Jornalismo de luto

Divulgação, SESC-SP

Morreu, na noite de ontem, sábado, aos 87 anos,o jornalista Ewaldo Dantas Ferreira. Desde às 8h deste domingo, o corpo está sendo velado no Cemitério de Congonhas, em São Paulo, onde ocorrerá o sepultamento, às 16 horas.

Um dos mais importantes jornalistas da imprensa brasileira, Ewaldo Dantas ganhou projeção mundial ao escrever extensa reportagem que revelou a vida clandestina, na Bolívia, de Klaus Barbie, ex-chefe da Gestapo em Lyon, na França, durante a Segunda Guerra. A entrevista histórica com um dos criminosos de guerra mais procurados no mundo foi publicada, no ano de 1972, em série de dez capítulos, pelos jornais O Estado de S. Paulo e Jornal da Tarde. A reportagem ganharia, depois, edição em livro com o título O Depoimento do SS Barbie=Altmann (a obra foi relançada, em 2003, pela editora Rio). O furo internacional de Ewaldo Dantas resultaria na extradição de Barbie à França, por determinação do ex-presidente Georges Pompidou, e sua condenação à prisão perpétua. Barbie morreu, encarcerado, em 1991.     

Mas esse não foi o único grande feito da carreira exemplar empreendida por Ewaldo Dantas. Como repórter, ele também cobriu a Guerra Civil em Moçambique; reportou rebeliões em penitenciárias brasileiras; testemunhou conflitos entre índios e ruralistas; esmiuçou segredos da Ditadura Militar, instaurada no País, em 1964, e deu voz a políticos perseguidos pelo regime, como o líder do Partido Comunista Luís Carlos Prestes e o ex-governador gaúcho Leonel Brizola.

Dantas também cobriu o lançamento da nave Apolo 11, que levaria o homem à Lua, em 1969, e relatou, no calor da situação, a queda do líder argentino Juan Domingos Perón. Engajado, foi também diretor de redação do jornal O São Paulo. De oposição ao regime militar, o periódico foi publicado pela arquidiocese comandada pelo cardeal-arcebispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns. O repórter também entrevistou e tornou-se amigo de grandes personalidades do século 20, como os escritores William Faulkner e Jean-Paul Sartre.

Referência ética e profissional para sucessivas gerações de jornalistas, Dantas exerceu papel decisivo para a consolidação dos direitos trabalhistas de seus pares. Como presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de São Paulo, em 1961, organizou a primeira greve da história da categoria no País – a manifestação resultaria no estabelecimento de um piso salarial para os profissionais da área, na capital paulistana e, depois, em todo o Brasil.  

Nascido em Catanduva, no interior de São Paulo, em 1926, Ewaldo Dantas Ferreira integrou o Seminário Jesuíta de Nova Friburgo (RJ), mas abandonou a formação católica, aos 18 anos, para trabalhar como revisor de jornais do Rio de Janeiro. Matriculou-se, depois, no primeiro curso de jornalismo do País, da Faculdade Nacional de Filosofia, no Rio de Janeiro, mas formou-se na Escola de Jornalismo Cásper Líbero, em São Paulo.

O jornalista deixa mulher, a advogada Alzira Helena Barbosa Teixeira, três filhas, netos e bisnetos.


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