“Kassab é um inepto!”

Alex Solnik – Já dizem que a derrota em São Paulo é o começo do fim do PSDB. Será?
José Aníbal –
O PSDB é um partido que tem ousadia. Pelo menos teve. Construiu esse projeto do Plano Real. Acho um bom documento político do ano passado no Brasil a carta que a presidenta Dilma escreveu ao presidente Fernando Henrique, quando do aniversário dele, reconhecendo méritos verdadeiros no governo dele. Deu rumo ao Brasil, acabou com a inflação… O ambiente de tolerância, de democracia etc., etc. O PSDB tem pela frente um desafio bom: o de se reconciliar com esse espírito de ousadia. Na criação, saímos do PMDB. E saímos do governo federal e estadual. Longe das benesses do poder, próximo ao pulsar das ruas – frase do Montoro, frase-símbolo. Governamos São Paulo há 18 anos, com aprovação, capacidade administrativa…

Alex Solnik – Eu diria 30 anos, de Franco Montoro até 2012.
José Aníbal –
Com dois intervalos: Quércia e Fleury.

Alex Solnik – Mas são da mesma família…
José Aníbal –
De qualquer forma, São Paulo como Estado está bem, é um Estado investidor. O governador está trabalhando forte, os projetos de mais longa maturação começam a aparecer. O partido teve essa recuperação, essa presença distinta, infelizmente não aconteceu o mesmo no Sul-Sudeste, mas nas capitais do Norte e Nordeste tivemos bons resultados. Aqui, tivemos capilaridade… Prefeito em Pelotas… Três das maiores cidades do Rio Grande do Sul têm prefeitos do PSDB… Também em Blumenau. Aqui, tivemos boas eleições. O fato é que essa foi a eleição mais plural do Brasil. Os prefeitos são de diferentes partidos.

Alex Solnik – O PSDB já perdeu muita eleição em São Paulo, mas a repercussão da derrota de José Serra foi desproporcional, parece que caiu uma bomba no partido. Por que o PSDB perdeu?
José Aníbal –
Acho que faltou ao PSDB entender bem o que ficou presente no movimento que levou às prévias da capital. O que ficou muito presente foi o desejo de mudança, de renovação, por parte de uma militância que é bem presente na vida das comunidades, em entidades, nos bairros. Esse resultado deixou claro que essa militância tinha a melhor sensibilidade, a de renovar. A de ser mais criativa na campanha. A de pensar a prefeitura mais próxima do cidadão. A atual prefeitura, a meu ver, é desastrosa!

Alex Solnik – Por  isso era uma eleição difícil para o PSDB. José Serra ou o senhor seriam o candidato da situação.
José Aníbal –
Eu não! Não seria jamais candidato da situação! Nunca! Se tivesse sido candidato, jamais comporia com Kassab! Kassab é um desastre em matéria de gestão, pior que o Pitta! (Celso Pitta foi prefeito de São Paulo entre 1996 e 2000, com o pior índice de reprovação de todos os tempos: 81%.)

Alex Solnik – Vieram ambos do mesmo ninho, afinal…
José Aníbal –
Com mais recursos. Com mais possibilidades, ele fez uma administração, a meu ver, pior.

Alex Solnik – As pesquisas mostram que a rejeição de Kassab é grande.
José Aníbal –
Ele fechou completamente o diálogo da prefeitura com a cidade. As subprefeituras foram esvaziadas totalmente, ele concentrou tudo no Anhangabaú (a sede do governo), não sei com que propósito, porque para melhorar as políticas públicas não foi. Piorou todas! Então, foi um erro, um equívoco essa aliança preferencial com Kassab.

