Vai até o dia 23 deste mês de outubro o quarto maior acontecimento esportivo do mundo – em termos de audiência, assim como de paixão e de competitividade. Perde apenas para a Copa do Mundo de Futebol, para a Olimpíada e para a Tour de France de ciclismo.
Curiosamente, no Brasil ninguém está nem aí para o megaevento. Ou quase ninguém. O rugby é ainda tão ignorado aqui que a versão abrasileirada – rúgbi – não se aclimatou nem ao léxico.
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No entanto, a Copa do Mundo de Rugby – disputada de quatro em quatro anos, como a da FIFA – mobiliza multidões embandeiradas e torcidas eufóricas e francamente alcoolizadas, mesmo porque estão entre os melhores do esporte os ingleses, os escoceses, os galeses e os gauleses. Surpreendentemente, quem espera baderna e quebra-quebra vai se decepcionar. Nem sombra dos hooligans do futebol. Nada que lembre a Mancha Verde, a Gaviões da Fiel e a Independente do São Paulo.
A atual Copa está sendo disputada desde o dia 9 de setembro na Nova Zelândia. Vinte equipes iniciaram a competição, entre elas algumas surpresas: Portugal, Romênia, Itália. E os favoritos de sempre: África do Sul, atual campeã, Inglaterra, França, Irlanda e, claro, a Nova Zelândia.
Os All Blacks são, digamos, os canarinhos do rugby. Jogam que é uma beleza. Enchem os olhos de quem assiste. Como os brasileiros, têm mania de perder as decisões. A última vez que a Nova Zelândia venceu uma Copa do Mundo foi em 1987. Em casa, os All Blacks têm a chance da vida.
A Nova Zelândia é um país fascinante, conhecido pelo iatismo (maior média per capita de veleiros do mundo, maior até que a dos países escandinavos), pelos gloriosos vinhos Sauvignon Blanc, pela herança maori e por ter criado o bungee jump. Dos nativos, o rugby copiou o haka, a dança ritual que os All Blacks levaram para o gramado. Antes da competição, os times enfileirados no meio campo, os neozelandeses disparam a dança para afugentar os espíritos do mal – com o claro efeito de intimidar o adversário.
Nem todo mundo se assusta. Um dos mais lindos capítulos da história do rugby foi parar em Hollywood: o filme Invictus, dirigido por Clint Eastwood, rememora o mágico momento em que Nelson Mandela (Morgan Freeman) e o capitão François Pienaar (Matt Damon) se juntam para mobilizar brancos e negros na improvável vitória do time sul-africano na Copa do Mundo de 1995.
Tudo, no rugby, é ritualizado e disciplinado, inclusive a violência. Basta ver a torcida: homens, mas também mulheres e crianças, famílias inteiras, o que parece uma contradição perante a pancadaria que rola no gramado. Convém saber que, no rugby, o contato físico é real, às vezes sangrento, mas a violência gratuita é severamente punida. As regras são rigorosas, não há manha nem malandragem, a ética suplanta a ânsia sem limite de vencer. Dá até para, de repente, ver poesia em todo aquele agarra-agarra.
Mesmo naquele cenário que lembra gladiadores no Coliseu Romano, reinam o fair play e, acreditem, o cavalheirismo. Se houver dúvida, basta assistir à final dos combates, perdão, das partidas: o time perdedor se enfileira para aplaudir a passagem dos vencedores. Alguém imagina o Neymar e o Edu Dracena numa situação dessas?
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