Juan Carlos Onetti: o gênio improvável

Se estivesse vivo, o escritor uruguaio Juan Carlos Onetti teria completado 100 anos em julho deste ano. Morto em Madri, em 1994, Onetti, considerado o maior escritor uruguaio de todos os tempos, é um daqueles casos de escritores geniais, mas improváveis – ele não chegou sequer a completar o que hoje chamamos de Ensino Médio.

Isso não impediu que o autor escrevesse uma obra de importância imensurável. Para confirmar o valor de Onetti, Julio Cortázar, um dos mais admirados e talentosos escritores argentinos do século XX, certa vez disse que “Onetti é o maior romancista latino-americano”.
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Neste ano de centenário, o autor uruguaio ressurge nas livrarias em novas edições de três romances –A vida breve, O estaleiro e Junta-Cadáveres -, e em duas novelas até então inéditas no Brasil: O poço e Para uma tumba sem nome, reunidas em um único volume, pela Editora Planeta.

O poço foi o primeiro livro publicado pelo escritor uruguaio, em 1939. Para uma tumba sem nome, data de 1959. Entre os vinte anos que separam a gênese de uma e outra, está talvez a sua maior obra, A vida breve. Escritores não nascem prontos, mas em O poço já é possível notar as características que tornaram Onetti tão admirado: a narrativa cruel, o pessimismo, a confusão mental dos personagens, o fato de o autor mais sugerir do que mostrar (permitindo, quase obrigando, que o leitor complete a história, faça a sua própria história).

Em Para uma tumba sem nome, nota-se a evolução do escritor. Em O poço, o jovem Onetti parecia querer “aparecer” mais que o próprio texto; nessa segunda novela, o autor é mais discreto. Sua imaginação ganha mais liberdade e a narrativa é mais fluida, mais leve e não tão densa.

Em um determinado ponto de Para uma tumba sem nome, Onetti parece deixar um recado para seus leitores: “Não estou mandando que repare nisto ou naquilo; estou sugerindo, simplesmente. Quando lhe peço que repare em algo não o estou ajudando em nada a compreender a história; mas talvez essas sugestões sejam úteis para que se aproxime da minha compreensão da história, da minha história”. Utilizando um clichê, na literatura de Onetti nada é o que parece ser. Mas, ao contrário deste resenhista, Onetti desconhece o que é clichê.


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