Alex Solnik – A eleição para prefeito, acho, tem diferenças em relação à de governador ou presidente. O prefeito está próximo do cidadão, que vê o que ele deixou de fazer na sua rua. Eleição municipal não se disputa mais na periferia do que na televisão?
José Aníbal –
Vou te dar um exemplo: Ferraz de Vasconcelos. Fui lá na semana da eleição apoiar um candidato nosso, chamado Filó, com vice do PMDB,  Izidro. Ele fez um panfleto em que aparece com Geraldo Alckmin, e o vice dele, com Michel Temer. E no panfleto ele pôs: “Eu vou trazer uma UPA e uma AME”. Falei para umas 300 ou 400 pessoas: “Olha, é importante que o Filó seja o prefeito de Ferraz de Vasconcelos porque ele não tem viseira, está pensando em Ferraz de Vasconcelos inteira quando faz essa proposta. Ele vai ao governo federal buscar uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento), com Dilma, Michel Temer, e aqui ele vai com Geraldo Alckmin e eu vou ajudá-lo a trazer uma AME”. A população quer isso. Ela quer do prefeito que ele se concentre na cidade. O atual prefeito de São Paulo ficou fazendo politicagem. Dois, três anos de mandato, fazendo um partido, sabe Deus como! Isso aí penalizou fortemente a nossa candidatura.

Alex Solnik – O candidato José Serra ficou sem discurso. Apesar de ter criado o Kassab, nessa eleição o tucano foi o candidato dele. Havia como falar mal do prefeito?
José Aníbal –
Isso criou constrangimentos para ele, limitações. Mas também teve esse outro fator, ele não conseguiu mobilizar. Não só o partido, não conseguiu mobilizar os simpatizantes do PSDB. Infelizmente, foi isso. Foi uma eleição em que se teve 30% dos votos perdidos, 20% de abstenção e 10% de nulo e branco. Trinta por cento de oito milhões e meio, são dois milhões e meio de eleitores. Tudo bem, tem méritos o prefeito eleito, mas acho que foi mais uma derrota nossa.

Alex Solnik – Na sua opinião, essa derrota foi uma vitória para Kassab?
José Aníbal –
Kassab faz qualquer coisa em política. Ele hoje está aqui, amanhã está ali. Ele é um jogador da política. Então, é muito provável que ele não esteja insatisfeito com o resultado. Tem gente até que, de forma grosseira, diz que ele, no fundo, estimulou essa aliança preferencial do Serra com ele para jogar o ônus da má avaliação dele em cima do Serra.

Alex Solnik – Kassab entregou a bancada ao prefeito eleito, Fernando Haddad, do PT, de mão beijada?
José Aníbal –
 Kassab não tem pejo, não tem eira nem beira. Os valores dele em política são zero. Ele é um jogador.

Alex Solnik – Para Kassab, Serra não era mais o alvo? Para ele, o alvo seria a presidenta Dilma Rousseff?
José Aníbal –
 O futuro dele é o poder, onde estiver o poder. Ele tem alucinação pelo poder! Isso não está ligado a política pública alguma, atenção alguma à população. Esse inepto não conseguiu fazer um ato importante, uma iniciativa importante em seis anos e meio para consolidar São Paulo como uma cidade mundial. Ficou mentindo sobre aquele Piritubão que nunca saiu. E, no entanto, neste ano adicionou R$ 200 milhões à varrição das ruas, 30 dias após a publicação do orçamento. Já tinha 450, ele pôs mais 200 milhões. Meu Deus! Tirando dinheiro das subprefeituras… Uma administração ruinosa, indefensável! Sob qualquer ponto de vista. Prometeu três hospitais… Isso é uma falta de respeito com a cidade! Prometeu três e não fez nenhum! As obras que cabem à prefeitura no calendário da Copa do Mundo estão todas atrasadas. O governo do Estado está tendo de correr para compensar. Ele disse que o problema das creches em São Paulo só vai se resolver em 2020. É porque ele é um inepto!

Alex Solnik – Em 2014, como vai ser? Há quem diga até que o ex-presidente Lula vai se candidatar a governador de São Paulo para desalojar os tucanos depois de todos esses anos no poder. O senhor acredita nessa possibilidade?
José Aníbal –
Muita gente está dizendo isso…

Alex Solnik – O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, deverá ser candidato à reeleição… O senhor pretende disputar a Prefeitura de São Paulo em 2016?
José Aníbal –
O governador certamente vai ser candidato à reeleição.

Alex Solnik – Como Alckmin é muito mais bem avaliado que Kassab, isso aumentaria a motivação de Lula para não escalar ninguém e entrar ele mesmo na disputa. O senhor não acha que poderia ser esse o plano do ex-presidente?
José Aníbal –
Pode ser.


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