JN usa Marina contra o governo e o PT

Atualizado às 21h30

Ver comentário sobre a entrevista com José Serra no final deste post.

A entrevista desta terça-feira na bancada do Jornal Nacional era com a candidata do Partido Verde, a senadora Marina Silva. Mas o casal William Bonner e Fátima Bernardes não estava interessado em lhe perguntar sobre o seu partido, o programa de governo, as propostas que defende para o país.

A seis semanas das eleições de 2010, os apresentadores do JN estavam mais preocupados em indagar Marina sobre um episódio de 2005, que ficou conhecido como escândalo do mensalão. Marina não teve nenhum envolvimento com o episódio, nunca havia se manifestado sobre o assunto, nem mesmo quando deixou o PT, no ano passado, para se tornar candidata a presidente pelo PV.

Quer dizer, levantaram um tema que envolve um partido e um governo que não estavam presentes na entrevista para se defender. É, no mínimo, covardia. Queriam que Marina fizesse os ataques ao PT por eles para não dar muita bandeira.

O mais curioso é que, na noite anterior, quando fizeram de tudo para não deixar a candidata do PT falar, impedindo a ex-ministra Dilma Rousseff de expor suas idéias e concluir as frases, não lhe fizeram nenhuma pergunta sobre o mensalão. Nesta mesma linha, não será nenhuma surpresa se esta noite perguntarem ao candidato do PSDB, José Serra, o que ele acha dos erros do governo Lula e o que ele faria de diferente no governo.

Seria mais lógico que fizessem a pergunta sobre o mensalão a Serra, que nos últimos dias assumiu o papel de ombudsman do governo, já que nesta eleição ele é apoiado pelo PTB do ex-deputado Roberto Jefferson, um dos pivôs do escândalo.

Pior do que o conteúdo das perguntas, o que me impressiona nestas entrevistas do JN é a postura de Bonner, que mais parece estar interrogando um suspeito na delegacia do que um jornalista preocupado em arrancar dos candidatos informações que possam ser úteis para os eleitores interessados em saber o que eles pensam e pretendem fazer com o país caso sejam vitoriosos.

À medida em que se aproximam as eleições e as últimas pesquisas, com a exceção do Datafolha, mostram o favoritismo da candidata Dilma, alguns jornalistas da grande imprensa parecem estar perdendo o recato. Chega a ser comovente o empenho de certos colunistas e blogueiros ao dizer o que o candidato José Serra e as oposições em geral devem fazer para reverter o quadro, atacando o governo, o presidente Lula e a sua candidata.

Por mais que todos façam declarações de fé no apartidarismo, neutralidade e na independência dos veículos, o noticiário é cada vez mais editorializado e nem as seções de cartas dos leitores escondem a preferência de cada qual. Tudo bem que escolham um candidato e rejeitem outro, mas seria mais honesto deixar isso claro, informando aos seus leitores/eleitores as razões desta escolha.

Caso contrário, fica esta hipocrisia, que se repete a cada eleição, como se os ouvintes, telespectadores e leitores fossem todos bobos e ainda corressem atrás dos chamados formadores de opinião na grande mídia para definir seu voto.

Em tempo: acompanhei agora há pouco a entrevista de José Serra no Jornal Nacional. Foi outra história. Nada a ver com o clima tenso de interrogatórios policiais de que falei no texto acima registrado durante as entrevistas com as candidatas Dilma e Marina. Lembrava um chá das cinco no melhor clube de Londres transmitido ao vivo pela televisão inglesa.

Os anfitriões, Bonner e Fátima, hoje estavam calmíssimos, meigos mesmo. O convidado até chegou a agradecer as perguntas. Parecia que estava lendo as respostas no teleprompter.

O candidato só foi interrompido mais bruscamente já no final, quando começou a falar da sua origem humilde, das suas lutas, conquistas, etc. Como diriam meus amigos tucanos, foi um passeio.

Em tempo: pedem-me para falar da nova seleção brasileira com a molecada do Mano Menezes, que brilhou na estréia contra os Estados Unidos na noite desta terça-feira. Além de tudo o que meus colegas já escreveram, só gostaria de acrescentar que, se esta seleção tivesse ido à Copa da África, a história poderia ter sido outra Mas agora é tarde. Temos que esperar 2014 e botar toda fé neste novo técnico que começa tão bem.


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