal, em 1990, aos 75 anos, deixando um vasto acervo de imagens sobre o Brasil. Hoje, é impossível retratar a sociedade brasileira das décadas de 1940 até 1990 sem recorrer às suas fotografias ou aos seus documentários.
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