Jovens são formadores de opinião nas famílias de classe média

A geração de 20 milhões de empregos formais em duas décadas e o aumento real do salário mínimo foram peças importantes no cenário nacional. Com o incremento da renda, parcela significativa da população saiu da pobreza e passou a integrar o universo do consumo. Em paralelo, o Brasil adotou políticas públicas que reduziram os encargos para produtos de tecnologia. População com mais dinheiro, crédito e computadores mais baratos levaram à democratização do acesso à internet. O uso da rede teve crescimento exponencial na última década. Mais da metade da população de classe média até 40 anos já é internauta.

As próximas gerações de classe média devem partir de patamares de conectividade muito próximos aos da classe alta. Ou seja, estamos presenciando a ruptura de uma importante barreira. É a migração de um cenário onde apenas a minoria tomava ciência dos fatos para uma realidade em que a informação está à disposição de milhões de pessoas em tempo real. E, se antes os comentários sobre as notícias da TV eram feitos na mesa de jantar, hoje podem ser compartilhados por meio das redes sociais. É o boca a boca 2.0. É a mudança do modelo de comunicação unidirecional para o pluridirecional.

Inicialmente acessada pelas classes média e baixa em lan houses que, assim como surgiram, vêm desaparecendo, a vida digital vai ganhando espaço nos lares das classes C e D, em geral introduzida pelos jovens. Muitas vezes, eles mesmos pagam a conta dos planos de acesso, seja em casa ou no celular. Sem ter a mesma familiaridade com a rede, os pais consultam os filhos sobre vários assuntos, transformando o jovem no novo formador de opinião da classe média.

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A internet dá à classe média mais um canal de contato com os amigos e a família, principalmente por meio das redes sociais. Não raro, vemos pessoas mais maduras da classe média navegando e trocando informações por intermédio de perfis criados por seus filhos. Cresce o consumo de conteúdo sob demanda, pago ou gratuito. Em muitos casos, o uso da rede (e não a conversa telefônica) é a principal função de um smartphone – item que vem ganhando espaço na classe média. A internet já é uma importante ferramenta para o lazer e comunicação para esse público.

Acessar a rede também significa estar mais informado, com mais possibilidades de ampliar o repertório. A classe média busca tutoriais e notícias. Também está atenta a fontes alternativas de informação, faz comentários sobre empresas e produtos, busca e checa opiniões. Para esse público, a web é ferramenta até de mobilização, como aconteceu nas manifestações de junho do ano passado – 62% das pessoas souberam dos atos pelo Facebook e 29% por outros endereços digitais. Na hora de convocar pessoas para participar das manifestações, 75% disseram ter usado as redes sociais. Foi assim que o movimento ganhou força. Mais uma vez os jovens se sentiram protagonistas da história, como tem sido dentro de casa, ao introduzir o acesso à rede e propagar na família a importância dessa ferramenta. A democratização da internet, mesmo com todas as falhas e boatos da rede, traz uma importante ferramenta de pressão para a população: da denúncia do buraco na rua, ao compromisso dos governantes com a verdade.

* Renato Meirelles é presidente do Instituto Data Popular


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